Terrorismo
Hezbollah reforça alianças com cartéis de drogas latino-americanos em região da tríplice fronteira
Segundo observadores, a organização terrorista canaliza os lucros do tráfico de drogas.
![Mulher passa por um mural do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, pintado pelo movimento “Somos Venezuela” em Caracas, em outubro passado. Nasrallah foi morto numa série de ataques israelenses contra a liderança do grupo em Beirute, em setembro. [Pedro Mattey/AFP]](/gc4/images/2025/04/09/49933-hizbullah1-600_384.webp)
Por Edelmiro Franco V. |
BOGOTÁ – O Hezbollah está aprofundando seus laços com os cartéis de drogas na chamada Tríplice Fronteira — área onde se encontram os territórios de Argentina, Brasil e Paraguai — e está expandindo suas operações em toda a América Latina.
Relatórios recentes revelam que os principais objetivos do grupo na região incluem o envolvimento em atividades ilícitas ligadas ao tráfico de drogas, como a lavagem de dinheiro e o contrabando de armas.
A organização político-militar xiita libanesa apoiada pelo Irã estaria supostamente treinando pessoal em táticas criminosas na América Latina para preparar e executar ataques terroristas contra alvos políticos e econômicos nos Estados Unidos e em Israel.
O alarme foi disparado pela primeira vez este ano em um relatório do Centro Internacional de Investigação e Análise contra o Narcotráfico Marítimo (CMCON), publicado em janeiro.
![Bolivianos saem de escola chamada “República do Irã” depois de votarem nas eleições judiciais em Laja, Bolívia, em dezembro passado. [Jorge Bernal/AFP]](/gc4/images/2025/04/09/49934-hizbullah2-600_384.webp)
De acordo com o documento, a presença crescente do Hezbollah na América Latina — especialmente na região da “Tríplice Fronteira” — parece fazer parte de uma estratégia mais ampla para conquistar uma posição geopolítica e econômica na região.
O CMCON, que promove a cooperação entre marinhas, serviços marítimos e guardas costeiras das Américas, alertou que “a criação de células terroristas em apoio aos objetivos políticos estratégicos do Hezbollah provavelmente aumentará” e reforçará as atividades econômicas ilícitas ligadas ao tráfico de drogas e ao crime transnacional.
Estas operações criminosas podem ser facilitadas por redes apoiadas pelo Irã que já operam na América Latina, particularmente no Brasil, Argentina e Paraguai, sugere o texto.
Preocupação regional aumenta
A presença do grupo na região é principalmente motivada por esforços para angariar fundos e diversificar suas operações globais, argumentou Marzia Giamberton, do Instituto do Oriente Médio, em uma análise intitulada “Redes do Hezbollah na América Latina”, publicada em 31 de março.
O Hezbollah demonstrou ter capacidade para alvejar os interesses de Israel e dos EUA na América Latina, alertou ela.
“As redes associadas às operações de captação de recursos do grupo na região evoluíram em escopo e sofisticação nas últimas três décadas”, disse Giamberton.
Vários países latino-americanos — entre os quais estão Argentina, Colômbia, Honduras e Paraguai — designaram formalmente o Hezbollah como uma organização terrorista, o que reforça a crescente preocupação regional com suas atividades, disse Giamberton.
De acordo com o relatório, as redes da diáspora libanesa — que vão desde simpatizantes convictos a indivíduos com ligações indiretas ou pouco intensas com o grupo — estabeleceram laços com o crime organizado para gerar receitas que, em última análise, apoiam as operações do Hezbollah.
“Estes mecanismos de financiamento abrangem, segundo consta, tráfico de drogas, de armas e de seres humanos, mineração ilegal, roubo de identidade e esquemas de lavagem de dinheiro”, disse ela.
Neste contexto, o relatório da CMCON adverte que “poderá surgir um cenário complexo, envolvendo a construção de mesquitas ou centros islâmicos em locais estratégicos, com o objetivo de consolidar o controle sobre territórios-chave”.
Estas células supostamente procuram identificar alvos comerciais vulneráveis à infiltração do tráfico de drogas e do crime transnacional, utilizando-os como pontos de entrada para alargar sua influência político-criminal e expandir as operações ilícitas tanto regional como globalmente.
Os laços do Hezbollah com a diáspora libanesa na América Latina estão alegadamente em expansão para além da região da “Tríplice Fronteira”.
De acordo com a CMCON, o grupo estabeleceu redes de apoio financeiro e logístico em áreas como a Ilha Margarita, na Venezuela, consolidando sua presença em outras partes do continente.
Relatórios dos serviços de inteligência sugerem ligações estreitas entre os agentes do Hezbollah e oficiais do governo na Venezuela.
Ligações com o Irã
Ao mesmo tempo, uma reportagem da Lisa News intitulada “Os tentáculos do Irã e do Hezbollah na América Latina”, publicada no último dia 7 de outubro, destaca uma série de acontecimentos em 2023 que apontam para a expansão da presença do Irã na região.
Embora inicialmente estes acontecimentos possam parecer isolados, o artigo salienta uma linha comum: a crescente influência de Teerã e do Hezbollah.
Esta estratégia visa assegurar o controle de recursos naturais da América Latina, disse a autora Lucía Brogiolo na matéria.
“As reservas de urânio na Argentina, Bolívia, Brasil e Venezuela são estratégicas, pois podem ser utilizadas, entre outras coisas, para a produção de armas nucleares”, alertou ela.
A região possui reservas significativas de lítio e tório — materiais cruciais para o desenvolvimento de mísseis, destacou a reportagem.
O Irã poderia potencialmente estabelecer duas rotas de exportação de minerais: uma através da Venezuela e outra através do Chile, para canalizar recursos do Brasil, da Bolívia e do Peru.
Diante desses acontecimentos, a CMCON destaca que o Hezbollah “não é apenas mais uma organização criminosa; sua estrutura parece ter objetivos políticos e econômicos transnacionais claramente definidos”.