Segurança
Cabo de guerra: sinais crescentes de cooperação russo-chinesa em sabotagens marítimas
Rússia e China podem estar colaborando na sabotagem de cabos submarinos, com mais de uma dezena de incidentes suspeitos desde 2023. Na América Latina, as ameaças são crescentes e os backups limitados, tornando a segurança mais urgente do que nunca.
![Captura de tela de um vídeo do navio de carga ligado à China Shunxing 39 no mar divulgada em 3 de janeiro. Nesta data, a guarda costeira de Taiwan descobriu cabos danificados ao norte de Yehliu; o navio registrado em Hong Kong fugiu do local após supostamente embaralhar os sinais do transponder. [Guarda Costeira de Taiwan via AFP]](/gc4/images/2025/05/02/50262-ship_taiwan-600_384.webp)
Por Tony Wesolowsky |
Moscou e Pequim aparentemente estão intensificando a coordenação em operações secretas de sabotagem marítima, visando cabos submarinos essenciais para as comunicações globais em uma campanha que se estende desde o Mar Báltico até as águas em torno de Taiwan, dizem analistas.
Uma série de incidentes recentes – muitos dos quais envolvendo embarcações ligadas à China e à Russia – gerou preocupações de que as duas potências estão cada vez mais dispostas a trabalharem em conjunto para prejudicar infraestruturas essenciais como parte de uma estratégia mais ampla de guerra híbrida.
Pelo menos 11 incidentes de danos a cabos no Mar Báltico e ao redor de Taiwan foram relatados desde 2023, de acordo com autoridades europeias e taiwanesas, informou a Associated Press em 28 de janeiro. Embora alguns tenham sido atribuídos a acidentes, muitos indicam marcas de sabotagem deliberada.
"Esta série de incidentes sugere uma disposição crescente por parte de Moscou e Pequim para colaborarem em operações de sabotagem marítima", disse John Dotson, vice-diretor do Global Taiwan Institute, em um artigo publicado em fevereiro no site da Fundação Jamestown, think tank com sede nos EUA que estuda a segurança da Eurásia.
Série de incidentes suspeitos
Tanto Moscou quanto Pequim negam envolvimento em quaisquer incidentes com cabos, mas analistas dizem que as evidências sugerem cada vez mais um esforço coordenado – especialmente em razão das semelhanças impressionantes entre as táticas utilizadas em ambas as regiões.
Em 3 de janeiro, a guarda costeira de Taiwan descobriu cabos danificados a nordeste de Yehliu. A suspeita é de que um navio registrado em Hong Kong, o Shunxing 39, tenha causado os danos. A embarcação fugiu do local após supostamente embaralhar os sinais do transponder.
De dezembro a janeiro, o Vasily Shukshin, navio com bandeira de Belize e operado pela Rússia, permaneceu na costa sul de Taiwan por quase um mês sem qualquer atividade comercial clara.
Esses foram apenas os mais recentes de uma lista crescente de incidentes suspeitos. Em 2023, navios chineses romperam dois cabos submarinos que ligavam Taiwan às Ilhas Matsu. Entre 2018 e o início de 2023, as autoridades taiwanesas registraram pelo menos 20 casos semelhantes.
O investimento chinês em pesquisa para o corte de cabos submarinos remonta a pelo menos 2009, de acordo com uma reportagem da Newsweek publicada em 10 de janeiro.
A campanha de guerra híbrida da Rússia
Táticas semelhantes surgiram no Mar Báltico, onde navios ligados à "frota das sombras" da Rússia foram implicados em danos à infraestrutura submarina. Os navios teriam arrastado âncoras através de rotas de cabos ou permanecido sem justificativa clara em áreas com grande concentração destes fios.
Autoridades alertam que o Kremlin está abrindo uma nova frente em sua campanha de guerra híbrida.
“Estamos testemunhando… [uma] nova realidade”, disse o ministro da Energia da Lituânia, Žygimantas Vaičiūnas, à revista POLITICO em uma reportagem de 7 de abril, citando um aumento na atividade marítima suspeita que ameaça a estabilidade econômica na região.
Os navios russos e chineses usam táticas comparáveis em ambas as regiões, o que sugere um alinhamento operacional crescente, afirmam observadores.
Para combater essas ameaças, a OTAN lançou em janeiro a iniciativa “Sentinela do Báltico” para reforçar a vigilância marítima.
“Estamos profundamente preocupados com as ações, sejam elas negligentes ou maliciosas, que causam danos ou ameaçam o funcionamento de infraestruturas submarinas essenciais. Condenamos veementemente os atos de sabotagem a infraestruturas submarinas essenciais”, afirmaram os aliados da OTAN em uma declaração conjunta divulgada em 14 de janeiro.
O Mar Báltico oferece um ambiente perfeito para sabotagem, segundo analistas.
De acordo com a plataforma marítima de inteligência artificial Windward, o Mar Báltico “tem pontos de estrangulamento para onde convergem os cabos, aumentando a sua suscetibilidade a danos ou sabotagem”.
Em 2023, a Recorded Future, empresa de segurança cibernética sediada nos EUA, alertou sobre o crescente interesse da Rússia em mapear rotas de cabos submarinos, “muito provavelmente para potencial sabotagem ou perturbação”.
Segurança de cabos submarinos na América Latina
A América Latina tem algumas vantagens comparativas no que diz respeito à segurança dos seus cabos submarinos. As águas profundas da região e a distância entre as rotas de cabos e os principais nós reduzem o risco de sabotagem. Muitos pontos de desembarque estão situados em áreas marítimas de baixo tráfego com leito suavemente inclinado, posicionamento que facilita o enterramento de cabos e acrescenta uma camada de proteção.
No entanto, a região tem também importantes vulnerabilidades – a principal delas é a redundância limitada. Com relativamente poucas rotas alternativas, um único corte de cabo pode perturbar significativamente as comunicações. Essa situação frágil torna a proteção dessas infraestruturas não só essencial, mas cada vez mais complexa, especialmente em um contexto de tensões geopolíticas crescentes.
As ameaças vão desde danos acidentais (como âncoras de navios) e desastres naturais (como terremotos ou tufões) até riscos mais sofisticados, incluindo sabotagem, espionagem durante operações de reparação e tecnologias emergentes capazes de cortar cabos em profundidades extremas, especialmente aquelas ligadas à China.
Embora os dados sejam normalmente criptografados, a integridade física dos cabos permanece fundamental.