Diplomacia

Diplomata russo suspeito de ajudar suposto espião foge do Brasil

Indivíduos afiliados a uma rede que ofereceu apoio ao suposto espião russo no Brasil estão agora sob investigação.

Cidadão russo que trabalhava na embaixada de seu país partiu às pressas do Brasil após ser intimado pela Polícia Federal (PF) para prestar depoimento. A PF investiga rede de apoio a suposta espionagem russa em solo brasileiro. [Agência Brasil]
Cidadão russo que trabalhava na embaixada de seu país partiu às pressas do Brasil após ser intimado pela Polícia Federal (PF) para prestar depoimento. A PF investiga rede de apoio a suposta espionagem russa em solo brasileiro. [Agência Brasil]

Por Waldaniel Amadis |

SÃO PAULO – Prestes a ser interrogado em uma investigação de lavagem de dinheiro relacionada ao suposto espião russo Sergei Vladimir Cherkasov, um funcionário da embaixada russa deixou o Brasil às pressas nos últimos dias.

Cherkasov, 38 anos, cumpre pena de cinco anos e dois meses em uma prisão de segurança máxima em Brasília por roubo de identidade e fraude.

No início de outubro, um cidadão russo que trabalhava na embaixada de seu país recebeu uma intimação para prestar depoimento à Polícia Federal (PF) sobre uma possível rede, no Brasil, de apoio à suposta espionagem de Cherkasov.

Ele, no entanto, foi embora para a Rússia, conforme noticiou o portal de notícias Metrópoles.

Sergey Cherkasov é acusado de ser um “agente adormecido” russo que se envolveu em atividades ilegais de inteligência nos Estados Unidos, na Irlanda e no Brasil. Ao longo dos anos, ele teria espionado para o GRU, o serviço de inteligência militar russo. [Instagram]
Sergey Cherkasov é acusado de ser um “agente adormecido” russo que se envolveu em atividades ilegais de inteligência nos Estados Unidos, na Irlanda e no Brasil. Ao longo dos anos, ele teria espionado para o GRU, o serviço de inteligência militar russo. [Instagram]

O diplomata partiu às vésperas da data em que seria interrogado

O diplomata entrou na mira da PF após os investigadores descobrirem que ele era um dos responsáveis pela ajuda financeira a Cherkasov durante o período em que o suposto espião viveu no Brasil sob identidade falsa.

O diplomata, cuja identidade não foi divulgada, aparentemente fugiu para evitar o depoimento e possíveis problemas jurídicos.

Seu desaparecimento gerou suspeitas de que ele poderia ser outro agente secreto russo, segundo o Metrópoles.

A primeira investigação da PF sobre Cherkasov girou em torno da utilização de documentos falsos. Posteriormente, ele foi acusado e condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Após a investigação inicial, a PF abriu um segundo inquérito, desta vez para apurar indícios de lavagem de dinheiro.

Além de Cherkasov, integrantes de uma rede que teria ajudado o russo durante suas operações se tornaram alvos da nova investigação.

Conspiração russa

Em julho, o governo brasileiro rejeitou um pedido de extradição dos EUA para Cherkasov. Agora o STF analisa outro pedido de extradição apresentado pela Rússia. Alguns observadores consideram o pedido uma manobra da Rússia para extrair um agente em apuros.

Segundo as autoridades russas, ele é procurado na Rússia por tráfico de drogas.

Cherkasov já manifestou o desejo de cumprir a pena em uma prisão russa.

Ele foi deportado da Holanda em abril de 2022 por usar documentos brasileiros falsos para entrar no país.

Em julho de 2022, Cherkasov foi condenado a 15 anos de prisão no Brasil por roubo de identidade e fraude.

No entanto, um tribunal de São Paulo reduziu sua pena para cinco anos e dois meses, tornando-o elegível para cumprir o restante em regime semiaberto.

Apesar da redução da pena no ano passado, o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin alertou, no dia 28 de julho, que a decisão final sobre o caso não será tomada até que a investigação de espionagem no Brasil seja concluída.

Cherkasov permanecerá em uma ala especial do presídio federal de segurança máxima de Brasília, o que tranquilizou os investigadores da polícia que temiam que ele escapasse, segundo o Metrópoles.

O site afirma que a diplomacia brasileira está tratando o caso com “o máximo cuidado” para evitar uma crise entre os governos brasileiro, russo e norte-americano.

Quem é o suposto espião?

Usando uma identidade brasileira falsa, Cherkasov fez mestrado no campus da Universidade Johns Hopkins em Washington, DC, em 2020.

O “agente adormecido” russo foi ativado após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, afirmam os investigadores, segundo os quais sua missão era obter acesso a documentos confidenciais relacionados à Ucrânia.

Para cumprir esse objetivo, o russo se candidatou a um estágio não remunerado no Tribunal Internacional de Justiça de Haia.

“A ameaça representada por este oficial de inteligência é considerada potencialmente muito alta”, afirmou a agência de segurança holandesa, AIVD, em um comunicado de junho de 2022, após a deportação de Cherkasov para o Brasil.

Cherkasov se envolveu na coleta ilegal de inteligência nos Estados Unidos, na Irlanda e no Brasil, disse ao Brasil o Federal Bureau of Investigation (FBI), dos EUA, em um relatório.

“Durante anos, Cherkasov trabalhou como agente ilegal para um serviço de inteligência russo e cometeu fraudes contra os Estados Unidos”, disse David Sundberg, diretor-assistente encarregado do escritório de campo do FBI em Washington, em um comunicado de março.

Operações de agente adormecido

Cherkasov inventou uma história elaborada durante seus anos de fraude.

Ele chegou ao Brasil em 2010, alegando ter nascido no país em 1989 e ter crescido na Argentina. Os investigadores descobriram que ele nasceu em 1985 na Rússia.

“Ele sempre se apresentou como um brasileiro criado na Argentina e fazia aulas de forró – dança típica do Brasil – com uma namorada brasileira”, confirmou ao Entorno um representante de uma escola de dança de São Paulo.

As autoridades mantêm em sigilo a identidade da namorada.

Seu professor de dança, Pheliphe Britto, descreveu-o como uma "pessoa normal, um pouco tímida, mas alegre e ao mesmo tempo reservada. Nunca pensamos que ele fosse um espião russo".

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