Ciência e Tecnologia

Costa Rica intensifica medidas de segurança cibernética em meio a relatos de agentes maliciosos baseados na China

Em meio às crescentes tensões entre a Costa Rica e a Huawei, investigação revela que grupos cibercriminosos baseados na China miram os sistemas de telecomunicações e tecnologia da Costa Rica.

Loja da gigante chinesa de telecomunicações Huawei em Pequim exibe adesivo vermelho que diz “5G”. [Nicolas Asfouri/AFP]
Loja da gigante chinesa de telecomunicações Huawei em Pequim exibe adesivo vermelho que diz “5G”. [Nicolas Asfouri/AFP]

Por Inés Suárez |

SAN JOSÉ – Evidências de que agentes cibernéticos maliciosos baseados na China se infiltraram nas redes da Costa Rica são o mais recente impulso para restrições às empresas de telecomunicações chinesas.

No final de dezembro, uma análise minuciosa da infraestrutura de comunicação do país – realizada em colaboração com os Estados Unidos – revelou a presença de “atores maliciosos baseados na China”.

"A revisão revelou invasões de grupos cibercriminosos localizados na China em sistemas de telecomunicações e tecnologia na Costa Rica", atesta uma declaração conjunta da Presidência da Costa Rica e da Embaixada dos EUA em San José, publicada no X em 17 de dezembro.

A descoberta ocorreu em meio ao aumento das tensões entre o governo da Costa Rica e a empresa chinesa Huawei, após um suposto caso de corrupção citado pelo presidente Rodrigo Cháves.

Instituto Costarriquenho de Eletricidade (ICE) está firmando parceria com a Universidade da Costa Rica para ser pioneiro em uma prova de conceito 5G em locais estratégicos do campus universitário. [GELO]
Instituto Costarriquenho de Eletricidade (ICE) está firmando parceria com a Universidade da Costa Rica para ser pioneiro em uma prova de conceito 5G em locais estratégicos do campus universitário. [GELO]

No dia 11 de dezembro, Cháves apresentou uma denúncia criminal contra a Huawei e ex-funcionários do Instituto Costarriquenho de Eletricidade (ICE) por crimes contra o tesouro da Costa Rica.

"Este é possivelmente um dos maiores e mais descarados escândalos de corrupção que vimos neste país, e este governo não deixa estas coisas passarem. Isso me dói muito. Tem implicações para além das nossas fronteiras, mas não nos acovardamos diante de situações dessa natureza", disse ele em entrevista coletiva após apresentar a denúncia formal.

A Huawei busca contratos para construir redes 5G e fornecer à Costa Rica equipamentos relacionados.

Festa da Huawei

No final de maio, o ICE demitiu um de seus funcionários de alto escalão por ele ter participado de uma festa organizada pela Huawei em San José, à qual compareceram mais de 70 funcionários do Instituto, em abril.

A empresa chinesa foi uma das principais fornecedoras do ICE nos últimos anos.

As relações entre a Costa Rica e a Huawei esfriaram desde que Chaves assinou, em agosto de 2023, um decreto que determina que as empresas interessadas em contratos para a construção e fornecimento de equipamentos de redes 5G na Costa Rica sejam de países signatários da Convenção de Budapeste sobre Crimes Cibernéticos.

O acordo em questão, que entrou em vigor em julho de 2004, é o primeiro tratado internacional concebido com o objetivo de uniformizar a legislação entre países para combater crimes cibernéticos e crimes relacionados à internet.

A Costa Rica é um dos signatários, mas a China não.

Em seu decreto, Cháves classificou as empresas que utilizam equipamentos de países não signatários da Convenção de Budapeste como fonte de “alto risco” para a segurança cibernética.

Ele destacou preocupações com potenciais “intrusões patrocinadas pelo Estado através da cadeia de abastecimento 5G” e com a capacidade de “um governo estrangeiro” para manipular fornecedores de software e hardware.

A Huawei está tomando medidas legais para poder concorrer a contratos na Costa Rica.

A empresa chinesa tentou impedir a implementação do decreto de Cháves apresentando um recurso de proteção, que foi negado pelo Tribunal Constitucional.

Além disso, a Huawei solicitou medidas cautelares ao Tribunal de Contencioso Administrativo, que suspendeu temporariamente as licitações do ICE.

Cháves destacou que o seu governo “não recuará” na aplicação do decreto, que, segundo ele, tem como objetivo proteger os dados e informações de empresas e indivíduos.

Inúmeras acusações

Vários países europeus, o Canadá e os Estados Unidos vêm impedindo que empresas chinesas como a Huawei participem de suas redes de telecomunicações.

A companhia enfrenta acusações internacionais de espionagem, e seus laços estreitos com o governo chinês alimentam preocupações de que ela possa ser usada para espionagem patrocinada pelo Estado.

Como a Huawei é uma importante fornecedora de equipamentos de telecomunicações, incluindo redes 5G, Pequim poderia explorar sua tecnologia para interceptar comunicações ou realizar ataques cibernéticos.

Uma das acusações contra a multinacional chinesa é a de que ela instala “portas dos fundos” nos seus equipamentos, permitindo ao governo chinês ter acesso a dados sensíveis.

Além disso, críticos acusam a empresa de roubar tecnologia de empresas americanas e europeias.

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