Segurança
'Cubano' treinado na Rússia lidera inteligência policial na Nicarágua
Comissário-geral Zhukov Serrano, que tem ligações com Havana e Moscou, lidera a polícia da Nicarágua durante período de crescente influência cubana. Seu treinamento em serviço secreto reforça os esforços para proteger a família Ortega-Murillo de ameaças.
![Vice-diretor geral da Polícia Nacional da Nicarágua e comissário-geral Zhukov Serrano durante sua promoção em 2019 pelo Presidente Daniel Ortega. [Polícia Nacional da Nicarágua]](/gc4/images/2024/10/29/47649-zhukov_y_ortega-600_384.webp)
Por Rómulo González |
Os antecedentes de um importante agente da polícia nicaraguense coincidem com o alinhamento do regime com as ditaduras russa e cubana.
Sob o comando do presidente Daniel Ortega, o verdadeiro poder reside nos elementos operacionais dos órgãos de segurança.
Entre eles, o oficial da Polícia Nacional Zhukov Serrano, 58 anos, é fundamental na orquestração do intercâmbio de informações entre a Rússia, Cuba e Nicarágua.
Serrano, vice-diretor geral da Polícia Nacional e chefe da Direção de Inteligência Policial, ocupa o posto de comissário-geral.
![Comissário-geral Zhukov Serrano na 12ª Reunião Internacional de Altos Representantes para Questões de Segurança em São Petersburgo, Rússia, em abril. [14ymedio]](/gc4/images/2024/10/29/47650-zhukov22-600_384.webp)
![Comissário-geral Zhukov Serrano (à direita) durante sua última visita à Rússia. No início de setembro, ele fez parte de uma delegação da Nicarágua, que incluiu Laureano Ortega (centro), filho do presidente Daniel Ortega, e a vice-presidente do país, Rosario Murillo. Eles posaram com o general Sergei Shoigu (centro), secretário do Conselho de Segurança Russo. [14ymedio]](/gc4/images/2024/10/29/47653-zhukov33-600_384.webp)
Embora algumas fontes afirmem que ele é natural de Ocotal, na Nicarágua, seus colegas mais próximos da polícia afirmam que ele nasceu em Havana no fim dos anos 1960, quando os seus pais nicaraguenses viviam em Cuba.
Como resultado, subordinados e colegas o chamam de “o cubano”.
Alguns deles falaram sob anonimato por razões de segurança para este artigo.
Na Nicarágua, a exposição de segredos como estes leva muitas vezes a torturas prolongadas, acusações de serem espiões da CIA e, eventualmente, à morte – punições que podem inclusive se estender a familiares.
Discípulo de Goyo
“Ele vem da turma de Goyo”, revela uma fonte, se referindo a Lenin Gregorio Cerna, antigo chefe da Direção-Geral de Segurança do Estado (DGSE).
“Desde muito jovem, [Serrano] fez parte dessas estruturas, trabalhando ao lado de Goyo sob a orientação do coronel cubano Renán Montero”, explica a fonte.
Cerna liderou as operações da polícia secreta e da contra-espionagem na década de 1980 para suprimir a dissidência interna.
Montero é considerado o pai da inteligência e da contra-espionagem do regime sandinista na década de 1980, moldando particularmente a DGSE e a Quinta Direção, uma unidade operacional que recolheu informações no exterior.
É por isso que, segundo outra fonte, o regime de Ortega reflete o “modelo cubano” de repressão.
Serrano foi recrutado desde o início pela Direção de Segurança do Estado do Ministério do Interior de Fidel Castro, dizem aqueles que o chamam de “o cubano”.
Embora pouco se saiba sobre seus primeiros anos, tais fontes afirmam que ele nasceu em Cuba e lá passou pelo menos parte de sua infância.
Posteriormente, Serrano ingressou na DGSE da Nicarágua, embora as fontes não especifiquem quando chegou ao país para entrar na polícia secreta. No entanto, eles confirmam que Montero foi quem “o trouxe”.
