Crime e Justiça

"Chuva de balas" em cidade do Equador sob efeito do narcoterrorismo

Aumento recente da insegurança no Equador é o principal problema que o recém-eleito presidente Daniel Noboa visa enfrentar rapidamente.

Policiais vigiam área onde ocorreu um assassinato em Guayaquil, Equador, em 8 de outubro. [Marcos Pin / AFP]
Policiais vigiam área onde ocorreu um assassinato em Guayaquil, Equador, em 8 de outubro. [Marcos Pin / AFP]

AFP |

GUAYAQUIL, Equador -- Em uma rua normalmente tranquila, os corpos de dois homens mortos jazem cercados de sangue e cartuchos de balas. Eles são as mais recentes vítimas de uma série de execuções que se tornaram comuns na cidade portuária de Guayaquil, no Equador.

Relatos da polícia e imagens de câmeras de segurança vistos pela AFP revelam um grupo de homens conversando em uma esquina, quando uma van branca com a porta totalmente aberta passa pela esquina e pistoleiros pulam e abrem fogo.

"Foi uma chuva de balas", contou um morador à equipe da AFP que chegou à Avenida Machala, após os assassinatos de domingo.

No dia anterior, em outro local, "duas pessoas foram mortas em um tiroteio, inclusive um policial", disse o oficial Alex Merchan, que fazia uma blitz com alguns soldados em Duran, do outro lado do rio de Guayaquil.

Daniel Noboa, o presidente eleito do Equador, vestindo colete à prova de balas, exibe orgulhosamente sua cédula de votação em uma urna em Olon, na província de Santa Elena, Equador, em 15 de outubro. [Marcos Pin / AFP]
Daniel Noboa, o presidente eleito do Equador, vestindo colete à prova de balas, exibe orgulhosamente sua cédula de votação em uma urna em Olon, na província de Santa Elena, Equador, em 15 de outubro. [Marcos Pin / AFP]

No entanto, as forças de segurança descrevem o fim de semana como relativamente calmo em relação ao padrão na cidade conhecida como "Guayakill" (um trocadilho com a palavra "kill", do inglês, que significa "matar") nas redes sociais. Em um fim de semana em setembro, ocorreram 30 mortes, e em outro, 24.

A onda de insegurança no Equador, anteriormente um paraíso pacífico localizado entre a Colômbia e o Peru, países produtores de coca, é o principal desafio que o recém-eleito presidente Daniel Noboa deve atacar urgentemente.

Após a autoridade eleitoral declarar sua vitória no domingo (15/10), Noboa prometeu que "amanhã, começaremos a trabalhar por um país golpeado pela violência, pela corrupção e pelo ódio."

"Gato e rato"

Guayaquil, cidade com cerca de 3 milhões de habitantes, sente o impacto da expansão da violência das drogas no Equador, com os cartéis estrangeiros usando o porto para inundar o mundo com a cocaína dos seus vizinhos.

O negócio acarretou um brutal derramamento de sangue.

Centenas de pessoas morreram nas disputas entre gangues nas prisões, as ruas foram atacadas por carros-bomba e vítimas de sequestro tiveram seus dedos cortados para reforçar pedidos de resgate.

Segundo o Observatório do Crime Organizado do Equador, ocorreram cerca de 1.500 assassinatos no primeiro semestre de 2023, quase o dobro do mesmo período de 2022.

Foi em uma ponte para pedestres que cruza uma rodovia de 10 pistas, perto de onde Merchan e alguns soldados estabeleceram seu posto de controle, que dois corpos decapitados foram deixados pendurados em fevereiro.

Seus homens revistam veículos em busca de drogas, armas e explosivos, no que ele chama de um "jogo de gato e rato" com os criminosos.

Guayaquil é um cenário de contrastes, que opõe prédios modernos e reluzentes e condomínios luxuosos protegidos por cercas de arame farpado a bairros pobres cercados pelo crime.

"O crime aqui agora é uma mistura de crimes menores, tráfico de drogas e máfias", disse um jornalista local que preferiu o anonimato por conta de uma violência que era quase "inexistente há dois anos".

"Os assassinos atacam a qualquer momento, em qualquer lugar. Na verdade, não há regras."

Em sua maioria, as vítimas são homens, normalmente recém-saídos da prisão, e os assassinos são quase sempre "adolescentes", disse Merchan.

"É meu marido"

O que está em jogo é o controle do território e das rotas de narcotráfico.

Segundo o site de notícias local Primicias, é uma questão de controlar "o envio de drogas pelo Rio Guayas em direção ao Golfo de Guayaquil".

As gangues envolvidas incluem o grupo criminoso mais poderoso do país, Los Choneros, e uma rede de rivais, como Lagartos, Tiguerones e Aguilas.

As gangues mantêm alianças complexas com grupos mexicanos como o Cartel de Sinaloa, grupos guerrilheiros colombianos e traficantes dos Bálcãs.

A batalha pelo controle ocorre principalmente nos grandes complexos prisionais nas periferias da cidade, onde o líder dos Choneros, Jose Adolfo Macias, o "Fito", está detido desde 2011.

No entanto, inocentes são pegos no fogo cruzado. Um dos mortos, na Avenida Machala, foi descrito pela polícia como "vítima colateral" em algum acerto de contas entre criminosos.

"É meu marido", exclamava uma mulher, atirando-se sobre o corpo coberto por um lençol azul.

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