Economia

Gigante da mineração chinesa assume controle total de projeto colombiano polêmico

Aquisição pela empresa de mineração chinesa desencadeia batalhas jurídicas e resistência local frente a danos ambientais, deslocamento e ameaças às comunidades indígenas e artesanais em uma região historicamente violenta.

Polícia colombiana patrulha a mina El Alacrán, no noroeste da Colômbia, após confrontos ocorridos em março de 2021 entre indígenas Zenú e mineiros artesanais que protestavam contra a proibição da exploração de depósitos de cobre e ouro. [Polícia da Colômbia]
Polícia colombiana patrulha a mina El Alacrán, no noroeste da Colômbia, após confrontos ocorridos em março de 2021 entre indígenas Zenú e mineiros artesanais que protestavam contra a proibição da exploração de depósitos de cobre e ouro. [Polícia da Colômbia]

Por Giselle Alzate |

BOGOTÁ – A JCHX Mining Management Co., empresa chinesa muito criticada por violações de direitos trabalhistas, assumiu o controle total do projeto de cobre e ouro El Alacrán, na zona rural de Puerto Libertador, no noroeste da Colômbia.

A empresa, que já detinha uma participação de 50% no empreendimento, anunciou em 8 de maio em Pequim que havia adquirido a metade restante da Cordoba Minerals Corp., empresa canadense de exploração mineral.

A JCHX concordou em pagar até US$ 128 milhões pela propriedade total da mina. O investimento total no projeto pode chegar a US$ 400 milhões, o que tornaria El Alacrán a maior mina de cobre da Colômbia quando entrar em operação, em 2026.

A produção anual chegará a 450 toneladas de cobre, 700 onças de ouro e 6 milhões de onças de prata, projetam observadores da indústria de mineração.

Tensões sobre El Alacrán

A região ao redor da mina El Alacrán, no departamento de Córdoba, sofre há muito tempo com violência, deslocamentos e conflitos de terras não resolvidas. Os mineiros artesanais, muitos dos quais vivem no local há gerações, continuam exigindo reconhecimento e acesso ao território de mineração agora sob controle da JCHX.

Ao longo de décadas, grupos guerrilheiros, redes paramilitares e do crime organizado lutaram pelo controle dessa zona rica em minerais, deixando comunidades presas em ciclos de conflito. Muitos moradores recorreram à mineração artesanal como meio de sobrevivência.

Hoje, mineiros locais contestam os títulos de mineração concedidos à JCHX, alegando que o Estado ignorou seus direitos históricos. Organizações internacionais e tribunais têm instigado repetidamente as autoridades colombianas a reconhecer os laços ancestrais dessas comunidades com a terra e a conceder-lhes a propriedade legal.

A JCHX Mining Management Co., empresa chinesa que agora expande suas operações na Colômbia, tem um histórico preocupante de violações de direitos trabalhistas na Zâmbia, onde opera há anos.

Em 2011, a Human Rights Watch documentou abusos generalizados em minas administradas por empresas chinesas, incluindo a JCHX. Trabalhadores zambianos descreveram condições de trabalho exploratórias que não atendiam nem às leis locais nem às normas trabalhistas internacionais.

O relatório destacou práticas precárias de saúde e segurança, jornadas de trabalho excessivas e falta de equipamentos de proteção adequados. Muitos trabalhadores relataram ameaças de demissão caso se recusassem a trabalhar em condições inseguras. Lesões eram comuns, mas muitas vezes não eram notificadas.

Comunidades enfrentam ameaças ambientais

Embora as violações trabalhistas tenham definido a controvérsia em torno da JCHX, novas preocupações agora se concentram nos danos ambientais e no deslocamento forçado que seu projeto de mineração poderia causar ao departamento de Córdoba, onde comunidades indígenas e rurais já enfrentam ameaças crescentes.

Defensores ambientais e moradores próximos à mina El Alacrán alertam que a mineração industrial pode agravar o desmatamento, contaminar fontes de água e deslocar comunidades locais que dependem da mineração artesanal.

"As licenças concedidas para a construção de um projeto de mineração industrial no norte da Colômbia estão gerando preocupações entre moradores e conservacionistas, que dizem que podem perder alimentos e água potável devido à poluição desregulamentada, o que os levará a se mudar para outras partes do país", informou o portal de notícias ambientais Mongabay em setembro passado.

As operações de mineração já desviaram rios e córregos e liberaram mercúrio, usado na extração de minerais, em águas próximas, dizem moradores locais. As populações de peixes, incluindo o bocachico (Prochilodus magdalenae), diminuíram, ameaçando os meios de subsistência dos pequenos pescadores.

Sem água limpa ou fontes confiáveis ​​de alimento, os críticos argumentam que as famílias serão forçadas a partir. "Essas comunidades vão desaparecer. E vão desaparecer com pouquíssimos recursos", disse o ativista dos direitos humanos Adadier Perdomo ao Mongabay.

Desde 2015, diversas ações judiciais acusam o projeto El Alacrán de violar os direitos de comunidades indígenas e tradicionais. Apesar desses esforços, as operações de mineração avançaram, intensificando as tensões entre mineiros artesanais e autoridades.

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