Terrorismo

Hezbollah reforça alianças com cartéis de drogas latino-americanos em região da tríplice fronteira

Segundo observadores, a organização terrorista canaliza os lucros do tráfico de drogas.

Mulher passa por um mural do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pintado pelo movimento “Somos Venezuela” em Caracas, em outubro passado. Nasrallah foi morto numa série de ataques israelenses contra a liderança do grupo em Beirute, em setembro. [Pedro Mattey/AFP]
Mulher passa por um mural do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pintado pelo movimento “Somos Venezuela” em Caracas, em outubro passado. Nasrallah foi morto numa série de ataques israelenses contra a liderança do grupo em Beirute, em setembro. [Pedro Mattey/AFP]

Por Edelmiro Franco V. |

BOGOTÁ – O Hezbollah está aprofundando seus laços com os cartéis de drogas na chamada Tríplice Fronteira — área onde se encontram os territórios de Argentina, Brasil e Paraguai — e está expandindo suas operações em toda a América Latina.

Relatórios recentes revelam que os principais objetivos do grupo na região incluem o envolvimento em atividades ilícitas ligadas ao tráfico de drogas, como a lavagem de dinheiro e o contrabando de armas.

A organização político-militar xiita libanesa apoiada pelo Irã estaria supostamente treinando pessoal em táticas criminosas na América Latina para preparar e executar ataques terroristas contra alvos políticos e econômicos nos Estados Unidos e em Israel.

O alarme foi disparado pela primeira vez este ano em um relatório do Centro Internacional de Investigação e Análise contra o Narcotráfico Marítimo (CMCON), publicado em janeiro.

Bolivianos saem de escola chamada “República do Irã” depois de votarem nas eleições judiciais em Laja, Bolívia, em dezembro passado. [Jorge Bernal/AFP]
Bolivianos saem de escola chamada “República do Irã” depois de votarem nas eleições judiciais em Laja, Bolívia, em dezembro passado. [Jorge Bernal/AFP]

De acordo com o documento, a presença crescente do Hezbollah na América Latina — especialmente na região da “Tríplice Fronteira” — parece fazer parte de uma estratégia mais ampla para conquistar uma posição geopolítica e econômica na região.

O CMCON, que promove a cooperação entre marinhas, serviços marítimos e guardas costeiras das Américas, alertou que “a criação de células terroristas em apoio aos objetivos políticos estratégicos do Hezbollah provavelmente aumentará” e reforçará as atividades econômicas ilícitas ligadas ao tráfico de drogas e ao crime transnacional.

Estas operações criminosas podem ser facilitadas por redes apoiadas pelo Irã que já operam na América Latina, particularmente no Brasil, Argentina e Paraguai, sugere o texto.

Preocupação regional aumenta

A presença do grupo na região é principalmente motivada por esforços para angariar fundos e diversificar suas operações globais, argumentou Marzia Giamberton, do Instituto do Oriente Médio, em uma análise intitulada “Redes do Hezbollah na América Latina”, publicada em 31 de março.

O Hezbollah demonstrou ter capacidade para alvejar os interesses de Israel e dos EUA na América Latina, alertou ela.

“As redes associadas às operações de captação de recursos do grupo na região evoluíram em escopo e sofisticação nas últimas três décadas”, disse Giamberton.

Vários países latino-americanos — entre os quais estão Argentina, Colômbia, Honduras e Paraguai — designaram formalmente o Hezbollah como uma organização terrorista, o que reforça a crescente preocupação regional com suas atividades, disse Giamberton.

De acordo com o relatório, as redes da diáspora libanesa — que vão desde simpatizantes convictos a indivíduos com ligações indiretas ou pouco intensas com o grupo — estabeleceram laços com o crime organizado para gerar receitas que, em última análise, apoiam as operações do Hezbollah.

“Estes mecanismos de financiamento abrangem, segundo consta, tráfico de drogas, de armas e de seres humanos, mineração ilegal, roubo de identidade e esquemas de lavagem de dinheiro”, disse ela.

Neste contexto, o relatório da CMCON adverte que “poderá surgir um cenário complexo, envolvendo a construção de mesquitas ou centros islâmicos em locais estratégicos, com o objetivo de consolidar o controle sobre territórios-chave”.

Estas células supostamente procuram identificar alvos comerciais vulneráveis à infiltração do tráfico de drogas e do crime transnacional, utilizando-os como pontos de entrada para alargar sua influência político-criminal e expandir as operações ilícitas tanto regional como globalmente.

Os laços do Hezbollah com a diáspora libanesa na América Latina estão alegadamente em expansão para além da região da “Tríplice Fronteira”.

De acordo com a CMCON, o grupo estabeleceu redes de apoio financeiro e logístico em áreas como a Ilha Margarita, na Venezuela, consolidando sua presença em outras partes do continente.

Relatórios dos serviços de inteligência sugerem ligações estreitas entre os agentes do Hezbollah e oficiais do governo na Venezuela.

Ligações com o Irã

Ao mesmo tempo, uma reportagem da Lisa News intitulada “Os tentáculos do Irã e do Hezbollah na América Latina”, publicada no último dia 7 de outubro, destaca uma série de acontecimentos em 2023 que apontam para a expansão da presença do Irã na região.

Embora inicialmente estes acontecimentos possam parecer isolados, o artigo salienta uma linha comum: a crescente influência de Teerã e do Hezbollah.

Esta estratégia visa assegurar o controle de recursos naturais da América Latina, disse a autora Lucía Brogiolo na matéria.

“As reservas de urânio na Argentina, Bolívia, Brasil e Venezuela são estratégicas, pois podem ser utilizadas, entre outras coisas, para a produção de armas nucleares”, alertou ela.

A região possui reservas significativas de lítio e tório — materiais cruciais para o desenvolvimento de mísseis, destacou a reportagem.

O Irã poderia potencialmente estabelecer duas rotas de exportação de minerais: uma através da Venezuela e outra através do Chile, para canalizar recursos do Brasil, da Bolívia e do Peru.

Diante desses acontecimentos, a CMCON destaca que o Hezbollah “não é apenas mais uma organização criminosa; sua estrutura parece ter objetivos políticos e econômicos transnacionais claramente definidos”.

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