Crime e Justiça
Cidadãos chineses são presos ao prejudicar a Amazônia boliviana com mineração ilegal
Empresas de mineração chinesas que atuam na Bolívia sob o disfarce de cooperativas locais estão causando um enorme impacto ao meio ambiente e à saúde de comunidades indígenas.
![Forças conjuntas da Marinha, da Polícia e da Autoridade Jurisdicional Administrativa de Mineração (AJAM) detiveram dois cidadãos chineses que extraíam ilegalmente ouro em áreas de proteção na Floresta Amazônica. A operação foi realizada em 23 de agosto no Rio Kaka de Teoponte, no Departamento de Beni. [Agência de Informação Boliviana]](/gc4/images/2023/08/30/43714-bolivia_mineria1-600_384.webp)
Por Aurora Lane |
LA PAZ -- Dois cidadãos chineses receberam ordem de prisão preventiva de um tribunal boliviano após serem detidos junto com quatro bolivianos em uma operação contra a mineração ilegal de ouro na Floresta Amazônica. O promotor do Departamento de Beni, Gerardo Balderas, anunciou a decisão.
A prisão ocorreu em 23 de agosto às margens do Rio Kaka de Teoponte, na Amazônia Boliviana.
A operação contra a mineração ilegal foi realizada por uma força conjunta da polícia, de militares boliviano, da Autoridade Jurisdicional Administrativa de Mineração (AJAM) e do grupo Central dos Povos Indígenas de La Paz (CPILAP).
No sábado, 26 de agosto, o Tribunal de Investigação Criminal Pública de Rurrenabaque, no Departamento de Beni, ordenou a prisão preventiva de dois cidadãos chineses durante a audiência de medidas cautelares.
![Dois cidadãos chineses e quatro bolivianos foram detidos na Bolívia por suposta atividade de mineração ilegal na Floresta Amazônica. [Ministério de Governo da Bolívia]](/gc4/images/2023/08/30/43723-boliviamina-600_384.webp)
"A Promotoria Pública tem evidências suficientes de que os cidadão chineses Jianming Y. e Zhanxin L., de 48 e 50 anos de idade, respectivamente, são os prováveis autores do crime de exploração de recursos minerais", disse Balderas.
A autoridade acrescentou que os dois estrangeiros serão transferidos para a prisão San Pedro de La Paz, já que não comprovaram a autorização para executar a mineração na Bolívia.
Os quatro bolivianos presos são acusados do mesmo crime.
"Os seis acusados foram presos em flagrante em dois lugares diferentes enquanto extraíam ouro. Na audiência, o promotor apresentou todas as evidências coletadas durante a investigação preliminar, inclusive o relatório de Ação Direta, a gravação da cena do crime e dos materiais apreendidos", acrescentou o promotor regional.
O promotor designado para o caso, Víctor Hugo Porcel, disse que dois cidadão chineses foram encontrados no Rio Kaka de Teoponte, onde extaraíam ilegalmente ouro. Eles estavam em um local chamado Arco Iris I, uma área protegida onde a mineração é proibida.
Prática ilegal
O AJAM emitiu um comunicado, em 24 de agosto, observando que foram encontrados diversos pontos ao longo de vários rios da Amazônia onde cooperativas e mineradores artesanais subcontrataram seus direitos de mineração a estrangeiros.
Essa prática é ilegal e o AJAM está trabalhando na investigação dos responsáveis, disse o comunicado, segundo a Associated Press.
Várias empresas chinesas atuam nos territórios indígenas bolivianos sob o disfarce de cooperativas de mineração locais, mas seu impacto no meio ambiente e na saúde das comunidades têm sido devastadores.
Um estudo publicado em junho passado pela CPILAP revelou que várias minas de ouro ao norte da capital boliviana são controladas por cooperativas locais que cedem seus nomes para as empresas chinesas.
As empresas chinesas então se aproveitam desse negócio para pagar menos impostos e outros direitos, pois são consideradas empresas locais.
A CPILAP descobriu que centenas de moradores das 36 comunidades têm sido cronicamente "envenenados" com o mercúrio usado nas extrações de ouro realizadas pelas empresas chinesas, legal e ilegalmente, nos rios amazônicos.
As principais consequências da poluição por mercúrio na bacia têm sido nascimentos prematuros múltiplos, deformidades congênitas, dificuldade de aprendizado, tremores e problemas no sistema nervoso, entre outras patologias.
Peixe contaminado
Para a investigação, os trabalhadores retiraram amostras de cabelos de 302 membros das tribos indígenas Tsimanes, Mosetenes, Uchupiamanas, Lecos, Esse Ejjas e Tacanas. Amostras de água também foram extraídas da bacia do Rio Beni River e seus afluentes Tuichi, Quiquibey, Tequeje e Madre de Dios.
Os estudos concluíram que 74,5% dos sujeitos avaliados tinham altos níveis de mercúrio perigosos que excediam o limite permitido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Desde o ano passado, os povos amazônicos da Bolívia conclama repetidamente o governo de Luis Arce a parar ou ao menos regular a atividade das empresas de mineração chinesas e seu amplo uso de mercúrio. Porém, ainda não receberam nenhuma resposta.
A China está se aproveitando de uma falta de regulações locais para extrair ouro legal e ilegalmente na América do Sul, segundo vários especialistas na área que falaram em uma reunião internacional organizada em Brasília em meados de junho, segundo o jornal Los Tiempos, da cidade boliviana de Cochabamba.
Segundo a reportagem, analistas estão convencidos de que Pequim está financiando atividades de extração na América do Sul e África, onde o ouro é extraído legal e ilegalmente. O metal é, então, enviado para a China, que o armazena para o caso de enfrentar sanções financeiras potenciais durante conflitos.
Apesar das repetidas reclamações apresentadas na mídia, essas atividades ilegais seguem inabaladas em vários países vizinhos.
Governos da América Latina têm sido relutantes em reprimir a mineração ilegal de empresas chinesas, pois temem que, ao fazê-lo, irritariam o governo chinês e colocariam em risco o comércio.
Esse acanhamento permitiu que consequências devastadoras ao meio ambiente e à saúde das comunidades locais continuassem.