Por María Giménez | 2024-12-11

ASSUNÇÃO – Um membro da delegação chinesa que visitava o Paraguai para uma reunião da UNESCO foi expulso por "interferência em assuntos internos", de acordo com uma declaração de 5 de dezembro do Ministério das Relações Exteriores do Paraguai.

"O Ministério das Relações Exteriores cancelou o visto do diplomata Xu Wei, da República Popular da China, e deu a ele 24 horas para deixar o país devido a interferências em assuntos internos", informou o ministério no X.

Após o cancelamento do visto, o diplomata chinês partiu do Paraguai ao meio-dia de 7 de dezembro com destino a São Paulo.

Xu, importante enviado chinês à América Latina, motivou críticas em Taipei após se reunir com políticos na sede do Congresso do Paraguai, em 4 de dezembro.

Segundo o vice-ministro das Relações Exteriores, Juan Baiardi, em vez de participar da reunião da UNESCO para a qual havia sido credenciado, Xu participou de atividades políticas não autorizadas no Congresso.

“Seu visto foi revogado e ele deve partir”, disse Baiardi, segundo reportagem da AFP de 5 de dezembro. Ele enfatizou que Xu “se dedicou à política e interferiu em nossos assuntos internos”.

Provocando polêmica

Jorge Kronawetter, diretor da Direção Nacional de Migração, disse ao jornal paraguaio ABC que demorou algum tempo localizar Xu em 5 de dezembro para notificá-lo formalmente da revogação do visto.

O atraso ocorreu porque o diplomata não estava hospedado no hotel que havia informado.

“Xu se recusou a receber a notificação, se escondendo e se trancando em seu quarto”, explicou Kronawetter.

As autoridades de migração acabaram deixando o aviso com a administração do segundo hotel como testemunha.

Xu estava em Assunção para participar da 19ª Reunião do Comitê Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial, que terminou em 7 de dezembro.

Mas suas atividades foram além da agenda do evento.

Após se reunir com o senador da oposição Ever Villalba e outros parlamentares, Xu conversou com jornalistas que cobriam o Congresso, garantindo a eles que o Paraguai lucraria economicamente com o estabelecimento de relações diplomáticas com a China.

“É uma pena. Os paraguaios estão entregando seus lucros a intermediários”, afirmou.

Xu pediu que o Paraguai reconsiderasse sua posição, enfatizando a natureza inegociável do “princípio de Uma Só China”.

"Neste caso, não é a China e Taiwan. É a China ou Taiwan. Recomendo que o Paraguai tome a decisão correta o mais rápido possível. Sim, de fato. É preciso coragem", disse.

'Infiltrado'

A embaixada de Taiwan em Assunção criticou o diplomata chinês como um "infiltrado" que tentava "arruinar a forte amizade entre Paraguai e Taiwan com a falácia de 'uma só China'".

“A República da China (Taiwan) é um país independente e soberano (…). O regime comunista chinês não representa e nunca representará Taiwan”, afirmou a embaixada.

O presidente taiwanês, Lai Ching-te, pediu que Pequim se abstenha de "ameaças e provocações" e enfatizou o compromisso de Taiwan com a sua própria soberania, segundo a AFP.

O presidente do Congresso do Paraguai, senador Basilio Núñez, criticou a visita do diplomata chinês, afirmando que se recusou a se reunir com Xu no Congresso. Em vez disso, Xu se dirigiu aos parlamentares da oposição, segundo o jornal paraguaio ABC.

O senador Natalício Chase também condenou as ações de Xu, particularmente as suas declarações sobre as relações do Paraguai com Taiwan após sua reunião com parlamentares paraguaios.

"Apoio totalmente a decisão de revogar seu visto. Este funcionário do Ministério das Relações Exteriores da China ultrapassou os limites. A medida foi apropriada, tanto pela forma como ele conduziu suas atividades quanto por expressar opiniões sobre o comportamento que o Paraguai deveria adotar", disse Chase no programa de televisão Arriba Hoy em 6 de dezembro.

O Paraguai não mantém relações diplomáticas com a China devido ao reconhecimento de Taiwan, postura que Pequim não aceita. Globalmente, apenas 12 países, entre os quais o Paraguai, o Haiti e várias pequenas nações insulares do Caribe e do Pacífico, reconhecem Taiwan, que Pequim reivindica como seu território.