Economia
Indústria de mineração do Chile opera no limite enquanto China busca domínio do cobre
Mercados chilenos de mineração estão em alerta devido às táticas comerciais da China, especialmente após impacto devastador do dumping siderúrgico de 2024 que levou ao fechamento da usina de Huachipato.
![Trabalhadores da mina de cobre Codelco Chuquicamata em Calama, na província de Antofagasta, Chile. [Glenn Arcos/AFP]](/gc4/images/2025/02/21/49267-cobre-600_384.webp)
Por Alicia Gutiérrez |
SANTIAGO – A recente descoberta de grandes reservas de cobre no planalto tibetano gerou incertezas na indústria mineradora do Chile.
A China anunciou em 6 de janeiro a descoberta de quatro depósitos significativos de cobre no planalto Qinghai-Tibete: Yulong, Duolong, Julong-Jiama e Xiongcun-Zhunuo, de acordo com o jornal estatal chinês Global Times.
Essas reservas somam juntas mais de 20 milhões de toneladas métricas de recursos de cobre, podendo atingir até 150 milhões de toneladas.
“A região tem potencial para se transformar em um centro de recursos de cobre de classe mundial, mudando o cenário da exploração e do desenvolvimento de minas de cobre na China”, afirmou o periódico, citando o Serviço Geológico da China.
![Vista aérea da fundição de cobre da Codelco em Puchuncaví, na província de Valparaíso, Chile. [Javier Araos/AFP]](/gc4/images/2025/02/21/49268-cobre2-600_384.webp)
Representantes do setor de mineração do Chile acompanham atentamente a recente descoberta chinesa no Tibete, manifestando preocupação com a potencial depreciação do cobre doméstico – uma mercadoria frequentemente mencionada como "o salário do Chile".
Embora alguns especialistas acreditem que o impacto imediato possa ser mínimo, o contexto geopolítico e as estratégias comerciais da China mantêm o mercado chileno atento.
Essa cautela é reforçada pelos acontecimentos de 2024, quando as práticas de dumping de aço da China levaram ao fechamento da maior siderúrgica do Chile, Huachipato, após 74 anos de operação, o que teve grandes repercussões econômicas.
'Não são boas notícias'
Manuel Viera, presidente da Câmara de Mineração do Chile, expressou preocupação com a recente descoberta de cobre no Tibete, destacando o impacto potencial na indústria de mineração chilena.
"Me preocupa a magnitude do que foi descoberto no planalto tibetano. É um território enorme. Imagine, é do tamanho da Argentina!”
"O que mais me preocupa é como isso vai afetar o Chile. Estima-se que naquele planalto existam cerca de 150 milhões de toneladas de cobre, exatamente as mesmas reservas que temos no Chile! Isso não é uma boa notícia para nós, devemos estar muito atentos ao que acontece lá", explicou Viera ao Entorno
As reservas de cobre do Chile são estimadas entre 150 milhões e 210 milhões de toneladas métricas, segundo as autoridades locais do setor. Esse volume está em conformidade com os dados do Serviço Geológico dos EUA, que estimou reservas de cerca de 190 milhões de toneladas métricas em 2022.
Viera também destacou as preocupações ambientais associadas à mineração no Tibete.
"Lá existem muitos recursos minerais, principalmente cobre, lítio e outras terras raras", lembrou ele. "É um grande desafio para a humanidade porque poderíamos nos beneficiar destes recursos, mas a exploração de minas nessa área poderia ser devastadora para o meio ambiente", advertiu.
As atividades intensivas de mineração no Tibete, especialmente perto dos sistemas fluviais, resultaram em uma contaminação significativa por metais pesados, de acordo com vários estudos científicos.
A extração de minerais como cobre, lítio e outras terras raras no Tibete representa grandes desafios ambientais, uma vez que a região é fonte dos principais rios asiáticos.
De sócia a feroz adversária
As crescentes reservas da China poderão representar desafios econômicos futuros para o Chile, afirma Sascha Hannig, analista chilena de assuntos internacionais.
Autora do estudo "ALC da China com o Chile: monocultura do cobre, diversificação limitada e dependência oculta", Hannig destaca a abordagem estratégica do país asiático em relação aos seus recursos naturais, observando que Pequim optou por não explorar massivamente suas reservas.
Em vez disso, a China continua importando cobre e outros materiais de países latino-americanos, o que intensifica a dependência destes em relação ao mercado chinês.
Hanning enfatiza ainda a influência da China no mercado global de cobre.
"A China, pela sua demanda pelo cobre chileno e também por alguns acordos... tem o poder de controlar, não o preço, mas as tendências. Sua demanda dá o tom do mercado”, salientou a pesquisadora ao Entorno.
Hannig mostra preocupação com o impacto chinês nos setores de refino e manufatura do Chile, observando que “a China só compra cobre bruto para processar em suas siderúrgicas”.
Desta forma, o Chile ficou sem uma verdadeira razão para otimizar sua indústria, “o que, no longo prazo, fez com que a indústria chilena finalmente se mantivesse por elementos muito básicos”, avalia.