Segurança

Suposta chegada de 400 líderes do Hezbollah à América Latina desperta temores de terrorismo

Líderes que supostamente estariam se mudando para Colômbia, Brasil, Equador e Venezuela podem levar drones, mísseis e táticas a uma região mal-equipada para combatê-los, dizem analistas.

Policiais e equipes de resgate perto de carros destruídos e destroços em 17 de março de 1992, em Buenos Aires, logo após uma bomba explodir na embaixada israelense, matando 29 pessoas. [Daniel García/AFP]
Policiais e equipes de resgate perto de carros destruídos e destroços em 17 de março de 1992, em Buenos Aires, logo após uma bomba explodir na embaixada israelense, matando 29 pessoas. [Daniel García/AFP]

Por Edelmiro Franco V. |

BOGOTÁ – Relatos de que cerca de 400 líderes do Hezbollah estão fugindo do Líbano e se mudando para a América do Sul reavivam os temores de ataques terroristas semelhantes aos que atingiram a Argentina e o Panamá na década de 1990.

De acordo com uma reportagem divulgada em meados de abril pelo canal saudita Al-Hadath, citando uma fonte da embaixada argentina no Líbano, a maioria dos comandantes de campo do Hezbollah deixou recentemente o país com suas famílias, estabelecendo-se na Venezuela, no Equador, na Colômbia e no Brasil.

A reportagem, repercutida inicialmente pelo Times of Israel e outros meios de comunicação em 16 de abril, gerou preocupações de segurança regional, disseram analistas ao Entorno, embora o fato propriamente "não surpreenda".

A Tríplice Fronteira — ponto onde se encontram os limites da Argentina, do Brasil e do Paraguai — e a Venezuela são há muito tempo identificadas como centros-chave para operações do Hezbollah na América Latina, incluindo ligações com redes de tráfico de drogas.

Homem passa por um mural do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pintado pelo movimento pró-governo "Somos Venezuela", em Caracas, em outubro. Nasrallah foi morto em setembro passado em um ataque israelense contra líderes do Hezbollah em Beirute. [Pedro Mattey/AFP]
Homem passa por um mural do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pintado pelo movimento pró-governo "Somos Venezuela", em Caracas, em outubro. Nasrallah foi morto em setembro passado em um ataque israelense contra líderes do Hezbollah em Beirute. [Pedro Mattey/AFP]

Alberto Jabiles, cidadão peruano que vive no Panamá e é graduado em educação e história pela Universidade Hebraica de Jerusalém, organiza todo ano um evento em homenagem às 21 vítimas do atentado a bomba ao voo AC 901 da Alas Chiricanas em 1994— o ataque terrorista mais mortal da história do Panamá.

Realizado em 19 de julho por um homem-bomba logo após a decolagem do voo da cidade de Colón, o ataque matou 12 empresários judeus, entre outras vítimas. Durante décadas, as autoridades não responsabilizaram formalmente nenhum grupo.

Mas, em 29 de outubro do ano passado, o diretor de Inteligência Nacional dos EUA concluiu que o Hezbollah estava por trás do atentado.

Jabiles, que dirige a Comissão Antidifamação da B'nai B'rith Panamá (CAD), disse que relatos recentes de comandantes do Hezbollah chegando à América do Sul não são surpreendentes, mas servem "renovam o alerta".

"Não é que se crie uma situação nova. Uma situação que existe há mais de 30 anos está se agravando", disse ele ao Entorno. "[É] a verificação das denúncias que desenvolvemos há décadas sobre a existência irregular e as alianças entre o Hezbollah e os regimes totalitários na América Latina, onde não só a comunidade judaica, mas também todos os cidadãos latino-americanos são colocados em risco."

O regime de Nicolás Maduro na Venezuela colabora há muito tempo com grupos como o Hezbollah, afirmou.

"Há uma forte presença do islamismo xiita em Caracas. É a porta de entrada", disse ele, afirmando que as autoridades venezuelanas chegam a emitir vistos para "elementos de reputação duvidosa", facilitando sua movimentação pelo continente.

A fonte citada na reportagem sobre a suposta chegada de 400 comandantes do Hezbollah à América do Sul é o Al-Hadath, um veículo de comunicação saudita que tem laços estreitos com o governo de Riad, disse Adis Urieta, ex-embaixador panamenho em Israel, ao Entorno.

"O Al-Hadath tem pouca simpatia pelo Hezbollah, pois o considera o braço do Irã no Líbano", observou Urieta.

Embora o Hezbollah tenha negado consistentemente ter presença na América do Sul, Urieta disse que o envolvimento do grupo em ataques passados ​​— como os atentados à embaixada israelense em Buenos Aires em 1992, ao centro judaico AMIA em Buenos Aires em 1994 e ao voo AC 901 no Panamá — respalda as reportagens do Al-Hadath e provavelmente coloca as agências de segurança regionais em alerta.

O ataque ao voo AC 901 ocorreu apenas um dia após o atentado com carro-bomba ao prédio da AMIA, que matou 85 pessoas e feriu mais de 300. Dois anos antes, o atentado à embaixada israelense na mesma cidade deixou 29 mortos e mais de 200 feridos.

Os investigadores atribuíram as duas explosões argentinas ao Hezbollah e as vincularam ao apoio financeiro e logístico do governo iraniano.

A crescente presença do Hezbollah na América Latina

A chegada de comandantes experientes do Hezbollah à América Latina pode aumentar a ameaça de ataques terroristas na região, particularmente contra interesses israelenses ou americanos e comunidades judaicas, disseram observadores ao Entorno.

Esses líderes podem oferecer treinamento avançado e apoio tático a redes ligadas ao Hezbollah, há muito tempo ativas na América do Sul, além de reforçar a arrecadação de fundos e as operações logísticas. O grupo é conhecido por financiar suas atividades por meio de tráfico de drogas, falsificação e contrabando.

O Hezbollah está efetivamente transformando partes da América Latina em um "espelho" do Oriente Médio, alertou Ilil Podliszewski-Lavi, presidente da BE1 Defense Solutions and Technologies Israel, sediada em El Salvador.

"É fácil para essas organizações terroristas se estabelecerem lá [América Latina]", disse ela ao Entorno.

O Hezbollah poderia introduzir tecnologias modernas — como drones e mísseis — na região, alertou Podliszewski-Lavi, especialista em combate, guerra eletrônica e inteligência. As forças de segurança regionais podem ficar para trás, mesmo com o aumento da sofisticação das redes terroristas, afirmou.

"A presença do Hezbollah na América Latina deve ser desmantelada", destacou ela.

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