Ciência e Tecnologia

Huawei na América Latina: uma fábrica de engano, espionagem e corrupção

À medida que investigações sobre a empresa se intensificam, casos recentes geram preocupações com transparência, ética corporativa e a crescente influência militar de Pequim na América Latina por meio de empresas como a Huawei.

Compradores testam telefones Huawei em uma loja em Xangai. [AFP]
Compradores testam telefones Huawei em uma loja em Xangai. [AFP]

Por Juan Camilo Escorcia |

BOGOTÁ – As autoridades colombianas iniciaram uma investigação sobre a gigante chinesa de telecomunicações Huawei por supostas violações dos direitos do consumidor, expondo mais uma vez o longo histórico de fraudes, espionagem e corrupção da empresa na América Latina.

A Huawei, que já estava no centro de um escândalo de suborno na União Europeia, agora é investigada na Colômbia por supostamente usar publicidade enganosa — uma infração que, se comprovada, pode resultar em uma multa pesada.

"A investigação está atualmente sob avaliação para a abertura de um período probatório", disse a Superintendência de Indústria e Comércio da Colômbia (SIC) ao Entorno. O órgão, que supervisiona a proteção ao consumidor, apresentou acusações contra a Huawei em janeiro.

A empresa apresentou sua defesa em 7 de fevereiro.

CEO da Huawei, Ren Zhengfei, que serviu no Exército de Libertação Popular Chinês (ELP) como técnico e engenheiro, participa de uma sessão do Fórum Econômico Mundial (FEM) anual em Davos, na Suíça, em janeiro de 2020. [Fabrice Coffrini/AFP]
CEO da Huawei, Ren Zhengfei, que serviu no Exército de Libertação Popular Chinês (ELP) como técnico e engenheiro, participa de uma sessão do Fórum Econômico Mundial (FEM) anual em Davos, na Suíça, em janeiro de 2020. [Fabrice Coffrini/AFP]

Segundo um comunicado divulgado pela SIC à imprensa em 17 de janeiro, a Diretoria de Investigações e Proteção ao Consumidor do órgão examinou a publicidade da Huawei e inspecionou seu site, descobrindo que a empresa havia "supostamente" fornecido aos consumidores "informações que careciam de clareza, veracidade e verificação".

Além disso, a Huawei promoveu vendas online sem divulgar termos e condições essenciais.

A investigação em andamento determinará se a Huawei violou os direitos do consumidor por meio de promoções enganosas de seus smartphones durante as vendas da Black Friday na Colômbia.

À medida que se intensifica a investigação sobre as práticas da Huawei, este último caso ressalta as preocupações mais amplas com relação às operações da empresa na América Latina. O episódio levanta questões sobre transparência, ética corporativa e a crescente influência de Pequim na região.

Escândalo da Huawei na Costa Rica

Os problemas jurídicos da Huawei na América Latina continuam aumentando, uma vez que a gigante chinesa de telecomunicações enfrenta queixas criminais na Costa Rica por supostos crimes contra o tesouro nacional. Na denúncia, apresentada pelo presidente Rodrigo Chaves em 11 de dezembro, a Huawei e ex-funcionários do Instituto Costa-Riquenho de Eletricidade (ICE) são acusados de fraude, suborno e tráfico de influência.

Ao anunciar o processo judicial em uma coletiva de imprensa, Chaves afirmou que a denúncia tinha como alvos específicos o gerente da Huawei e seu representante geral na Costa Rica. Em dezembro, o site Semanario Universidad relatou que as acusações incluíam tentativas de manipular contratos governamentais e ganhar influência indevida sobre instituições públicas.

A Huawei vem buscando agressivamente contratos na Costa Rica para infraestrutura 5G e fornecimento de equipamentos. Embora a empresa tenha se destacado como um dos principais fornecedores da ICE nos últimos anos, sua relação com o governo vem se deteriorando desde que Chaves assinou um decreto em agosto de 2023.

A medida restringe contratos 5G a empresas de países que assinaram a Convenção de Budapeste sobre Crimes Cibernéticos — uma categoria que exclui a China.

Enquanto isso, autoridades costa-riquenhas, trabalhando com os Estados Unidos, descobriram intrusões cibernéticas ligadas a "atores maliciosos baseados na China", que se infiltraram nas redes de comunicação e tecnologia da Costa Rica. A presidência costa-riquenha e a embaixada dos EUA em San José revelaram as descobertas em uma declaração conjunta publicada no X em 17 de dezembro.

Investigação de espionagem paraguaia

Autoridades do Paraguai estão investigando al potencial participação da Huawei em um caso de espionagem envolvendo o embaixador taiwanês Han Chih-Cheng. O incidente ocorreu em 9 de outubro, quando um Audi cinza foi visto do lado de fora da residência do diplomata em Assunção.

De acordo com o site Infobae, quando um policial se aproximou do veículo, dois ocupantes fugiram do local. Imagens de vigilância teriam capturado um "homem com características orientais" apontando o que parecia ser um dispositivo eletrônico para a residência do embaixador.

Os investigadores rastrearam o carro até a Huawei Technologies Paraguai. O motorista foi identificado como um cidadão paraguaio, mas o segundo indivíduo permanece não identificado.

Semanas depois, em 26 de novembro, uma declaração conjunta da Embaixada dos EUA no Paraguai e do Ministério da Informação e Tecnologia da Comunicação do Paraguai informou que um grupo ligado à China, o "Flax Typhoon", havia conduzido espionagem cibernética contra sistemas do governo paraguaio.

Polêmica do lobby chileno

A influência da Huawei no Chile levantou preocupações sobre táticas questionáveis ​​de lobby ligadas à execução imprópria de contratos. Em 8 de setembro de 2023, Miguel Crispi, o principal conselheiro do presidente, encontrou-se com um alto executivo da Huawei no Palácio do Governo, gerando preocupações com transparência tanto por parte da oposição quanto dos membros do partido no poder.

O advogado criminalista Luis Hermosilla, que assessorou Crispi e a Huawei, também compareceu à reunião. Agora em prisão preventiva, Hermosilla enfrenta acusações de suborno, lavagem de dinheiro e crimes fiscais não relacionados àquela reunião.

A reunião ocorreu poucas semanas antes de o presidente Gabriel Boric visitar a China, onde seu governo assinou um acordo de cooperação tecnológica com a Huawei.

Enquanto isso, vazamentos divulgados pelo Ex-Ante em dezembro de 2024 sugerem que o ex-ministro do Interior Andrés Chadwick foi contratado por Hermosilla para aconselhar uma empresa de tecnologia que, supostamente, seria a Huawei.

Esse caso reforça as preocupações crescentes sobre a influência das empresas chinesas nos setores estratégicos da América Latina e seus laços com governos locais.

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