Crime e Justiça
Peru combate epidemia de extorsão
Crime organizado aumentou drasticamente no Peru, impulsionado pela crise migratória da Venezuela, pelo tráfico de armas e pela chegada de gangues como a venezuelana Tren de Aragua.
![Membro do Grupo Especial contra o Crime Nacional e Estrangeiro, liderado pelo coronel Víctor Revoredo, faz guarda durante uma patrulha para controlar a extorsão na cidade de Trujillo, no norte do Peru. [Ernesto Benavides/AFP]](/gc4/images/2024/10/28/47962-peru1-600_384.webp)
Por AFP |
TRUJILLO, Peru — Com uma arma na mão, o coronel Víctor Revoredo vigiava, com sua equipe, uma pequena casa onde um dos criminosos mais procurados de Trujillo, o epicentro da extorsão no norte do Peru, poderia estar escondido.
"É aqui que mora o Cortadedos", sussurrou o chefe de uma força-tarefa antiextorsão que tenta limpar a cidade de pouco mais de 1 milhão de habitantes, a terceira maior do país andino.
Foi em Trujillo, em 2006, que as gangues começaram a impor seus métodos violentos de extorsão, exigindo um "imposto" do setor de transporte, de acordo com o ex-ministro da Segurança Ricardo Valdés.
"[Hoje], a extorsão se tornou generalizada e se converteu na principal fonte de renda das gangues", disse ele à AFP.
![Integrantes do Grupo Especial contra o Crime Nacional e Estrangeiro caminham pelas ruas durante patrulha para controlar extorsão em Trujillo, no Peru. [Ernesto Benavides/AFP]](/gc4/images/2024/10/28/47963-peru2-600_384.webp)
![Integrantes do Grupo Especial contra o Crime Nacional e Estrangeiro montam guarda durante patrulha para controlar extorsão em Trujillo, no Peru. [Ernesto Benavides/AFP]](/gc4/images/2024/10/28/47964-peru3-600_384.webp)
Os alvos não são apenas indivíduos ricos e grandes empresas — pequenos comerciantes em distritos mais pobres, onde muitas pessoas trabalham na economia informal, também são vítimas de criminosos.
Revoredo descreve isso como uma "pandemia de crimes".
Lojas, mototaxistas e escolas são vítimas de extorsão.
"Se você não quer que o sangue corra, vamos ser práticos e você vai colaborar com 20.000 soles (pouco mais de US$ 5.000)", diz uma mensagem ameaçadora compartilhada pelo pai de um empresário assassinado recentemente.
Se o pagamento não é feito rapidamente, as gangues começam a intimidar suas vítimas atirando em suas casas ou empresas, de acordo com outros depoimentos anônimos dados à AFP.
"A morte é infinita"
Revoredo afirma que sua cabeça foi colocada a prêmio por US$ 40.000 por diversas organizações criminosas, entre as quais as duas principais que operam na cidade, Los Pulpos e La Jauría.
A polícia intensificou a busca por "Cortadedos", nome verdadeiro de Jean Piero García, membro do Los Pulpos, após o sequestro, em agosto, do filho de um empresário que teve seis dedos mutilados para pressionar seu pai a pagar um resgate de US$ 3 milhões.
Quando Revoredo e sua equipe entraram na modesta casa no bairro El Porvenir de Trujillo, o suspeito já havia fugido. Ele foi capturado dois dias depois no mesmo bairro.
"O crime não está nos vencendo. Não estamos triunfantes. Ainda temos muito a fazer", diz Revoredo.
Os grupos Los Pulpos e La Jauría impõem suas marcas e reinos de terror colocando, nas fachadas de casas e veículos, adesivos com a imagem de um polvo ou de um puma amarelo, em referência aos seus nomes.
"A vida é curta, a morte é infinita", diz o adesivo do Los Pulpos.
Estima-se que as pequenas empresas do Peru percam US$ 1,6 bilhão por ano com extorsões, de acordo com uma associação que as representa.
"Solidariedade"
Embora a extorsão seja um problema em toda a América Latina, o problema recentemente assumiu proporções alarmantes na capital peruana com o assassinato de três motoristas de ônibus.
O governo declarou estado de emergência em partes da cidade de cerca de 10 milhões de habitantes e mobilizou militares para reforçar a segurança depois que os trabalhadores do transporte entraram em greve em setembro.
Novos protestos foram realizados em 23 de outubro, o que motivou uma expressão de "solidariedade" da presidente Dina Boluarte.
"Governo não cessará a luta contra o crime mediante ações de inteligência e operações da Polícia Nacional", disse ela.
Mais de 14.000 denúncias de extorsão foram registradas em todo o país desde janeiro, segundo a polícia.
O crime organizado cresceu consideravelmente nos últimos anos no Peru devido à crise migratória da Venezuela, ao tráfico de armas e à chegada de gangues poderosas como o Tren de Aragua, grupo criminoso transnacional com sede na Venezuela, reconheceu o governo recentemente.
Em abril, o professor Diomedes Sánchez recebeu ameaças: teria de pagar US$ 2.500 ou a pequena escola aberta por ele em Trujillo há 20 anos seria explodida.
Sánchez se recusou a pagar, e uma bomba foi colocada na escola.
"Suspendemos as aulas por uma semana", disse o professor de 50 anos à AFP. "Não podemos mais trabalhar em paz."