Economia
Aço chinês barato prejudica indústria colombiana e põe em risco futuro do metrô de Bogotá
Analistas alertam que chineses estão usando aço de má qualidade, o que pode colocar em risco passageiros e trabalhadores do metrô de Bogotá.
![Três trabalhadores instalam estacas para a construção da primeira linha do Metrô de Bogotá. [Metro de Bogotá]](/gc4/images/2025/02/10/49091-bogota1-600_384.webp)
Por Edelmiro Franco V. |
BOGOTÁ — A concorrência desleal do aço chinês está prejudicando a indústria siderúrgica da Colômbia, e relatórios agora sugerem que o material importado do país asiático e usado no futuro metrô de Bogotá não atende aos padrões internacionais, levantando graves preocupações de segurança para o projeto.
O uso de materiais de baixa qualidade pode colocar em risco milhares de vidas, alertou David Barros, diretor da Câmara Colombiana do Aço (Camacero).
"Estamos preocupados com o aço de origem chinesa. Consideramos que é necessária uma verificação e avaliação técnica imediata", disse ele ao La República em 30 de janeiro.
Barros pediu a criação de um comitê especializado para garantir a confiabilidade dos materiais utilizados pelo consórcio chinês Metro Línea 1, liderado pelas empresas estatais China Harbour Engineering Company (CHEC) e Xi'an Rail Transportation Group.
![Trabalhadores fazem operações de transferência de rede e adaptação de terrenos durante construção da primeira linha do Metrô de Bogotá. [Metro de Bogotá]](/gc4/images/2025/02/10/49092-bogota2-600_384.webp)
Entre as principais preocupações da Camacero estão a integridade estrutural, a durabilidade e a segurança geral.
"É nisso que está focada nossa denúncia e queremos que sejam tomadas as medidas adequadas para que ocorra a verificação imediata", enfatizou Barros.
A construção do metrô, iniciada em 2020, deve terminar em 2028.
Mas o projeto está cercado de polêmicas relativas aos atrasos do consórcio na execução da obra e obrigações não pagas aos empreiteiros locais.
'Dumping' chinês
As preocupações de Barros expõem a crise enfrentada pela indústria siderúrgica da América Latina, que luta contra uma enxurrada de aço vendido pela China na região com prática de dumping — ou seja, a preços abaixo do custo.
O setor amarga perdas de empregos e fechamentos de fábricas. Um duro sinal veio em setembro, quando a Huachipato, a maior siderúrgica do Chile, foi fechada devido à concorrência chinesa desleal.
As principais empresas e entidades do setor — incluindo Acerias PazdelRio, Alumina S.A., Associação Nacional de Indústrias da Colômbia (ANDI) e a Associação Latino-Americana do Aço (Alacero) — alertaram repetidamente sobre o agravamento da crise.
Suas preocupações foram ecoadas no Fórum Nacional do Aço realizado em Tunja em 12 de agosto, quando líderes da indústria pediram medidas protecionistas mais fortes para neutralizar o impacto do aumento das importações de aço, principalmente da China.
O governo colombiano respondeu elevando as tarifas sobre o aço chinês para 35%, o máximo permitido pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Essa medida, implementada em 18 de outubro, permanecerá em vigor por dois anos e tem como alvo principal a concorrência desleal da China e da Rússia.
Mas medidas adicionais são necessárias para garantir a sobrevivência do setor siderúrgico da Colômbia, argumentam observadores da indústria.
A imposição de tarifas adicionais sobre o aço chinês pela Colômbia segue medidas semelhantes de Argentina, Brasil, Chile, Honduras, México e Peru, que aumentaram as tarifas para combater a concorrência desleal.
Preços predatórios
O mercado de aço enfrenta um momento complexo tanto local quanto globalmente, disse Daniel Rey, diretor executivo do Comitê Colombiano de Produtores de Aço da ANDI e professor da Universidade Javeriana em Bogotá, ao Entorno.
Preços predatórios — principalmente da China — exercem uma imensa pressão sobre os produtores nacionais, alertou ele.
O dumping já colocou em risco cerca de 50.000 empregos diretos e indiretos na indústria siderúrgica da Colômbia. A China, que produz quase 54% do aço do mundo, subsidia fortemente seus exportadores. Eles conseguem vender por um preço de 20% a 30% inferior ao aplicado pelos produtores locais e tornam a competição justa quase impossível, de acordo com o analista.
A desaceleração econômica da China e o colapso do seu setor imobiliário alimentaram ainda mais a superprodução de aço barato e subsidiado, inundando os mercados globais e aprofundando a crise das indústrias latino-americanas.