Segurança
Destruição dos S-300 do Irã pode desencorajar clientes de armas da Rússia
Aliados de Moscou contam com sistemas S-300, embora suas vulnerabilidades sejam agora evidentes. Mas, na Venezuela, a negligência, o mau planejamento e os recursos limitados deixaram estes sistemas operando abaixo dos níveis ideais.
![S-300 em parada militar em Moscou, em 2009. [Vitaly Kuzmin]](/gc4/images/2024/11/08/48087-s-300-600_384.webp)
Por Entorno e AFP |
A destruição dos sistemas de defesa aérea S-300 de fabricação russa do Irã por ataques israelenses é o mais recente sinal de que o equipamento militar tem um desempenho fraco na vida real, longe das exposições de armas.
Israel bombardeou várias instalações militares no Irã em 26 de outubro, marcando os mais recentes disparos de um conflito que se arrasta há meses.
Os ataques "atingiram as capacidades de defesa e a produção de mísseis do Irã", afirmou mais tarde o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
A ofensiva de Israel foi uma retaliação pelo ataque do Irã em 1º de outubro, quando Teerã disparou cerca de 200 mísseis contra o país, embora os sistemas de defesa aérea israelenses tenham derrubado a maioria deles.
![Vista geral de Teerã depois de Israel ter destruído vários sistemas de defesa aérea S-300, em 26 de outubro. [Atta Kenare/AFP]](/gc4/images/2024/11/08/48088-tehran-600_384.webp)
Israel teve muito mais êxito.
O equipamento de defesa aérea de fabricação russa do Irã deteve poucos (se é que deteve algum) dos mísseis disparados por 100 caças israelenses, de acordo com oficiais norte-americanos e israelenses citados pelo Wall Street Journal em 28 de outubro.
Entre os dispositivos iranianos destruídos, havia três sistemas russos de defesa aérea S-300. No início deste ano, Israel atingiu o único outro S-300 do Irã.
A demonstração de força israelense deixou o Irã mais vulnerável, explicou Joost Hiltermann, diretor do programa para o Oriente Médio do International Crisis Group.
"A importância de atacar as defesas aéreas do Irã é que, na próxima rodada, o país ficaria em grande parte sem proteção", disse ele à AFP.
S-300
O S-300, que tem sido constantemente atualizado desde sua introdução no fim da década de 1970, pode ser uma ameaça significativa, especialmente se for utilizado como parte de um sistema de defesa aérea em camadas, segundo o The War Zone.
O Irã tinha uma das versões mais modernas do S-300, ou seja, o S-300PMU-2 Favorit, que foi lançado em 1997.
Os S-300 mais modernos têm um alcance de 350 km, de acordo com os meios de comunicação estatais russos. O sistema pode apontar até 12 mísseis para até seis alvos diferentes.
As diferentes versões do sistema podem atacar aviões e mísseis balísticos. Também pode destruir alvos terrestres.
A ofensiva israelense ocorre num contexto de ataques semelhantes aos do S-300 por parte das forças ucranianas que combatem a Rússia.
Kiev atacou os sistemas de defesa aérea S-400, mais avançados, em maio e agosto, informou o Journal.
Os aliados de Moscou, incluindo a China e a Bielorrússia, e seus maiores clientes de armas, como a Índia, o Vietnã e a Argélia, utilizam tanto o S-300 como o S-400, segundo o site Kontur, afiliado do Entorno.
Confiança perdida
Desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia perdeu mais de 9.000 tanques, 18.000 veículos de combate blindados, 19.900 sistemas de artilharia e 369 aviões, de acordo com o Estado-Maior ucraniano.
A invasão "foi um desastre em termos de relações públicas para a indústria de defesa [russa]", revelou Ian Storey, membro sênior do Instituto ISEAS-Yusof Ishak, um grupo de reflexão de Cingapura, ao Journal.
"Os clientes tradicionais da Rússia perderam a confiança na indústria de defesa do país e estão à procura de novos fornecedores”, disse ele.
As exportações de armas da Rússia diminuíram significativamente desde a invasão em grande escala da Ucrânia em 2022, uma vez que Moscou utiliza todo o equipamento que consegue produzir.
De acordo com o Instituto Internacional de Investigação da Paz de Estocolmo (SIPRI), as vendas para o exterior caíram 52% no ano passado em relação a 2022, com base nos seus cálculos dos valores de exportação.
O baixo volume de encomendas pendentes "sugere que as exportações de armas russas deverão se manter muito abaixo do nível atingido em 2014-18, pelo menos em curto prazo", segundo um relatório do SIPRI publicado em março.
Negligência venezuelana
Segundo reportagem da BBC de fevereiro de 2020, a Venezuela recebeu três unidades do S-300, três unidades do Buk M2A e onze unidades do S-125 entre 2011 e 2014, com base em dados do SIPRI.
Estas e outras aquisições militares junto à Rússia refletem a aliança estabelecida pelo então presidente venezuelano, Hugo Chávez, com Moscou após sua posse em 1999.
Desde então, a Venezuela tem adquirido armas principalmente de fornecedores russos, uma tendência que se manteve com o seu sucessor, Nicolás Maduro.
Apesar das declarações oficiais e da promoção destes sistemas pelo próprio Chávez, especialistas apontam que o armamento quase não foi observado na Venezuela, que tem lutado com crises econômicas e sociais impulsionadas pela corrupção, dívida e colapso dos seus setores produtivos.
Analistas militares entrevistados pela BBC questionaram a prontidão operacional desses sistemas, chamando a atenção para as deserções generalizadas dentro das forças armadas venezuelanas, deixando poucas tropas capazes de operar o equipamento.
"Devido à negligência e à falta de planejamento e de recursos, estes sistemas estão longe de serem ideais", reconheceu um comandante militar venezuelano à BBC, pedindo anonimato.