Segurança

Empresas chinesas de segurança privada na América Latina representam risco de espionagem

Muitos dos empregados das companhias chinesas de segurança privada que operam na América Latina têm antecedentes no exército chinês e servem frequentemente como elos de ligação com este.

Presidente chinês, Xi Jinping (centro, à esquerda), é rodeado por seguranças enquanto se prepara para embarcar em um carro, pouco depois de chegar ao aeroporto internacional de Macau, em dezembro de 2019. [Anthony Wallace/AFP]
Presidente chinês, Xi Jinping (centro, à esquerda), é rodeado por seguranças enquanto se prepara para embarcar em um carro, pouco depois de chegar ao aeroporto internacional de Macau, em dezembro de 2019. [Anthony Wallace/AFP]

Por Giselle Alzate |

BOGOTÁ – As empresas chinesas de segurança privada têm se expandido pela América Latina, aumentando os riscos para os países em que operam, alertam observadores.

Estas companhias aumentaram significativamente sua presença, oferecendo uma vasta gama de bens e serviços, desde sistemas de vigilância eletrônica até agentes armados para proteção.

Entre as 7000 empresas de segurança registadas na China, pelo menos 40 operam a nível internacional, incluindo na América Latina, de acordo com um artigo publicado no The Diplomat por R. Evan Ellis e Leland Lazarus em 2023.

“Embora as companhias de segurança privada sediadas na China tenham mantido um perfil discreto na América Latina e no Caribe, uma pesquisa na internet em chinês em sites como o Baidu revela várias firmas chinesas do setor operando ou buscando oportunidades na região”, diz o texto.

Manifestantes queimam bandeira chinesa enquanto protestam contra a Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) em Lima, Peru, em novembro. [Hugo Curotto/AFP]
Manifestantes queimam bandeira chinesa enquanto protestam contra a Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC) em Lima, Peru, em novembro. [Hugo Curotto/AFP]

Nicarágua, Venezuela e Cuba, controladas por regimes totalitários, são as mais suscetíveis a receberem empresas chinesas de segurança privada, observa a reportagem.

A Venezuela, rica em recursos naturais e liderada por um governo interessado em aprofundar os laços com a China, tornou-se um destino atrativo para estas companhias.

Na Nicarágua, a presença de firmas de segurança chinesas também tem crescido nos últimos anos, se alinhando com uma estreita relação sino-nicaraguense que inclui investimentos significativos e cooperação em vários setores.

Ao mesmo tempo, a presença de empresas de segurança chinesas em Cuba reflete uma estratégia geopolítica mais ampla, uma vez que Havana, historicamente aliada à Rússia, tem procurado diversificar suas parcerias internacionais através do reforço dos laços com Pequim.

Expandindo a presença

Além destes países, as empresas chinesas de segurança privada têm feito progressos na expansão das suas operações para a América Central, Colômbia, Argentina, Chile, Brasil, Equador e ilhas do Caribe.

Grande parte da procura resulta da necessidade de proteger os investimentos chineses em setores como mineração, energia e infraestrutura, onde a segurança de ativos e pessoal é fundamental.

Os países da América Latina enfrentam frequentemente desafios consideráveis que alimentam a procura por segurança privada, incluindo tráfico de drogas, crime organizado e conflitos internos.

No Peru, o China Security Technology Group estabeleceu uma parceria com a Grand Tai Peru através de um memorando de cooperação, centrada na prestação de serviços de segurança ao setor de mineração, de acordo com outro artigo escrito por Ellis publicado no The Diplomat em fevereiro.

Da mesma forma, a Beijing Dujie Security Technology Company estabeleceu presença na Argentina, enquanto o China Overseas Security Group afirma ter “conduzido investigações in loco para oportunidades” no país.

Na América Central, a Zhong Bao Hua An Security Company reporta “negócios de cooperação estratégica” no Panamá, El Salvador e Costa Rica, enquanto a Tie Shen Bao Biao apresenta serviços de proteção pessoal no Panamá.

Oportunidades de espionagem

A presença crescente de empresas de segurança privada da China na região poderá oferecer oportunidades para os agentes dos serviços secretos chineses e para as forças especiais do Exército de Libertação Popular (ELP) expandirem suas atividades, de acordo com o artigo de 2023.

“Muitos empregados de empresas de segurança sediadas na China têm antecedentes no ELP ou em outros serviços de segurança”, acrescenta o texto.

Os autores advertem que, à medida que Pequim aumenta suas operações militares e de inteligência no Hemisfério Ocidental – como o envio de balões de espionagem e o estabelecimento de instalações de inteligência eletrônica em Cuba –, os países latino-americanos devem permanecer vigilantes.

“A presença crescente de cidadãos chineses armados na região, dando prioridade aos interesses de suas operações e compatriotas, e inexperientes nas nuances dos protestos sociais e atividades criminosas na América Latina, poderia facilmente levar à morte ou ferimentos de moradores locais”, disseram os autores.

O envolvimento da China no setor de segurança e defesa na América Latina e no Caribe, embora relativamente pequeno, representa um fator estrategicamente significativo de seu engajamento regional.

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