Crime e Justiça

Polícia resgata 120 vítimas de tráfico do grupo Tren de Aragua no Peru

Operação conjunta entre Peru e EUA prendeu 24 suspeitos de pertencerem ao Tren de Aragua em 7 de fevereiro em vários locais de Lima.

Agentes do Departamento de Investigações de Segurança Interna dos EUA (HSI) e a Polícia Nacional do Peru (PNP) capturaram 24 membros do Tren de Aragua em vários locais de Lima. Eles resgataram 120 mulheres vítimas de tráfico humano para exploração sexual e laboral. [Embaixada dos EUA no Peru].
Agentes do Departamento de Investigações de Segurança Interna dos EUA (HSI) e a Polícia Nacional do Peru (PNP) capturaram 24 membros do Tren de Aragua em vários locais de Lima. Eles resgataram 120 mulheres vítimas de tráfico humano para exploração sexual e laboral. [Embaixada dos EUA no Peru].

Por John Caicedo |

LIMA – Cerca de 120 mulheres, incluindo três menores, foram resgatadas durante uma operação conjunta da Polícia Nacional do Peru (PNP) e de agentes do Departamento de Investigações de Segurança Interna (HSI, na sigla em inglês) da Embaixada dos EUA em Lima.

A operação, realizada em 7 de fevereiro, levou à captura de 24 membros da quadrilha Tren de Aragua.

O HSI prestou apoio a mais de 300 agentes da PNP em múltiplas incursões na área metropolitana de Lima, visando uma facção da gangue conhecida como “Os Filhos de Deus”.

Em 8 de fevereiro, a Embaixada dos EUA em Lima confirmou as detenções e o resgate das vítimas.

Mapa mostra a expansão do Tren de Aragua, que foi notado pela primeira vez fora da Venezuela em 2018. Desde então, a quadrilha se espalhou para Colômbia, Peru, Chile, Equador, Brasil, Bolívia, Panamá, Costa Rica, México e Estados Unidos. [Sergio Quispe]
Mapa mostra a expansão do Tren de Aragua, que foi notado pela primeira vez fora da Venezuela em 2018. Desde então, a quadrilha se espalhou para Colômbia, Peru, Chile, Equador, Brasil, Bolívia, Panamá, Costa Rica, México e Estados Unidos. [Sergio Quispe]
Agentes do HSI dos EUA e a PNP fazem uma operação contra o Tren de Aragua em Lima. [Embaixada dos EUA no Peru]
Agentes do HSI dos EUA e a PNP fazem uma operação contra o Tren de Aragua em Lima. [Embaixada dos EUA no Peru]

A embaixadora dos EUA no Peru, Stephanie Syptak-Ramnath, enfatizou que as organizações criminosas transnacionais “não têm lugar na região”.

“O sucesso desta operação, liderada pela Polícia Nacional do Peru com o apoio dos Estados Unidos, é um testemunho do grande trabalho que podemos fazer juntos para melhorar a segurança dos nossos cidadãos e da nossa região compartilhada”, exaltou ela em um comunicado de imprensa da embaixada norte-americana.

Rede criminosa

O general Aldo Ávila, diretor do Gabinete contra o Tráfico de Seres Humanos e o Contrabando de Migrantes da PNP, salientou o papel crucial do HSI Lima na operação.

A agência americana forneceu “tecnologia e apoio logístico para esta megaoperação”, disse ele, de acordo com uma reportagem da RPP, a principal estação de rádio do Peru.

“Este esforço foi coordenado com a unidade de investigação norte-americana, que tem nos ajudado com tecnologia e logística em todas as nossas operações”, enfatizou Ávila.

A PNP tem colaborado com o governo dos EUA desde 2022 para desmantelar o Tren de Aragua, disse ele.

Embora a organização e suas facções tenham sido significativamente enfraquecidas no Peru, elas mudaram de tática, “agora contando com colaboradores peruanos para continuar suas atividades de tráfico de pessoas”, acrescentou Ávila.

