Diplomacia
Relatório aponta que influência russa na Colômbia é vista como marginal e prejudicial
Colômbia continua cautelosa em relação à Rússia, alegando preocupações com espionagem, interferência eleitoral e laços crescentes com a Venezuela. Novo relatório aponta que fortalecimento das relações diplomáticas ou econômicas entre as duas nações é improvável.
![Manifestantes protestam em apoio à Ucrânia em frente à embaixada da Rússia em Bogotá, em fevereiro de 2022. [Juan Pablo Pino/AFP]](/gc4/images/2025/03/21/49682-afp__20220226__32426tf__v1__highres__colombiaukrainerussiaconflictprotest-600_384.webp)
Por Juan Camilo Escorcia |
BOGOTÁ - A Colômbia dá pouca prioridade às relações com a Rússia e não deverá fortalecer estes laços nos próximos anos, de acordo com um relatório da consultoria de risco político Colombia Risk Analysis publicado em 19 de março.
"Apesar das recentes mudanças na política externa colombiana, a Rússia continua sendo uma questão marginal no discurso político e uma baixa prioridade na sua estratégia internacional”, afirma o documento.
Intitulado "Relações entre Colômbia e Rússia: influência e percepções locais", o estudo analisa a limitada influência e percepção de Moscou em Bogotá.
Baseado em 33 entrevistas com “fontes especializadas que abrangem todo o espectro político na Colômbia e no mundo”, incluindo atuais e ex-funcionários do governo, o relatório conclui que a Rússia é amplamente vista de forma negativa nos círculos políticos e diplomáticos da Colômbia.
![Fachada da embaixada russa em Bogotá, Colômbia. [Embaixada Russa]](/gc4/images/2025/03/21/49683-embajada_rusa-600_384.webp)
"As entrevistas realizadas para este relatório revelam que a percepção pública da Rússia entre especialistas, funcionários governamentais, políticos e diplomatas na Colômbia é majoritariamente negativa, com muitos considerando sua influência como marginal ou mesmo prejudicial", diz o estudo.
‘Intervenção estrangeira e espionagem’
Segundo o documento, essa percepção ruim é motivada por "suspeitas de intervenção estrangeira e espionagem", especialmente após a Colômbia expulsar dois diplomatas russos em 2020 por espionagem militar enquanto estavam designados para a embaixada da Rússia em Bogotá.
Em dezembro daquele ano, o Ministério das Relações Exteriores anunciou: “o Governo Nacional tomou a decisão de solicitar a retirada dos funcionários diplomáticos russos designados na Colômbia, após a verificação de que estavam desenvolvendo no país atividades incompatíveis com o previsto na Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas”.
Em resposta, o presidente russo, Vladimir Putin, condenou a decisão e expulsou de Moscou dois diplomatas colombianos.
O relatório da Colombia Risk Analysis reconhece que "não há provas oficiais publicamente disponíveis” sobre a alegada espionagem. No entanto, observa que, após a expulsão dos diplomatas, “persistem preocupações (na Colômbia) sobre a presença russa na região, especialmente na Venezuela”.
O estudo destaca como as tensões entre a Colômbia e a Rússia aumentaram no início de 2022 em razão da crescente cooperação de Moscou com o governo venezuelano. Especificamente, a Rússia instalou cinco radares ao longo da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, gerando receios em Bogotá de uma potencial espionagem.
Em resposta, o então presidente Ivan Duque afirmou, em abril do mesmo ano, que a Colômbia "não tinha nenhuma relação" com a Rússia, congelando efetivamente os laços entre os dois países – embora não tenha chegado a cortar relações diplomáticas.
Interferência eleitoral
O relatório da Colombia Risk Analysis associa a desconfiança em relação à Rússia entre vários setores colombianos à sua alegada interferência nas eleições presidenciais de 2022 no país.
De acordo com "reportagens da mídia local e internacional", o Kremlin usou algumas contas em redes sociais como bots russos para favorecer candidatos específicos. No entanto, oficiais da embaixada russa na Colômbia negaram essas acusações.
O estudo conclui ainda, com base em fontes consultadas, que "a relação comercial entre a Colômbia e a Rússia é modesta, e é pouco provável que o interesse potencial da Rússia na Colômbia tenha motivações econômicas".
"É improvável que os laços com a Rússia se fortaleçam significativamente no curto prazo", ressalta o texto, contrastando a posição da Colômbia com as de Bolívia, Nicarágua, Cuba e Venezuela, onde o estreitamento de relações com Moscou parece mais provável.