Segurança

China e Rússia ampliam laços militares com exercícios mais recentes

China se define como um partido neutro, mas se recusa a condenar a invasão russa na Ucrânia e reforça os laços com a Rússia.

Navios de guerra chineses se amontoam para realizar reabastecimento em conjunto no mar durante exercícios de treinamento. [Ministério da Defesa da China]
Navios de guerra chineses se amontoam para realizar reabastecimento em conjunto no mar durante exercícios de treinamento. [Ministério da Defesa da China]

Por Entorno e AFP |

Os laços entre Moscou e Pequim continuam a crescer desde a invasão da Ucrânia pela Rússia no ano passado, uma ação que não foi condenada pela China.

Os dois países intensificaram os contatos de defesa, incluindo exercícios militares conjuntos nos últimos meses.

Na quinta-feira (20/07), a Rússia afirmou ter iniciado exercícios navais conjuntos com a China no Mar do Japão, pois os dois aliados buscam aprofundar sua cooperação militar.

Exercícios provocativos

Os últimos exercícios aeronavais ocorrerão no Mar do Japão e visam "salvaguardar rotas marítimas estratégicas", disse o Ministério da Defesa da China no sábado.

O exercício deve enfurecer o Japão, uma democracia que trava disputas territoriais com Rússia e China, conforme reportagem da Bloomberg no domingo.

As forças armadas chinesas já enviaram cinco navios de guerra, inclusive um destróier de mísseis guiados, informa o comunicado publicado no domingo.

Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, o principal objetivo dos exercícios, que serão realizados até domingo, é "fortalecer a cooperação naval" entre os dois países.

Esses exercícios incluirão "missões antissubmarinas e combate naval", além de escolta naval/aérea de navios, disse o Ministério, acrescentando que também há planos de "realizar fogo de artilharia conjunto".

A marinha russa é representada por dois navios antissubmarinos, duas corvetas e navios auxiliares, acrescentou o Ministério.

A China e a Rússia já realizaram um patrulha aérea conjunta sobre o Mar do Japão e o Mar da China Oriental no mês passado, e os exercícios levaram a Coreia do Sul a enviar aviões de caça por precaução.

Foi a sexta dessas patrulhas China-Rússia na região desde 2019.

Neste mês, o ministro da Defesa chinês, Li Shangfu, defendeu a intensificação da cooperação naval com a Rússia.

A China e a Rússia realizaram seis exercícios militares conjuntos no ano passado, o maior número em duas décadas, segundo reportagem da Bloomberg no domingo.

Cinco deles ocorreram após Vladimir Putin atacar a Ucrânia em fevereiro de 2022.

No entanto, "a guerra de Putin na Ucrânia expôs as limitações de Moscou como um parceiro militar potencial", relatou a Bloomberg, referindo-se ao alto número de mortes e às várias derrotas sofridas pelos militares russos.

Dificilmente um "partido neutro"

Pequim se tornou o aliado mais importante de Moscou desde o início da guerra na Ucrânia.

A China se define como um partido neutro no conflito, mas sua recusa em condenar a invasão motivou acusações dos aliados da Ucrânia de que o país asiático está favorecendo a Rússia.

Um alto diplomata chinês disse, em 13 de julho, que Pequim iria fortalecer os laços com a Rússia em comunicação e coordenação estratégica.

Wang Yi discutiu várias questões com o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, nos bastidores de uma reunião da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) em Jacarta, onde ambos participaram da reunião ministerial de 18 nações da Cúpula do Leste Asiático na sexta-feira.

"Ambos os lados deveriam... fortalecer a comunicação e a coordenação estratégica", disse Wang, de acordo com uma declaração do Ministério das Relações Exteriores da China.

"China e Rússia se apoiam firmemente na salvaguarda de interesses legítimos para aderir ao caminho da coexistência harmoniosa e do desenvolvimento mútuo".

Wang representou Pequim na capital da Indonésia porque o ministro das Relações Exteriores Qin Gang estava doente.

Lavrov disse que Moscou e Pequim estavam mantendo "trocas de alto nível" e que uma reunião entre Putin e o presidente chinês Xi Jinping realizada em março na Rússia "injetou um forte impulso nas relações bilaterais", segundo o ministério chinês.

"Temos cada vez mais áreas onde os interesses e planos convergem, então busco [seu] maior desenvolvimento com otimismo", disse Lavrov, segundo declaração do Ministério das Reações Exteriores russo.

Ambos os lados "trocaram formas de fortalecer a coordenação e a cooperação sob um quadro multilateral como a Organização para a Cooperação de Xangai", disse Wang, segundo declaração do Ministério das Relações Exteriores da China.

Crescente cooperação

China e Rússia intensificaram a cooperação econômica e os contatos diplomáticos nos últimos anos.

O comércio de duas vias da China com a Rússia alcançou em junho o seu maior nível desde o início da guerra na Ucrânia, relatou a Voice of America na última quinta-feira.

Dados aduaneiros chineses mostram que, em 13 de julho, o valor do comércio bilateral atingiu o pico de US$ 20,83 bilhões (R$ 99,56 bilhões) em junho, o maior montante desde fevereiro de 2022.

Esses laços são vitais para manter a guerra russa em andamento, depois que seus rentáveis clientes de energia da Europa os cortaram em razão da invasão da Ucrânia.

Putin e Xi se reuniram em Pequim antes da guerra, comprometendo-se a seguir juntos em uma "nova era" da ordem política e militar.

"A amizade entre os dois estados não tem limites", disseram ambos em uma declaração conjunta liberada depois da reunião. "Não existem áreas 'proibidas' de cooperação."

O regime chinês sabia antecipadamente do plano russo de atacar a Ucrânia, mas se preocupou apenas que não acontecesse durante as Olimpíadas de Inverno de Pequim.

Putin e Xi também anunciaram, após a reunião de março, uma "ampla e estratégica parceria" que incluía tudo, desde a cooperação na "desdolarização" à busca de políticas paralelas no Irã, na Síria e na África.

Da sua parte, Xi enfatizou que a estratégia da China em relação à Rússia “não será alterada por nenhum tipo de acontecimento … independentemente de mudanças do cenário internacional”.

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