Economia

Projeto da Chinalco Suriname desperta temores de aprofundamento da armadilha da dívida

Projeto da empresa estatal chinesa levanta sérias preocupações, particularmente a crescente dívida do Suriname com a China e seu impacto nas comunidades indígenas e no meio ambiente.

O presidente chinês, Xi Jinping, recebe o presidente surinamês, Chandrikapersad Santokhi, durante cerimônia em Pequim em abril passado. [Zhai Jianlan/Xinhua via AFP]
O presidente chinês, Xi Jinping, recebe o presidente surinamês, Chandrikapersad Santokhi, durante cerimônia em Pequim em abril passado. [Zhai Jianlan/Xinhua via AFP]

Por Entorno |

A estatal chinesa Aluminum Corporation of China (Chinalco) está pronta para lançar um projeto de extração de bauxita no Suriname em 2026, motivando preocupações ambientais e aprofundando a dependência financeira do país sul-americano em relação a Pequim.

A Chinalco planeja investir US$ 426 milhões no empreendimento, visando uma produção anual de 6 milhões de toneladas de bauxita, de acordo com o consultor do governo surinamês Daniel Lachman.

Lachman diz que, pelo acordo, o Suriname se beneficiará principalmente das receitas de royalties, e não dos impostos pagos pela empresa chinesa.

O projeto faz parte de uma estratégia mais ampla da China para garantir suprimentos de matéria-prima em longo prazo, atender à crescente demanda interna e reduzir a dependência de outros fornecedores internacionais.

Líderes e chefes indígenas se reúnem no Porto de Apoera para discutir com suas comunidades os impactos negativos do acordo do governo surinamês com a estatal de mineração chinesa Chinalco. [Associação de Chefes de Aldeias Indígenas no Suriname]
Líderes e chefes indígenas se reúnem no Porto de Apoera para discutir com suas comunidades os impactos negativos do acordo do governo surinamês com a estatal de mineração chinesa Chinalco. [Associação de Chefes de Aldeias Indígenas no Suriname]
O ministro das Finanças e Planejamento do Suriname, Stanley Raghoebarsing (à esquerda), e o ministro dos Recursos Naturais, David Abiamofo (à direita), assinam memorando de entendimento com o CEO da Chinalco, Dong Jianxiong (ao centro), em 25 de novembro passado, abrindo caminho para a extração de bauxita nas Montanhas Bakhuis. [Governo do Suriname]
O ministro das Finanças e Planejamento do Suriname, Stanley Raghoebarsing (à esquerda), e o ministro dos Recursos Naturais, David Abiamofo (à direita), assinam memorando de entendimento com o CEO da Chinalco, Dong Jianxiong (ao centro), em 25 de novembro passado, abrindo caminho para a extração de bauxita nas Montanhas Bakhuis. [Governo do Suriname]

Além da aquisição de recursos, a iniciativa fortalece a influência econômica e política da China na América do Sul, particularmente no setor de mineração da região. Mas a crescente dependência do Suriname do financiamento chinês aumentou sua vulnerabilidade em relação às políticas econômicas de Pequim.

Armadilha da dívida

No Suriname, aumentam as preocupações de que décadas de dívida crescente com a China possam prejudicar o desenvolvimento futuro e sobrecarregar o país com passivos muito além de sua capacidade de pagamento.

A China representa cerca de 17% da dívida pública total do Suriname, com o país devendo US$ 476 milhões ao Banco de Exportação e Importação da China e outros US$ 68 milhões ao Banco Industrial e Comercial da China.

Diante de pagamentos em atraso de US$ 140 milhões, o Suriname renegociou sua dívida com Pequim em novembro, informou a Reuters naquele mês.

O ministro das Relações Exteriores, Albert Ramdin, recentemente eleito presidente da Organização dos Estados Americanos, desempenhou um papel fundamental nas negociações, aproveitando seus laços diplomáticos com autoridades chinesas para garantir um acordo de reescalonamento.

'Situação suspeita'

Em 26 de fevereiro, o jornal De Ware Tijd informou que nove grupos da sociedade civil consideram processar o estado surinamês devido ao acordo proposto entre o governo e a Chinalco para mineração de bauxita nas Montanhas Bakhuis, no oeste do Suriname.

Vários aspectos do projeto Chinalco levantam sérias preocupações, disse o analista de direito corporativo Antoon Karg ao jornal De Ware Tijd.

Ele destacou especificamente as amplas isenções fiscais concedidas à Chinalco como excessivamente generosas.

"Esta é uma situação suspeita e não foi para isso que elegemos nosso governo", disse Karg ao jornal.

Karg destacou uma cláusula na minuta do acordo em que o governo se compromete a ajudar a Chinalco caso a empresa enfrente desafios jurídicos decorrentes de regulações locais ou conflitos com comunidades indígenas.

Ele criticou esse item. O estado deve proteger os interesses de seu povo, não os de investidores estrangeiros, disse.

Impactos ambientais

Outra grande preocupação é a fraca proteção ambiental do acordo. Ele não tem regulamentações claras e não impõe penalidades para violações, disse Karg.

"Há uma tentativa de minar (…) os estudos ambientais obrigatórios", alertou.

Grupos ambientalistas alertam que a mineração de bauxita devasta florestas, ameaça a biodiversidade e polui fontes de água com escoamento tóxico.

O processo também degrada a qualidade do ar, acelera a erosão e esgota a fertilidade do solo, dificultando a recuperação.

ONGs locais e internacionais manifestaram preocupações de que os grupos étnicos mais afetados — aruaques, caribenhos e maroons — tenham laços históricos e culturais profundos com a região, o que torna o impacto do projeto na área de 280.000 hectares ainda mais grave.

A zona de exploração e extração de minerais no Suriname abriga cerca de 324 milhões de toneladas de bauxita de baixa qualidade, uma matéria-prima essencial para a produção de alumínio.

O peso leve e a durabilidade do alumínio o tornam essencial para setores como construção, indústria aeroespacial e produção de automóveis.

Gostou desta matéria?


Captcha *