Segurança
Suposta chegada de 400 líderes do Hezbollah à América Latina desperta temores de terrorismo
Líderes que supostamente estariam se mudando para Colômbia, Brasil, Equador e Venezuela podem levar drones, mísseis e táticas a uma região mal-equipada para combatê-los, dizem analistas.
![Policiais e equipes de resgate perto de carros destruídos e destroços em 17 de março de 1992, em Buenos Aires, logo após uma bomba explodir na embaixada israelense, matando 29 pessoas. [Daniel García/AFP]](/gc4/images/2025/05/01/50246-hezbola-600_384.webp)
Por Edelmiro Franco V. |
BOGOTÁ – Relatos de que cerca de 400 líderes do Hezbollah estão fugindo do Líbano e se mudando para a América do Sul reavivam os temores de ataques terroristas semelhantes aos que atingiram a Argentina e o Panamá na década de 1990.
De acordo com uma reportagem divulgada em meados de abril pelo canal saudita Al-Hadath, citando uma fonte da embaixada argentina no Líbano, a maioria dos comandantes de campo do Hezbollah deixou recentemente o país com suas famílias, estabelecendo-se na Venezuela, no Equador, na Colômbia e no Brasil.
A reportagem, repercutida inicialmente pelo Times of Israel e outros meios de comunicação em 16 de abril, gerou preocupações de segurança regional, disseram analistas ao Entorno, embora o fato propriamente "não surpreenda".
A Tríplice Fronteira — ponto onde se encontram os limites da Argentina, do Brasil e do Paraguai — e a Venezuela são há muito tempo identificadas como centros-chave para operações do Hezbollah na América Latina, incluindo ligações com redes de tráfico de drogas.
![Homem passa por um mural do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pintado pelo movimento pró-governo "Somos Venezuela", em Caracas, em outubro. Nasrallah foi morto em setembro passado em um ataque israelense contra líderes do Hezbollah em Beirute. [Pedro Mattey/AFP]](/gc4/images/2025/05/01/50247-hebola-600_384.webp)
Alberto Jabiles, cidadão peruano que vive no Panamá e é graduado em educação e história pela Universidade Hebraica de Jerusalém, organiza todo ano um evento em homenagem às 21 vítimas do atentado a bomba ao voo AC 901 da Alas Chiricanas em 1994— o ataque terrorista mais mortal da história do Panamá.
Realizado em 19 de julho por um homem-bomba logo após a decolagem do voo da cidade de Colón, o ataque matou 12 empresários judeus, entre outras vítimas. Durante décadas, as autoridades não responsabilizaram formalmente nenhum grupo.
Mas, em 29 de outubro do ano passado, o diretor de Inteligência Nacional dos EUA concluiu que o Hezbollah estava por trás do atentado.
Jabiles, que dirige a Comissão Antidifamação da B'nai B'rith Panamá (CAD), disse que relatos recentes de comandantes do Hezbollah chegando à América do Sul não são surpreendentes, mas servem "renovam o alerta".
"Não é que se crie uma situação nova. Uma situação que existe há mais de 30 anos está se agravando", disse ele ao Entorno. "[É] a verificação das denúncias que desenvolvemos há décadas sobre a existência irregular e as alianças entre o Hezbollah e os regimes totalitários na América Latina, onde não só a comunidade judaica, mas também todos os cidadãos latino-americanos são colocados em risco."
O regime de Nicolás Maduro na Venezuela colabora há muito tempo com grupos como o Hezbollah, afirmou.
"Há uma forte presença do islamismo xiita em Caracas. É a porta de entrada", disse ele, afirmando que as autoridades venezuelanas chegam a emitir vistos para "elementos de reputação duvidosa", facilitando sua movimentação pelo continente.
A fonte citada na reportagem sobre a suposta chegada de 400 comandantes do Hezbollah à América do Sul é o Al-Hadath, um veículo de comunicação saudita que tem laços estreitos com o governo de Riad, disse Adis Urieta, ex-embaixador panamenho em Israel, ao Entorno.
"O Al-Hadath tem pouca simpatia pelo Hezbollah, pois o considera o braço do Irã no Líbano", observou Urieta.
Embora o Hezbollah tenha negado consistentemente ter presença na América do Sul, Urieta disse que o envolvimento do grupo em ataques passados — como os atentados à embaixada israelense em Buenos Aires em 1992, ao centro judaico AMIA em Buenos Aires em 1994 e ao voo AC 901 no Panamá — respalda as reportagens do Al-Hadath e provavelmente coloca as agências de segurança regionais em alerta.
O ataque ao voo AC 901 ocorreu apenas um dia após o atentado com carro-bomba ao prédio da AMIA, que matou 85 pessoas e feriu mais de 300. Dois anos antes, o atentado à embaixada israelense na mesma cidade deixou 29 mortos e mais de 200 feridos.
Os investigadores atribuíram as duas explosões argentinas ao Hezbollah e as vincularam ao apoio financeiro e logístico do governo iraniano.
A crescente presença do Hezbollah na América Latina
A chegada de comandantes experientes do Hezbollah à América Latina pode aumentar a ameaça de ataques terroristas na região, particularmente contra interesses israelenses ou americanos e comunidades judaicas, disseram observadores ao Entorno.
Esses líderes podem oferecer treinamento avançado e apoio tático a redes ligadas ao Hezbollah, há muito tempo ativas na América do Sul, além de reforçar a arrecadação de fundos e as operações logísticas. O grupo é conhecido por financiar suas atividades por meio de tráfico de drogas, falsificação e contrabando.
O Hezbollah está efetivamente transformando partes da América Latina em um "espelho" do Oriente Médio, alertou Ilil Podliszewski-Lavi, presidente da BE1 Defense Solutions and Technologies Israel, sediada em El Salvador.
"É fácil para essas organizações terroristas se estabelecerem lá [América Latina]", disse ela ao Entorno.
O Hezbollah poderia introduzir tecnologias modernas — como drones e mísseis — na região, alertou Podliszewski-Lavi, especialista em combate, guerra eletrônica e inteligência. As forças de segurança regionais podem ficar para trás, mesmo com o aumento da sofisticação das redes terroristas, afirmou.
"A presença do Hezbollah na América Latina deve ser desmantelada", destacou ela.