Ambiente
Crise de inundações em cidade boliviana se agrava à medida que empresas de mineração chinesas abandonam poços tóxicos
Poços cheios de resíduos deixados pelas empresas de mineração provocaram uma das piores enchentes da história em um município, e os moradores ainda lutam para sobreviver em casas inundadas.
![Poços de água poluídos deixados por empresas e cooperativas de mineração chinesas e bolivianas no município amazônico de Tipuani. [Facebook Somos Tipuaneños]](/gc4/images/2025/02/06/49056-gold1-600_384.webp)
Por Aurora Lane |
LA PAZ – Já se passou um mês desde que o município boliviano de Tipuani sofreu a pior inundação de que se tem registro. Embora chuvas fortes e rios transbordando fossem comuns na região, a chegada de empresas de mineração chinesas piorou a situação, e ainda há cerca de 150 casas submersas.
"Ainda estamos inundados", disse o prefeito de Tipuani, Fernando Vera Chambi, ao Entorno, atribuindo grande parte do desastre às cooperativas e empresas de mineração estrangeiras que operam na região, um dos maiores polos de ouro da Bolívia.
"A responsabilidade das obras de mineração foi vista. São empresas chinesas, embora também haja investimentos nacionais", acrescentou.
Tipuani, situada onde as montanhas fazem a transição para a Floresta Amazônica no norte do departamento de La Paz, é há muito tempo um centro de mineração.
![Moradores de Tipuani continuam lutando pela sobrevivência em meio à água contaminada e a casas inundadas. [Cortesia de Claudia Pérez]](/gc4/images/2025/02/06/49058-gold3-600_384.webp)
![Poços de água contaminada deixados por empresas e cooperativas de mineração chinesas e bolivianas no município amazônico de Tipuani. [Cortesia de Claudia Pérez]](/gc4/images/2025/02/06/49057-gold2-600_384.webp)
No entanto, a frágil fiscalização estatal permite que empresas e cooperativas abandonem os locais após extrair todo o lucro possível. Elas deixam para trás enormes poços cheios de água contaminada.
Durante a estação chuvosa, esses poços transbordam e enviam torrentes de água para áreas urbanas. Neste ano, as consequências foram devastadoras — 250 famílias foram afetadas e 150 casas foram inundadas, de acordo com moradores.
Inicialmente, foi construído um muro de proteção contra o transbordamento do Rio Tipuani, disse Claudia Pérez, executiva da Federação de Comunidades Interculturais de Tipuani e vítima da enchente, ao Entorno.
A verdadeira ameaça não era o rio, mas sim os enormes poços cheios de água deixados para trás pelas operações de mineração.
"O maior problema são as poças que deixaram ali, as infiltrações dessas lagoas deixadas pelas cooperativas e empresas (mineradoras). Pedimos que essa questão fosse controlada, mas eles se aproveitaram da boa fé dos moradores, entraram e saíram sem nenhuma responsabilidade social, sem ver a tragédia que seria gerada depois de terem trabalhado", disse Pérez.
Crise dos resíduos de mineração
Outra moradora afetada, Julieta Díaz, acusou mineradoras chinesas envolvidas em práticas irresponsáveis.
"As empresas chinesas chegam, começam a cavar e lavar a terra, daí sai o ouro. A cada 15 dias eles lavam e a cada 15 dias fazem o cálculo de quanto ouro extraíram", disse Díaz.
Essas empresas abandonam as minas depois de extrair todo o ouro, afirmou.
"Eles fazem buracos e depois, quando veem que não tem mais ouro, deixam assim, um buraco, como uma piscina enorme, e essas águas contêm produtos químicos", disse ela ao Entorno.
Fortes chuvas castigam a região desde o fim de dezembro, mas a crise se agravou em 6 de janeiro, quando o rio Tipuani subiu mais de seis metros — um aumento de nível atribuído em grande parte aos resíduos de mineração despejados no curso d'água.
"O maior problema é a elevação do agregado de areia do nosso rio. De 2021 até hoje, a vazão aumentou cerca de seis metros e meio, o que afeta gravemente todas as cidades vizinhas ao rio Tipuani", disse a prefeita Chambi.
As empresas de mineração descartam areia e detritos diretamente no rio, o que pode levar ao acúmulo de sedimentos perigosos, afirmou.
Desestabilizando o equilíbrio ecológico
As enchentes não devastaram apenas Tipuani, mas afetaram também cidades próximas como Quime e Guanay.
Embora as fortes chuvas tenham desempenhado um papel importante, a atividade de mineração alterou significativamente o curso natural dos rios e agravou o desastre.
Tanto as operações legais de mineração de ouro quanto as ilegais desviaram afluentes para expandir suas atividades, contribuindo para transbordamentos de rios e inundações generalizadas, explicou Alfredo Zaconeta, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Trabalhista e Agrário (CEDLA).
"Com o esgotamento de certas áreas de mineração, as operações estão migrando... primeiro desmatam para assentar e depois desviam o leito do rio para continuar a escavação", disse Zaconeta ao Entorno.
Além de causar desmatamento e destruição do ecossistema, a mineração contaminou fontes de água locais com mercúrio e combustível.
Essas perturbações na geografia natural impactaram o equilíbrio ecológico, tornando as inundações extremas mais frequentes e severas, disse Zaconeta.