Com o apoio logístico do HSI Lima, a PNP tem perseguido agressivamente o Tren de Aragua desde 2022. Esse esforço resultou na captura de mais de 600 membros em 2024, de acordo com relatórios oficiais.

A operação de 7 de fevereiro contra a gangue representa um passo importante para a segurança nacional, tendo em vista o papel fundamental que ela desempenha na alta taxa de criminalidade no Peru, explicou ao Entorno Javier Arenas, analista de política e crime organizado.

Arenas, gerente de desenvolvimento social da Dialogo Social Consultora, ressaltou a forte cooperação entre os Estados Unidos e o Peru no “combate direto ao crime e ao tráfico de drogas”.

No entanto, o Tren de Aragua opera com uma hierarquia estruturada, o que significa que os membros de nível médio provavelmente ocuparão o vazio deixado pelas recentes prisões, disse ele.

Onda de crimes no Peru

O Tren de Aragua, que tem raízes na Venezuela, expandiu suas operações em vários países da América Latina, incluindo o Peru, onde suas atividades ilícitas afetaram gravemente a segurança pública.

Em Lima, a gangue está envolvida em uma série de crimes, sendo o tráfico de seres humanos uma de suas operações mais lucrativas e hediondas. Mulheres e meninas são submetidas a exploração sexual e laboral, gerando uma fonte de lucro grotesca.

O Tren de Aragua vive da extorsão de grandes somas de dinheiro de comerciantes, empresários e cidadãos comuns sob a ameaça da violência.

O sequestro é outro instrumento. O grupo tem como alvo indivíduos ricos ou familiares que possam pagar resgates substanciais.

As atividades criminosas da quadrilha se estendem a assaltos à mão armada de veículos, residências e empresas, bem como tráfico de drogas — principalmente cocaína.

Além disso, assassinatos por encomenda são uma prática comum. Os assassinos contratados eliminam rivais ou indivíduos que se recusam a pagar a extorsão.

O Tren de Aragua desenvolveu uma estrutura hierárquica que lhe permite operar de forma eficiente, evitando a aplicação da lei, alertam os analistas de segurança. Algumas de suas principais táticas incluem a infiltração em comunidades vulneráveis, oferecendo “proteção” em troca de lealdade e cooperação.

O bando recorre igualmente à violência extrema e ao terror para controlar comunidades e combater seus rivais. O clima de medo que promove permite que atue com impunidade.

Além disso, a organização forja estrategicamente alianças com outros grupos criminosos locais e internacionais para expandir sua influência e alcance operacional.

Origem em prisão venezuelana

O Tren de Aragua, considerado como organização terrorista pelos Estados Unidos, teve origem há cerca de 12 a 14 anos em um sindicato que controlava um trecho de uma ferrovia em construção no estado de Aragua, na Venezuela.

O grupo inicialmente extorquia empreiteiros, vendia empregos e ganhou o apelido de “os do Tren de Aragua”, segundo o professor de criminologia Luis Izquiel, entrevistado pela BBC Mundo em 18 de dezembro.

Muitos membros do bando que estava nascendo acabaram encarcerados na prisão de Tocorón, a sudoeste de Caracas. Entre eles, o líder Hector Rusthenford Guerrero (“Niño Guerrero”). Desde então a gangue começou a ganhar força, explicou o acadêmico.

O governo dos EUA está oferecendo uma recompensa de US$ 5 milhões por informações que levem à captura de Guerrero.

Um estudo do InSight-Crime de 2023 revelou que o grupo evoluiu de uma gangue baseada em prisões para uma organização criminosa transnacional, se tornando uma grande ameaça na América do Sul.

A ascensão da gangue foi alimentada pela política do governo venezuelano de ceder o controle das prisões aos líderes de gangues, ou “pranes”, que assumiram serviços essenciais como alimentação, medicamentos e segurança.

Notado pela primeira vez fora da Venezuela em 2018, o Tren de Aragua rapidamente se expandiu para a Colômbia, principal destino dos migrantes venezuelanos.

A gangue está atualmente presente no Peru, Chile, Equador, Brasil, Bolívia, Panamá, Costa Rica, México e Estados Unidos.

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