Crime e Justiça

Crime organizado chinês alimenta tráfico de drogas e de pessoas no Chile

Máfias chinesas expandiram sua influência na América Latina através da participação no tráfico de drogas e no contrabando de migrantes para exploração laboral e sexual.

Polícia chilena realizou operação na área metropolitana de Santiago para desmantelar uma das maiores organizações criminosas de origem chinesa envolvida no tráfico de drogas e de pessoas. Membros da notória máfia Bang de Fujian foram presos com enorme cultivo de cannabis em ambiente fechado no valor de quase US$ 4 milhões. [Vídeo das redes sociais dos Carabineiros do Chile]
Polícia chilena realizou operação na área metropolitana de Santiago para desmantelar uma das maiores organizações criminosas de origem chinesa envolvida no tráfico de drogas e de pessoas. Membros da notória máfia Bang de Fujian foram presos com enorme cultivo de cannabis em ambiente fechado no valor de quase US$ 4 milhões. [Vídeo das redes sociais dos Carabineiros do Chile]

Por Alicia Gutiérrez |

SANTIAGO -- Os fortes laços comerciais entre a China e o Chile estão sendo explorados pelo crime organizado chinês, favorecendo uma rede envolvida no tráfico de drogas e no contrabando de migrantes para exploração laboral e sexual.

Em 2024, o índice de insegurança no Chile atingiu níveis históricos, o que levou as autoridades a intensificarem os esforços para combater alguns dos mais perigosos grupos do crime organizado transnacional: as máfias chinesas.

A participação das máfias chinesas no tráfico de drogas e no contrabando de pessoas no Chile evidencia como o país se tornou atrativo para o crime global, de acordo com uma análise de 19 de dezembro da Insight Crime.

As autoridades chilenas encerraram 2024 com uma vitória importante contra essa rede criminosa, ao capturarem e condenarem vários dos seus líderes e associados.

Polícia chilena prendeu dois cidadãos chineses que operavam um sofisticado sistema de cultivo interno em dois armazéns (cada um com 50 metros de comprimento), que abrigavam quase 5.000 pés de maconha no total. [Carabineiros do Chile]
Polícia chilena prendeu dois cidadãos chineses que operavam um sofisticado sistema de cultivo interno em dois armazéns (cada um com 50 metros de comprimento), que abrigavam quase 5.000 pés de maconha no total. [Carabineiros do Chile]
Polícia chilena conduziu operação na área metropolitana de Santiago, descobrindo uma rede de tráfico de drogas ligada a uma das maiores organizações criminosas de origem chinesa envolvida no tráfico de drogas e de pessoas. [Carabineiros do Chile]
Polícia chilena conduziu operação na área metropolitana de Santiago, descobrindo uma rede de tráfico de drogas ligada a uma das maiores organizações criminosas de origem chinesa envolvida no tráfico de drogas e de pessoas. [Carabineiros do Chile]

Em novembro, as autoridades prenderam no Peru e extraditaram Nannan Shen, cidadão chinês líder de uma rede de tráfico de migrantes que operava no Chile.

Capturado com a cooperação das autoridades peruanas, Shen foi extraditado para o Chile para enfrentar acusações. Ele foi identificado como o líder de um grupo criminoso que recrutava indivíduos na China e os contrabandeava para o Chile através de uma rota que incluía a Holanda e a Bolívia.

Segundo o canal digital Interferencia, as vítimas eram obrigadas a pagar até US$ 9 mil, depositados em pelo menos seis instituições financeiras chinesas.

Várias redes criminosas chinesas traficaram mais de 200 pessoas para o Chile, estimam as autoridades.

Cartel de Fujian

Em 17 de dezembro, o Sexto Tribunal Penal Oral de Santiago sentenciou à prisão quatro cidadãos chineses por sua participação na produção, armazenamento, transporte e distribuição de drogas na Região Metropolitana de Santiago.

Kongying Chen foi condenado a seis anos de prisão e multado em mais de US$ 3 mil como coautor do tráfico de drogas e narcóticos, informou o judiciário chileno em seu site.

Yuping Zheng, identificado como o líder da organização no Chile, foi condenado a 10 anos de prisão e a uma multa superior a US$ 13 mil pelo seu papel como principal autor do tráfico ilícito de drogas.

Dois outros membros da rede, Ling Chen e Difeng Liu, foram condenados cada um a sete anos de prisão.

O julgamento estabeleceu sua ligação com a Bang de Fujian, uma organização criminosa chinesa com laços internacionais envolvida no tráfico de pessoas para exploração em atividades relacionadas com drogas.

No entanto, devido a questões técnicas jurídicas relacionadas à tradução de comunicações interceptadas e à participação de agências externas na interpretação, o juiz acolheu o pedido da defesa para excluir essas conversas como provas.

Como resultado, o tribunal absolveu os réus de acusações como associação ilícita (como membros da Bang de Fujian) e condenou-os apenas por tráfico de drogas.

Essa decisão gerou polêmica em razão dos grandes esforços do Ministério Público para provar que os acusados faziam parte de uma rede de crime organizado.

"Preferíamos que a associação ilícita pudesse realmente ter sido estabelecida porque isso teria permitido penas muito mais exemplares e continuaremos a trabalhar nesse esforço", garantiu Gonzalo Durán, delegado presidencial da Região Metropolitana de Santiago, em entrevista coletiva.

Inúmeros crimes

As autoridades chilenas rastreiam a Bang de Fujian desde 2020. O nome da organização imita o de uma antiga rede mafiosa que já operou na Europa.

Acredita-se que o grupo tenha surgido naquele mesmo ano, no auge da pandemia da COVID-19 no Chile, quando as autoridades detiveram o cidadão chinês Wenmin Xiao por tráfico de maconha em grande escala.

Na época, reportagens na mídia detalharam como as autoridades haviam capturado Jianliang Sun e Gao Wen, dois cidadãos chineses sem documentos que cuidavam de 1.466 pés de cannabis e mais de 200 kg de marijuana processada na propriedade.

O grupo se infiltrou no Chile aproveitando-se do aumento no consumo de maconha, dos laços comerciais fortes entre Chile e China e dos frágeis controles de imigração.

Uma investigação paralela lançada em 2020 revelou que muitas plantações internas de cannabis em cidades como Santiago, Valparaíso e Temuco pertenciam a famílias originárias da província de Fujian, na China, de acordo com o Insight Crime.

O alcance dessa organização criminosa estende-se a países vizinhos como Peru, Equador e Argentina, com graves consequências para a segurança e a economia.

Esses desafios transnacionais continuam testando as autoridades da região, que se esforçam para contrapor a influência do grupo através de estratégias binacionais.

"Se as máfias colombianas, venezuelanas e centro-americanas são perigosas devido ao seu poder econômico e de fogo, as máfias chinesas são ainda piores devido ao seu posicionamento internacional," diz Mauricio Valdivia, professor universitário e ex-diretor de análise criminal do Departamento de Investigação de Organizações Criminosas dos Carabineiros (Polícia) do Chile.

"A diversidade de crimes também desempenha um papel muito relevante, [pois] envolve tráfico de pessoas, tráfico de drogas, prostituição e exploração infantil."

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