Crime e Justiça

Mulheres colombianas são escravizadas no comércio sexual da China

Recente desmantelamento de uma rede de tráfico na Colômbia expõe os fracos controles sobre o tráfico sexual na China, onde a prostituição é ilegal, mas ainda ocorre secretamente em bares de karaoke e salões de cabeleireiro.

Massagista suspeita de prostituição durante operação policial em salão de Pequim, em junho de 2011. [Arquivo/AFP]
Massagista suspeita de prostituição durante operação policial em salão de Pequim, em junho de 2011. [Arquivo/AFP]

Por Giselle Alzate |

BOGOTÁ -- Com apenas 19 anos, uma tentadora oferta de emprego como comerciante atacadista a atraiu para fora da Colômbia, levando-a a deixar tudo para trás e embarcar em uma viagem à China.

Na chegada a Guangzhou, todas as suas esperanças foram destruídas.

Os anfitriões tomaram seu passaporte e disseram que ela tinha de pagar a dívida contraída com os supostos empregadores, que haviam comprado suas passagens de avião, pago as taxas do visto e arcado com outras despesas.

Para pagar a dívida, ela teve de prestar serviços sexuais em clubes e karaokes por toda a cidade.

Pedestre passa por luzes de neon em Hong Kong que mostram preços para prostitutas com base na origem étnica, em agosto de 2012. [Philippe López/AFP]
Pedestre passa por luzes de neon em Hong Kong que mostram preços para prostitutas com base na origem étnica, em agosto de 2012. [Philippe López/AFP]

O caso da jovem de 19 anos, cuja identidade foi mantida sob sigilo para sua proteção, chama atenção para a situação de inúmeras mulheres em toda a Colômbia e no resto da América Latina que foram vítimas de traficantes de seres humanos com operações na China.

Tráfico de pessoas

No final de outubro, o Ministério Público colombiano anunciou a mais recente de uma série de detenções relacionadas com o tráfico de mulheres para exploração sexual na China.

O proprietário de uma agência de viagens e um dos seus funcionários foram detidos sob a acusação de participação em uma rede transnacional de tráfico de pessoas.

Em um comunicado em 20 de outubro, a acusação revelou que, entre junho de 2016 e outubro de 2019, os dois indivíduos haviam adquirido “passagens aéreas e arranjado passaportes, vistos, entre outros documentos, para que quatro mulheres (…) pudessem viajar para Guangzhou (China)”.

José Gaona, da Venezuela, e Angie Araque, da Colômbia, enfrentarão processos por grave associação criminosa e tráfico de pessoas.

As suas vítimas, com idades entre 19 e 25 anos, foram atraídas a viajarem à China com promessas de empregos como comerciantes atacadistas.

Porém, assim que chegaram ao país asiático, os encarregados confiscaram seus passaportes e as mulheres foram "informadas de que deveriam praticar atividades sexuais em um estabelecimento noturno para cobrir uma dívida com despesas de viagem e custos do dia-a-dia”, segundo o Ministério Público.

Três das vítimas escaparam e, com a ajuda do consulado colombiano em Guangzhou, regressaram à Colômbia, onde relataram suas experiências angustiantes.

Abuso físico e emocional

Em seu depoimento às autoridades, as vítimas relataram que sofriam abusos físicos e emocionais destinados a abalar sua moral e a obrigá-las a cumprir as exigências da rede de tráfico de pessoas.

Os acusados ​​tinham como alvo mulheres de áreas pobres da região central da Colômbia, atraindo-as com ofertas de emprego enganosas na China.

O desmantelamento dessa rede de tráfico de seres humanos expõe os fracos controles da China sobre o comércio sexual. A prostituição, embora ilegal, ocorre secretamente em bares de karaokê e salões de cabeleireiro.

Em média, uma rede de tráfico de pessoas investe cerca de US$ 6 mil para transportar uma vítima da Colômbia para a China, de acordo com um estudo da Universidade de La Sabana, de Bogotá.

Em apenas três meses de exploração sexual, essas redes podem gerar cerca de US$ 60 mil com cada vítima.

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