Ambiente

Dragagens de ouro chinesas deixam mais de 40.000 hectares da Amazônia boliviana em ruínas

Empresas chinesas exploram clandestinamente ouro ao operar com cooperativas de mineração bolivianas, burlando royalties estatais e desconsiderando benefícios comunitários.

Empresa de dragagem chinesa é vista extraindo sedimentos como parte de uma operação de mineração de ouro às margens do Rio Kaka, na floresta amazônica boliviana. [Environmental News Agency]
Empresa de dragagem chinesa é vista extraindo sedimentos como parte de uma operação de mineração de ouro às margens do Rio Kaka, na floresta amazônica boliviana. [Environmental News Agency]

Por Aurora Lane |

LA PAZ -- Empreendedores chineses chegaram à Bolívia em 2018, trazendo seu maquinário para a prospecção de ouro. Cinco anos depois, com resultado de práticas enganosas e da exploração de áreas protegidas, mais de 43.000 hectares da Amazônia boliviana estão devastados.

Um relatório investigativo da Agência Nacional do Ambiente (ANA) da Bolívia, publicado em 28 de setembro, expôs a destruição alarmante que ocorre ao longo das margens do Rio Kaka, no Departamento de La Paz, uma parte crucial da Amazônia.

Há cinco anos, a Bolívia declarou a mineração como uma atividade ilegal nesse afluente do Rio Beni que é formado pela confluência dos Rios Mapiri e Atén.

No entanto, licenças que cobrem um total de 1.722 redes – as unidades de medida para concessões de minas na Bolívia, cada uma abrangendo 25 hectares –, foram liberadas pela Autoridade Jurisdicional Administrativa Mineira (AJAM).

Maquinário pesado avança em partes da floresta amazônica boliviana, áreas que vêm sendo exploradas para a mineração de ouro. [Environmental News Agency]
Maquinário pesado avança em partes da floresta amazônica boliviana, áreas que vêm sendo exploradas para a mineração de ouro. [Environmental News Agency]

Para extrair o ouro, as empresas chinesas formam parcerias com cooperativas locais por meio de acordos internos, conhecidos como contratos de prestação de serviços. Esses contratos permitem aos estrangeiros explorar os minérios em redes que a AJAM originalmente concedia aos membros de cooperativas bolivianas.

Contaminação de mercúrio

Sob esse acordo, os chineses pagam royalties reduzidos ao governo boliviano e repassam um pequeno percentual, normalmente de 25% a 30%, aos moradores locais, enquanto ficam com a maior parte, de acordo com o relatório da ANA.

"Existem cooperativas estabelecidas pertencentes a bolivianos, incluindo moradores de Mayaya, para que eles [os chineses] explorem os recursos por essas cooperativas", disse Hilarión Mamani, vice-prefeito de Mayaya, em entrevista a um veículo de mídia independente.

Segundo o relatório investigativo, as operações de dragagem contaminaram fortemente os rios com mercúrio, que se transforma em metilmercúrio. A substância tóxica envenena os peixes, um alimento básico para a população indígena que vive nas terras baixas ao norte de La Paz.

Além disso, as operações resultam em um grande desmatamento, provocando o deslocamento de animais selvagens, comunidades indígenas e camponeses. A presença das máquinas de dragagem próximo às margens do rio contribui para deslizamentos de terra e invasões de áreas usadas para a agricultura comunitária, levando à perda de áreas agrícolas vitais.

"As margens do rio com praias se tornaram zonas de garimpo de ouro, resultando em uma considerável degradação do solo", disse Mamani.

Mineração ilegal

Durante um expedição de barco de Rurrenabaque, em Beni, ao município vizinho de Teoponte, que inclui parques nacionais, reservas indígenas e áreas ecologicamente sensíveis, a ANA rastreou mais de 40 zonas de exploração de ouro.

Nessas áreas, há uma presença significativa da mineração ilegal, com a identificação de mais de 20 dragas chinesas.

O veículo de mídia fez várias tentativas de obter uma resposta das autoridades governamentais, especialmente a AJAM, mas não teve retorno. No entanto, após a publicação do relatório, a AJAM exigiu que a ANA revelasse todas as fontes usadas na elaboração do relatório. A divulgação violaria as leis bolivianas relacionadas à proteção e confidencialidade de fontes jornalísticas.

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