Economia

El Salvador negocia TLC arriscado e suspeito com China

Acordo comercial secreto com a China, se aprovado, poderia expor El Salvador a uma onda de importações de baixo custo e má qualidade, ameaçando indústrias e empregos locais, alertam economistas.

María Luisa Hayem, ministra da Economia de El Salvador (centro), é vista com autoridades durante a segunda rodada de negociações do TLC com a China, em outubro. As negociações ocorreram em San Salvador. [Relato de María Luisa Hayem em conta do X]
María Luisa Hayem, ministra da Economia de El Salvador (centro), é vista com autoridades durante a segunda rodada de negociações do TLC com a China, em outubro. As negociações ocorreram em San Salvador. [Relato de María Luisa Hayem em conta do X]

Por Gaby Chávez |

SAN SALVADOR — As negociações de um Tratado de Livre Comércio (TLC) entre a China e El Salvador estão avançando a portas fechadas, sem divulgação pública dos termos em discussão, uma falta de transparência que pode trazer consequências sérias para a economia salvadorenha, alertam economistas.

Analistas consultados pelo Entorno descrevem o aprofundamento dos laços do país com a China como uma aposta de alto risco, que pode remodelar o cenário econômico e social em El Salvador.

A principal preocupação é a potencial enxurrada de importações chinesas, produtos geralmente conhecidos por seu baixo custo e pela qualidade questionável, o que poderia ameaçar as indústrias locais despreparadas para competir.

O tratado comercial pode "deslocar produtores locais", a menos que o governo tome medidas concretas para proteger o setor industrial do país, alerta Otto Rodríguez, consultor financeiro e ex-vice-presidente do Banco Central de Reserva de El Salvador.

"[Os fabricantes locais] não têm tecnologia, mão de obra ou recursos financeiros", disse Rodríguez ao Entorno.

Por exemplo, se El Salvador tivesse uma indústria nacional de calçados, ela teria dificuldades para sobreviver a um aumento nas importações chinesas, muitas vezes subsidiadas por Pequim e colocadas no mercado sem impostos, explicou.

O resultado, segundo Rodríguez, pode ser o fechamento generalizado de fábricas e perda de empregos.

Daniel Serrano, professor e pesquisador da Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas (UCA), expressou preocupação com a vulnerabilidade de El Salvador em um possível tratado comercial com a China.

"Corre-se o risco de uma desindustrialização acelerada e de perda de empregos formais, em um país onde o tecido produtivo já é frágil", disse Serrano ao Entorno.

Embora os proponentes dos TLCs frequentemente citem a perspectiva de bens de consumo mais baratos, os danos às indústrias locais e a perda de empregos superam esse benefício, afirmou..

El Salvador não tem o preparo institucional nem a estratégia industrial para empreender de forma responsável um pacto comercial dessa escala, dizem observadores experientes.

Alinhamento de alto risco

O TLC proposto entre El Salvador e a China traz não apenas implicações econômicas, mas também riscos geopolíticos significativos, especialmente em relação aos Estados Unidos, o principal parceiro comercial do país e a fonte da maioria de suas remessas, alertam analistas.

"Washington pode ver essa medida como uma provocação", disse Serrano. "Os Estados Unidos poderão reagir negativamente se o tratado se concretizar."

O aprofundamento dos laços com Pequim pode desencadear tensões entre El Salvador e os EUA, colocando em risco indústrias vitais do país — especialmente o setor têxtil e de vestuário, uma importante fonte de receita de exportação e emprego formal, principalmente para mulheres, observou.

Uma resposta dos EUA poderia incluir tarifas sobre produtos salvadorenhos, o que levaria a uma queda nas exportações, aumento do desemprego e instabilidade econômica mais ampla.

As negociações entre El Salvador e a China começaram formalmente em 16 de abril de 2024. Elas completaram duas rodadas, mas nenhum dos governos divulgou detalhes sobre o que foi decidido.

Negociações comerciais obscuras

Rodríguez ressaltou os riscos do sigilo em torno do acordo.

"[Não se sabe] se estão sendo oferecidas condições mais favoráveis ​​à China do que aos Estados Unidos”, disse ele ao Entorno. "Se for esse o caso, Washington teria motivos para impor sanções comerciais."

"A falta de transparência, as instituições fracas e o escasso investimento na formação de capital humano deixam-nos em desvantagem frente a uma potência como a China", disse Rodríguez.

Representantes do governo destacam a perspectiva de maior comércio e investimento, mas economistas alertam que, sem regras claras, consulta pública e apoio à indústria nacional, o acordo pode ter um alto custo nacional.

As preocupações com a transparência aumentaram após a revelação de que o governo salvadorenho impôs reserva a todas as informações relacionadas às negociações do TLC por sete anos, conforme indicado pelo índice de acesso à informação pública do Ministério da Economia.

A decisão decorre de disposições legais relacionadas aos assuntos diplomáticos de El Salvador, afirmou o ministério. "As informações em questão contêm dados sobre as negociações e os interesses comerciais de ambos os países."

"Sua divulgação pode prejudicar as relações diplomáticas que poderiam impedir a assinatura do acordo comercial", disse o ministério.

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