Diplomacia

Suspeitas de espionagem da Huawei: Paraguai investiga ataque ao embaixador de Taiwan

Polícia flagrou dois homens em um carro que apontavam dispositivo eletrônico para a residência do embaixador de Taiwan.

Bandeiras do Paraguai (à esquerda) e de Taiwan expostas do lado de fora da embaixada de Taiwan em Assunção. [Norberto Duarte/AFP]
Bandeiras do Paraguai (à esquerda) e de Taiwan expostas do lado de fora da embaixada de Taiwan em Assunção. [Norberto Duarte/AFP]

Por María Giménez |

ASSUNÇÃO – As autoridades paraguaias investigam o possível envolvimento da multinacional chinesa Huawei em um suposto caso de espionagem contra o embaixador de Taiwan, Han Chih-cheng.

O incidente teria ocorrido em 9 de outubro, quando um Audi cinza esteve estacionado em frente à residência do embaixador em Assunção.

Um funcionário da embaixada notou atividades suspeitas e alertou a polícia.

Quando um agente se aproximou do veículo, os dois ocupantes ligaram o motor e fugiram do local, segundo reportagem do site Infobae de 18 de dezembro.

Polícia paraguaia visita a sede da Huawei em Assunção para coletar informações sobre os ocupantes de um veículo avistado no início de outubro próximo à residência do embaixador de Taiwan no Paraguai. [InformarPy]
Polícia paraguaia visita a sede da Huawei em Assunção para coletar informações sobre os ocupantes de um veículo avistado no início de outubro próximo à residência do embaixador de Taiwan no Paraguai. [InformarPy]

Com base na placa do carro, os investigadores rastrearam o veículo e descobriram que pertencia à Huawei Technologies Paraguai, empresa ligada ao Partido Comunista da China (PCCh).

"Havia um 'homem com traços orientais' posicionado em frente à residência do embaixador Han Chih-cheng, apontando o que parecia ser um artefato eletrônico para o prédio diplomático. As câmeras de vigilância têm tudo registrado", publicou o Infobae.

O motorista era um homem paraguaio chamado Dionísio Duarte, mas a identidade do segundo indivíduo permanece desconhecida.

Testemunhas descreveram a pessoa não identificada como quem apontava ativamente o dispositivo para a residência do embaixador.

Os investigadores descreveram o incidente como “muito incomum”, observando que os indivíduos pareciam estar coletando informações.

Espionagem cibernética chinesa

A embaixada de Taiwan no Paraguai reforçou a segurança em meio à preocupação de que os acontecimentos recentes possam envolver tentativas de comprometer a confidencialidade das suas operações diplomáticas, potencialmente ligadas à infiltração de hackers chineses nas redes do governo paraguaio.

Uma declaração conjunta da Embaixada dos EUA no Paraguai e do Ministério da Informação e Tecnologia paraguaio, em 26 de novembro, revelou evidências de espionagem cibernética chinesa contra os sistemas governamentais do país sul-americano.

O grupo de espiões “Flax Typhoon”, ligado ao governo chinês, estaria por trás dessas atividades, aponta o comunicado.

De acordo com a declaração, o Flax Typhoon utilizou um malware para se infiltrar em sistemas, extrair informações confidenciais e manter uma presença oculta por longos períodos.

A Microsoft já havia alertado, em meados de 2023, que o grupo vinha conduzindo operações semelhantes contra organizações em Taiwan, com o objetivo de coletar inteligência por meios cibernéticos sofisticados.

Diplomata expulso

O incidente ocorreu após a expulsão, em dezembro, de um membro da delegação chinesa credenciado para participar de uma reunião da UNESCO no Paraguai.

Em vez de participar do encontro em questão, Xu Wei interferiu em assuntos internos do país, acusou o governo paraguaio, que revogou o visto do diplomata antes de ele partir para São Paulo, em 7 de dezembro.

Xu, um representante chinês na América Latina, gerou críticas durante uma reunião com políticos paraguaios no Congresso em 4 de dezembro.

O diplomata abertamente incentivou o Paraguai a romper os laços com Taiwan e estabelecer relações diplomáticas com a China, afirmando: "não se trata de China e Taiwan; é China ou Taiwan. Recomendo que o Paraguai tome a decisão certa o mais rápido possível. Isso exige coragem".

O Paraguai é um dos 12 países do mundo que reconhecem Taiwan, uma posição que Pequim se recusa a aceitar.

Entre essas nações estão o Haiti e vários países insulares menores do Caribe e do Pacífico. Pequim vê Taiwan como parte integrante do seu território e procura ativamente isolar a ilha diplomaticamente.

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