Agentes cubanos que conheceram o jovem Serrano o recrutaram cedo porque acreditavam que seus pais tinham ligações com a luta revolucionária na Nicarágua, dizem as fontes do Entorno.
“Como um bom aluno da Segurança do Estado Cubano, ele recebe diretrizes de Havana e tem total confiança deles”, segundo um oficial de alta patente que conversou com Entorno.
A rápida ascensão de Serrano na Polícia Nacional é atribuída "à confiança depositada nele por Daniel Ortega e [a vice-presidente] Rosario Murillo por ser um discípulo de Goyo. Ortega tem grande confiança em Cerna e o promoveu com base nessas recomendações ", disse o oficial.
Cubanos na Nicarágua
Os conselheiros militares e de inteligência cubanos estão presentes na Nicarágua desde o início da década de 1980, ajudando a orientar as estratégias políticas da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), da qual Ortega é secretário-geral.
Em 1990, após a histórica derrota eleitoral da FSLN para Violeta Barrios de Chamorro, as relações diplomáticas com Cuba diminuíram.
Os principais conselheiros cubanos de inteligência, incluindo Montero, partiram da Nicarágua, o que acarretou uma forma mais encoberta de cooperação com o comando da Polícia Nacional.
“Esta mudança ocorreu porque muitos agentes da DGSE e do antigo Ministério do Interior se juntaram à Polícia Nacional para evitar a caçada que eles acreditavam que começaria”, explicou um analista de segurança que pediu anonimato por razões de segurança, uma vez que sua família permanece na Nicarágua. .
“A Polícia Nacional sempre foi acessorada por Havana. Desde o regresso de Ortega ao poder em 2007, o papel e a natureza dela evoluíram gradualmente, a transformando efetivamente no novo aparelho de Segurança do Estado”, afirmou o observador.
Desde 2018, “os conselheiros cubanos aumentaram significativamente sua presença e seu papel dentro da estrutura policial. Relatórios bem documentados revelam que cubanos disfarçados de agentes da polícia foram detidos por manifestantes durante confrontos naquele ano”, acrescentou.
Em junho de 2019, o meio de comunicação independente 14ymedio informou que aproximadamente 200 conselheiros cubanos tinham chegado à Nicarágua em voos da Conviasa vindos de Havana.
Estes conselheiros, todos membros da Direção de Segurança do Estado de Cuba, foram contratados para treinarem agentes nos sistemas policial, de imigração e penal.
Os cubanos chegaram a Manágua com passaportes diplomáticos, afirma o relatório, citando fontes de alto nível do regime de Ortega.
Estes estrategistas cubanos ensinaram aos seus homólogos nicaraguenses como usar a repressão violenta para manter a ditadura de Ortega, dizem outros relatos da mídia.
Relações com a Rússia
Outro detalhe de Serrano são seus laços estreitos com a Rússia.
Durante um evento público em dezembro de 2022, Ortega revelou que o pai de Serrano era um admirador do marechal Georgy Zhukov, um destacado comandante do Exército Vermelho na Segunda Guerra Mundial.
Essa admiração se reflete no primeiro nome de Serrano.
Elogiando ainda mais Serrano, Ortega destacou que ele completou estudos de especialização na Rússia e é fluente em russo.
Segundo oficiais de alta patente entrevistados para esta reportagem, grande parte do trabalho de Serrano foi feita no Departamento H da Polícia Nacional.
Este departamento é parte da Diretoria de Inteligência Policial e cuida de operações secretas.
“Independentemente de ter sido treinado por Cuba ou Rússia, o que está claro é que o comissário-geral Serrano é um agente treinado nas sombras, com um histórico de envolvimento em operações secretas”, disse uma das fontes.
“A experiência lhe rendeu a confiança de Ortega e de oficiais em Havana e Moscou para liderar as ações de combate às ameaças contra a família Ortega-Murillo na Nicarágua”, concluiu.