Diplomacia

Paraguai e Taiwan reforçam aliança e desafiam pressão chinesa

Paraguai recusa-se a trair aliado em troca de incentivos econômicos temporários oferecidos pela China.

Ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, e embaixador de Taiwan, José Chih-Cheng Han, assinam memorando de entendimento sobre cooperação bilateral. [Ministério das Relações Exteriores do Paraguai]
Ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, e embaixador de Taiwan, José Chih-Cheng Han, assinam memorando de entendimento sobre cooperação bilateral. [Ministério das Relações Exteriores do Paraguai]

Por Analía Rojas |

ASSUNÇÃO – A assinatura de um memorando de entendimento para a cooperação entre o Paraguai e Taiwan em 12 de agosto é o sinal mais recente do fortalecimento das relações entre os dois países e de seu alinhamento frente à crescente pressão da China.

Pelo acordo, Taiwan fornecerá um determinado valor de ajuda não reembolsável ao governo paraguaio no período de 2023 a 2028, anunciou o Ministério das Relações Exteriores do Paraguai.

O documento foi assinado pelo ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, e pelo embaixador de Taiwan, José Chih-Cheng Han.

O pacto prevê a colaboração em vários projetos, nas áreas de segurança e defesa, saúde pública, habitação e educação, entre outras.

Presidente paraguaio, Santiago Peña (à esquerda), encontra-se com o então vice-presidente de Taiwan, Lai Ching-te, no Paraguai em agosto de 2023. [Lai Ching-te/Facebook]
Presidente paraguaio, Santiago Peña (à esquerda), encontra-se com o então vice-presidente de Taiwan, Lai Ching-te, no Paraguai em agosto de 2023. [Lai Ching-te/Facebook]

A assinatura ocorreu após a recente visita de Han ao presidente paraguaio, Santiago Peña, e ao Congresso do país no final de julho.

Na ocasião, acompanhado por uma missão de líderes empresariais taiwaneses, o embaixador discutiu com Peña oportunidades de investimento em tecnologia, educação e comércio.

O presidente reafirmou o compromisso do Paraguai em manter as relações com Taiwan, dizendo que o país não romperia esses laços para garantir um acordo comercial entre o Mercosul e a China.

Ele também enfatizou o potencial paraguaio para se tornar um polo importante na indústria de semicondutores, alavancando a liderança global de Taiwan no setor.

Peña destacou os atrativos do país sul-americano, citando vantagens como a abundância de recursos energéticos, a mão de obra jovem e a proximidade estratégica com os principais mercados.

Um dos projetos de cooperação prevê a introdução de ônibus elétricos taiwaneses no Paraguai, o que poderá significar uma grande modernização e redução de custos no transporte público do país.

Independência e soberania

A decisão paraguaia de manter relações com Taiwan foi recebida com grande interesse e apoio em vários círculos internacionais. A medida foi elogiada como um exemplo de independência e soberania na tomada de decisões diplomáticas.

Como parte dessa colaboração, será realizado o Primeiro Fórum Tecnológico Taiwan-Paraguai em Assunção nos dias 19 e 20 de agosto.

O evento reunirá especialistas taiwaneses em áreas como segurança cibernética, inteligência artificial, semicondutores, bioinformática, engenharia médica, sustentabilidade ambiental e pesquisa educacional.

Compromisso com Taiwan

Em maio, Santiago Peña participou da posse de Lai Ching-te como novo presidente de Taiwan, um gesto que destaca o firme apoio e os laços estreitos do Paraguai com a ilha asiática.

"Neste novo mandato presidencial, reafirmamos o nosso compromisso com Taiwan, explorando novas oportunidades de cooperação”, disse Peña na ocasião.

A presença e as declarações do presidente são particularmente significativas, uma vez que o Paraguai é o único país da América do Sul e um dos poucos no mundo a manter relações diplomáticas oficiais com Taiwan.

Na última década, vários parceiros latino-americanos de Taipei sucumbiram à pressão comercial chinesa e romperam os laços com Taiwan para estabelecer relações diplomáticas e comerciais com Pequim.

Na América Latina, apenas Guatemala, Haiti, Belize e Paraguai continuam apoiando a ilha asiática.

O presidente chinês, Xi Jinping, intensificou os esforços para isolar diplomaticamente Taiwan, emitindo advertências ao Paraguai diante da proximidade mantida pelos dois países.

Em 2020, o Senado paraguaio defendeu-se de outra pressão da China para que o país rompesse os laços com Taiwan.

Nem a oferta de vacinas contra a COVID-19 por parte de Pequim conseguiu influenciar Assunção.

Em críticas diretas ao Paraguai, o governo chinês incitou Peña a reconsiderar sua posição.

Xi espera que o Paraguai siga o exemplo de outros países sul-americanos que estabeleceram relações diplomáticas com a China em troca de benefícios econômicos e comerciais significativos.

Ao resistir às pressões e ofertas de Pequim, o Paraguai mantém um posicionamento firme.

"Minha posição não é a uma questão de nostalgia ou de amizade, mas há bases sólidas, há fatos concretos que mostram que é mais vantajoso manter uma relação com Taiwan do que com a China continental", explicou Peña em julho de 2023.

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