Por AFP | 2024-12-09

Um fino cordão detonador serpenteia em direção a uma mina ilegal de ouro esculpida na encosta de uma montanha perto da cidade colombiana de Cali. Com um barulho estrondoso, a explosão destrói uma fonte lucrativa de renda para grupos armados, incluindo rebeldes esquerdistas ligados ao narcotráfico.

A explosão derruba as paredes de um túnel que leva ao poço no Parque Nacional Farallones, que abrange um trecho dos Andes que passa nos arredores da terceira maior cidade da Colômbia.

A entrada agora está bloqueada por toneladas de entulho, deixando a mina fora de operação.

Os engenheiros, policiais e autoridades municipais designados para desmontar a mina levaram 10 horas para chegar até o local, escavado pelos trabalhadores a uma altitude de 3.400 metros.

Mineiros ilegais sob o controle de grupos criminosos locais e rebeldes esquerdistas operam minas como esta há décadas nas montanhas cobertas de névoa.

Para isolar o ouro, eles usam mercúrio, um metal líquido tóxico que polui a água usada em Cali, lar de 2,2 milhões de habitantes.

"Todo esse mercúrio vai para o solo" e acaba nos rios que abastecem a cidade com água potável, apontou o engenheiro-chefe da operação de detonação, que por razões de segurança não quis se identificar.

A AFP acompanhou a equipe de detonação em uma escalada de três dias nas montanhas, com mulas carregando o equipamento.

O governo estima que 85% do ouro que a Colômbia exporta vem de minas não licenciadas.

As minas legais produziram pelo menos 248 toneladas de ouro de 2017 a 2022, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).

Na região de Cali, o trabalho extenuante e congelante de escalar uma montanha para escavar ouro é feito por moradores locais empregados por grupos criminosos.

Estes, por sua vez, pagam um imposto aos rebeldes que formaram grupos renegados, ramificações do antigo exército de guerrilha conhecido como Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que depôs suas armas sob um acordo de paz histórico em 2016, após décadas de combate.

Esses dissidentes das FARC administram uma grande rede de minas ilegais que se estendem além da região de Cali.

Trabalho na altitude

Enquanto os engenheiros se preparam para detonar a explosão com uma grossa fileira de cabos vermelhos, policiais armados com rifles e máscaras de gás os protegem.

Os explosivos foram levados ao local por helicóptero.

Um homem toca a sirene para avisar que uma explosão está próxima, outro ativa o detonador que desencadeia a explosão e forma uma nuvem de fumaça branca.

Enquanto acampam à noite, os membros da equipe veem à distância as luzes de Cali, que sediou uma conferência da ONU sobre biodiversidade em outubro e novembro.

Missões como esta para eliminar minas não autorizadas se intensificaram nos últimos meses.

O vice-secretário de segurança de Cali, Álvaro Pretel, informou que as equipes destruíram 11 minas em pleno funcionamento e outras 27 que estavam em processo de escavação.

A mina que a AFP viu destruída não estava mais ativa, pois os mineiros a abandonaram sob pressão das autoridades.

Água e mercúrio

Este local específico no alto das montanhas é a nascente de sete rios que abastecem a cidade com água, ressaltou Pretel.

E, só no ano passado, quase uma tonelada de mercúrio foi usada nas minas fora de Cali, acrescentou ele.

O metal brilhante e perigoso, "mais cedo ou mais tarde, acaba na água potável do povo de Cali", alertou Pretel.

A agência governamental que supervisiona os parques nacionais da Colômbia encontrou cerca de 420 fossos de escavação no parque Farallones em 2019, salientou o vice-secretário.

Em 2022, a ONU anunciou ter detectado 69.000 hectares de terra na Colômbia onde havia mineração ilegal de ouro.

Em maio, autoridades disseram ter encontrado níveis excessivos de mercúrio e arsênico — que também é usado na mineração de ouro — perto de um aqueduto que leva à cidade.

A mineração ilegal pode ser ainda mais lucrativa do que o tráfico de cocaína, dizem analistas.

As autoridades já encontraram minas com até 1.000 mineiros trabalhando, que atiraram projéteis enquanto a polícia tentava entrar e encerrar a operação, revela Gustavo Escobar, diretor de uma unidade policial encarregada de combater a mineração ilegal.