Segurança

Estações de espionagem chinesas em Cuba expandem-se e ameaçam EUA e América Latina

China tem agora quatro bases de espionagem em Cuba capazes de interceptar dados de satélites e monitorar lançamentos espaciais dos EUA, o que faz soar o alarme sobre a extensão dos seus recentes avanços.

Imagens de satélite de 16 de abril revelam operações no complexo de inteligência de sinais de Bejucal, perto de Havana, onde está sendo desenvolvido um grande sistema de antenas dispostas circularmente. O local há muito tempo é associado a serviços secretos chineses. [CSIS/MAXAR]
Imagens de satélite de 16 de abril revelam operações no complexo de inteligência de sinais de Bejucal, perto de Havana, onde está sendo desenvolvido um grande sistema de antenas dispostas circularmente. O local há muito tempo é associado a serviços secretos chineses. [CSIS/MAXAR]

Por Entorno |

WASHINGTON -- A China está expandindo rapidamente sua capacidade de espionagem espacial com quatro bases de inteligência estrategicamente instaladas em Cuba, concebidas para monitorar atividades nos Estados Unidos, na América Latina e no Caribe.

Analistas confirmaram a escala dessa expansão durante uma audiência em 6 de maio perante a Subcomissão de Transportes e Segurança Marítima da Câmara dos Representantes dos EUA, intitulada “Vigilância Aérea, Espacial e Marítima de Pequim a partir de Cuba: Uma Ameaça Crescente à Pátria”.

Ryan C. Berg, diretor do Programa das Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), e Leland Lazarus, diretor associado de Segurança Nacional do Instituto Jack D. Gordon de Políticas Públicas da Universidade Internacional da Flórida, apresentaram as principais conclusões de suas respectivas instituições.

Berg destacou um relatório recente do CSIS intitulado “Na Porta de Entrada: Panorama das Novas Atividades nos Locais de Espionagem Cubanos”, que descreve como a China está usando a ilha de Cuba como base operacional avançada para seus esforços de vigilância no Hemisfério Ocidental.

Ministros das Relações Exteriores da China e de Cuba, Wang Yi (D) e Bruno Rodríguez, apertam as mãos antes de sua reunião em Pequim, em 12 de maio. [Florence Lo/AFP]
Ministros das Relações Exteriores da China e de Cuba, Wang Yi (D) e Bruno Rodríguez, apertam as mãos antes de sua reunião em Pequim, em 12 de maio. [Florence Lo/AFP]

“Novas imagens de satélite de 15 de abril de 2025 mostram grandes operações no local nos últimos meses. Em um campo de antenas existente na parte norte do complexo, a terra foi escavada e seis antenas foram removidas”, de acordo com o relatório do CSIS, publicado em 6 de maio.

“O acréscimo do que parece ser um conjunto de antenas dispostas circularmente (CDAA) em Bejucal expandiria as capacidades do local para espionar os Estados Unidos e outros países da região”, observa o CSIS, referindo-se a um complexo nos arredores de Havana.

Bejucal funciona há muito tempo como um “local da inteligência de sinais cubana (SIGINT) perto de Havana, que, diz-se há muito tempo, teria ligações com a China”, prossegue.

O relatório classifica Bejucal como “o maior centro de informação de sinais ativo em Cuba” e afirma que o espaço “passou por grandes atualizações na última década, o que indica um conjunto de missões em evolução”.

“Todas as dimensões da estratégia chinesa”

A China transformou Cuba em um centro estratégico para operações de inteligência que tem como alvos os Estados Unidos e a América Latina, disse Lazarus à subcomissão da Câmara. Ele descreveu a crescente presença de Pequim na ilha e suas ambições de longo prazo no Hemisfério Ocidental.

“Em Cuba, vemos todas as dimensões da estratégia chinesa em exposição”, afirmou, em depoimento por escrito. “Se Pequim está disposta a estabelecer postos de escuta, a modernizar portos e a exportar tecnologias autoritárias para um país a apenas 145 quilômetros da Florida, então temos de tratar esse desafio com a urgência e a clareza estratégica que ele merece”, acrescentou.

“A China está estrategicamente inserindo-se no Hemisfério Ocidental não só através do comércio e do investimento, mas também através dos portos, do espaço e da espionagem”, concluiu.

Lazarus descreveu o esforço como parte de uma estratégia chinesa mais ampla para exercer influência na região, combinando investimentos, relações diplomáticas e parcerias de segurança na América Latina e no Caribe.

Instalações de espionagem da China em Cuba

A nova investigação do CSIS confirma e amplia seu relatório de julho passado, “Sinais Secretos: Decodificando as Atividades de Inteligência da China em Cuba”. As descobertas revelam quatro supostas instalações chinesas de SIGINT espalhadas pela ilha, todas provavelmente apoiando os esforços de Pequim para monitorar os Estados Unidos e a América Latina.

O maior destes complexos situa-se em Bejucal, como descrito acima.

Bejucal abrigou mísseis nucleares soviéticos durante a Crise dos Mísseis de Cuba de 1962 e atualmente abriga o complexo SIGINT mais ativo de Cuba.

Um segundo local, anteriormente não revelado, situa-se perto de El Salao, no extremo leste de Santiago de Cuba. Imagens de satélite de março de 2024 mostram um enorme CDAA como o de Bejucal.

O terceiro, situado em Wajay, fica menos de 10 quilômetros a norte de Bejucal. Embora menor, a instalação mostra sinais de participação chinesa em operações de vigilância eletrônica. Os investigadores do CSIS citam perímetros de segurança visíveis e postos de guarda como provas de atividade militar ou de serviços secretos.

Uma quarta base opera em Calabazar, nos arredores de Havana. Essa área também abriga um parque solar construído em 2012 pela China National Machinery Import and Export Corporation, outra peça da infraestrutura estratégica chinesa na região.

China observa lançamentos dos EUA

A localização e o design das bases de inteligência chinesas em Cuba sugerem que elas podem rastrear satélites e interceptar comunicações de downlink, aponta o CSIS no relatório de 2024. Um sistema, provavelmente instalado na localidade de Bejucal nos últimos anos, fica “dentro do alcance para monitorar lançamentos de foguetes do Cabo Canaveral e do Centro Espacial Kennedy da NASA”, destaca o texto.

A China interesse particular em estudar os lançamentos realizados pela SpaceX, incluindo os propulsores reutilizáveis Falcon 9 e Falcon Heavy, uma vez que está tentando reduzir o hiato tecnológico com os Estados Unidos em termos de capacidades de lançamento espacial.

As ambições militares globais da China estão bem-documentadas e Cuba oferece ao Exército de Libertação Popular um “ponto de apoio atrativo” no Caribe, concluiu o CSIS no ano passado.

Uma avaliação não confidencial dos serviços secretos norte-americanos, divulgada em fevereiro de 2024, reforça esse aviso, apontando Cuba entre “vários países onde a China procura estabelecer instalações militares”, segundo o relatório de 2024.

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