Economia
Brasil rejeita ser 'quintal' para produção excedente da China
Carros elétricos chineses estão inundando mercado brasileiro e ameaçando a viabilidade das montadoras nacionais.
![Foto aérea mostra carros alinhados para exportação no porto de Yantai, na província de Shandong, China, aguardando carregamento no 'SAIC Anji Eternity', um navio construído no país destinado à exportação de automóveis chineses. [AFP]](/gc4/images/2025/03/18/49606-brazil_cars-600_384.webp)
Por Waldaniel Amadis |
SÃO PAULO, Brasil -- A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) avalia solicitar uma investigação ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior sobre suposto "dumping" pelas montadoras de carros elétricos chinesas.
A medida proposta visa impor uma tarifa imediata de 35% sobre os carros chineses para conter seu crescente domínio no mercado brasileiro de veículos elétricos. As montadoras chinesas respondem por metade de todos os carros importados, enquanto o Brasil enfrenta dificuldades com o declínio das exportações.
“O Brasil se tornou um 'lixão' para carros chineses”, disse o presidente da Anfavea, Marcio Leite, à Bloomberg Linea no fim de janeiro.
A medida proposta visa principalmente as indústrias chinesas BYD e GWM, que ganharam participação de mercado desde que entraram no Brasil e agora estão construindo unidades locais.
![Vista aérea de carros novos no porto do Rio de Janeiro. [Yasuyoshi Chiba/AFP]](/gc4/images/2025/03/18/49607-brazil_car2-600_384.webp)
Segundo o anuário da Anfavea, essas duas empresas foram responsáveis por 60% de todas as importações de veículos elétricos do Brasil no ano passado. Elas se valeram de isenção de tarifas de exportação até ao fim de 2024, inundando o mercado com veículos antes da entrada em vigor de uma tarifa de 10% em 1o de janeiro.
Essa tarifa subirá gradualmente para 35% até 2026.
Antecipando o aumento, as montadoras chinesas – especialmente a BYD – aceleraram as exportações em dois anos, o que levou a uma estoque de mais de 70.000 veículos não vendidos nos portos brasileiros. A Bloomberg agora estima esse volume em cerca de 50.000 unidades.
A BYD nega as alegações de dumping, acusando a indústria automobilística brasileira de “tentar mascarar sua falta de competitividade”. Enquanto isso, a Anfavea diz que defende “a livre concorrência e a prevenção de práticas que prejudiquem o mercado automotivo brasileiro”.
Alarme na indústria siderúrgica
Em 2024, o Brasil registrou 466.500 veículos importados – um salto de 33%, o maior em uma década –, dos quais 200.000 eram chineses, segundo a Bloomberg Linea.
Já as exportações caíram 1,3%, para 398.000 unidades, e a participação do Brasil no mercado latino-americano recuou de 24% para 17%.
Apesar do declínio nas exportações, o Brasil reforçou a sua posição como o sexto maior mercado automotivo do mundo, contabilizando 2,6 milhões de emplacamentos de veículos – nacionais e importados –, o que representa um crescimento de 14,1%.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), um dos maiores produtores de aço do Brasil, alertou em 13 de março que o fluxo “injusto” das importações chinesas de aço barato está prejudicando gravemente a economia.
“O Brasil ainda é o quintal do mundo para a China enviar materiais”, disse o executivo da CSN Luiz Martinez.
Em resposta a uma enxurrada de importações lideradas pela China, o Brasil introduziu um sistema de cotas de importações em 2024. Mas Martinez classificou a medida como "inócua" para a proteção da competitividade da indústria.
Ele defende que o Brasil siga o exemplo de outros países, aumentando as tarifas sobre o aço chinês.