Política
Negociação da Bolívia com Irã por drones causam preocupação na América do Sul
Autoridades sul-americanas estão alarmadas com a aquisição de tecnologia iraniana pela Bolívia, citando riscos de segurança e a possibilidade de criação de um futuro centro de operações iraniano no continente.
![Drone iraniano Mohajer 10 é exibido na exposição de conquistas da indústria de defesa do Irã, em Teerã. O Irã revelou em 22 de agosto o drone mais recente construído pelo país, que possui capacidades de armamento aprimoradas e pode voar mais alto e por mais tempo do que seus antecessores, informou a mídia estatal. [Ata Kenare/AFP]](/gc4/images/2023/10/18/44582-iran2-600_384.webp)
Por Aurora Lane |
LA PAZ – O governo boliviano, liderado pelo presidente Luis Arce, enfrenta fortes críticas sobre as negociações em curso com o Irã para aquisição de drones.
As críticas ocorrem na sequência dos recentes ataques perpetrados pelo grupo terrorista Hamas, que recebe apoio financeiro do regime iraniano.
Israel declarou guerra ao Hamas, após os combatentes do grupo romperem a fronteira israelense, altamente fortificada, e atirarem, esfaquearem e queimarem até a morte mais de 1.400 pessoas, a maioria delas civis.
Em julho deste ano, foi assinado um acordo entre o ministro da Defesa do Irã, o general Mohammad Reza Ashtiani, e sua contraparte na Bolívia, Edmundo Novillo Aguilar.
![O ministro da Defesa da Bolívia, Edmundo Novillo Aguilar, e sua contraparte no Irã, o general Mohammad Reza Ashtiani, durante uma reunião em Teerã, em julho. No encontro, foi assinado um acordo que estabelece o compromisso do Teerã de fornecer drones destinados a combater o tráfico de drogas e outros contrabandos transfronteiriços. [Agência Boliviana de Informação]](/gc4/images/2023/10/18/44584-bolivia_iran-600_384.webp)
O acordo estabelece o compromisso de Teerã de fornecer drones destinados a combater o tráfico de drogas e outros contrabandos transfronteiriços, segundo a agência de notícias iraniana IRNA.
“O aspecto mais preocupante é que adquirimos os drones de uma nação que é fortemente criticada por vários países em nível mundial e pela Organização das Nações Unidas. O Irã é um país com um apoio bem-estabelecido ao terrorismo. Esta aquisição reflete-se negativamente num país como a Bolívia, implicando que estamos adquirindo recursos e armas de países significativamente envolvidos no terrorismo", disse Omar Durán, advogado boliviano e especialista em aeronáutica, em entrevista ao Entorno.
Durán enfatizou que a aquisição serve principalmente aos interesses do Irã, e não aos da Bolívia. As necessidades militares da Bolívia não envolvem drones, mas outros tipos de provisões militares essenciais e mais adequadas para as forças armadas bolivianas, afirmou.
“Os drones exigem uma gestão eficiente e essencial, uma capacidade que atualmente não temos. Para estabelecer uma gestão eficiente de drones, um contingente expressivo de oficiais e suboficiais das forças armadas provavelmente precisaria passar por treinamento em um país conhecido por sua associação com o terrorismo global", disse Durán.
"Potenciais atos de terrorismo"
O presidente da Delegação das Associações Israelenses Argentinas, Jorge Knoblovits, afirmou que quaisquer contribuições do Irã para a América Latina não deveriam ser consideradas.
“Não há outra interpretação que não seja a de que estes atos estão relacionados com espionagem ou estabelecem as bases para potenciais atos de terrorismo”, disse Knoblovits.
Ele ressaltou que os próprios drones destinados a patrulhar a fronteira boliviana são “os mesmos dispositivos que destruíram recentemente um celeiro na Ucrânia”, segundo o site de notícias Infobae.
Os drones fabricados pelo Irã se tornaram uma característica importante da invasão da Ucrânia pela Rússia.
O Irã e a Rússia formaram uma aliança cada vez mais forte como dois estados-párias isolados. Mas a dependência da Rússia de armas fabricadas pelo Irã vem surpreendendo o mundo, já que o Kremlin exalta suas próprias façanhas militares há décadas.
Em 23 de julho, Marcelo Pedrazas, deputado da oposição da aliança política Comunidade Cidadã, expressou preocupação com o fato de o governo Arce estar se afastando da comunidade internacional e estabelecendo relações com países conhecidos por violações dos direitos humanos, como Irã, Rússia, Venezuela e Nicarágua.
“Estes acordos, aparentemente destinados a reforçar a cooperação no combate ao tráfico de drogas, são essencialmente um meio para perpetuar e promover princípios ditatoriais”, disse o parlamentar ao jornal boliviano Los Tiempos.
Preocupação na América Latina
Esses desdobramentos devem gerar preocupações em uma escala mais ampla, pois existe a possibilidade de que o principal motivo seja facilitar a chegada de iranianos à Bolívia, com o objetivo de estabelecer uma presença duradoura e potencialmente criar um centro de operações dentro do país, disse o analista André Lajst, diretor da StandWithUs Brasil, braço brasileiro de uma organização internacional de educação que combate o antissemitismo.
"Ainda não se sabe se estes acordos envolvem mísseis, cooperação de inteligência ou a chegada de iranianos com a intenção de estabelecer um centro de investigação ou operação duradouro na Bolívia. Essa ambiguidade deveria ser motivo de preocupação não apenas para os bolivianos, mas para toda a América Latina", destacou o analista durante um programa de televisão na Argentina.
Após as conversações de julho entre os ministros da defesa da Bolívia e do Irã em Teerã, o Itamaraty enviou um comunicado oficial à Embaixada da Bolívia em Buenos Aires, pedindo mais detalhes sobre as discussões e potenciais acordos entre os dois ministros.
No início de agosto, Andrés Jouannet, membro da Comissão de Defesa da Câmara dos Deputados do Chile, manifestou grande preocupação com o pacto entre a Bolívia e o Irã, afirmando que é “profundamente preocupante para nós”, de acordo com o jornal El Mostrador.
A relação entre Teerã e La Paz “compromete de alguma forma a nossa segurança”, disse Jouannet.
Alberto Rojas, diretor do Observatório de Assuntos Internacionais da Universidade Finis Terrae em Santiago, no Chile, expressou apreensão com a aquisição de tecnologia do Irã e considerou-a preocupante para países vizinhos como Argentina, Chile e Brasil.