Economia

Brasil rejeita ser 'quintal' para produção excedente da China

Carros elétricos chineses estão inundando mercado brasileiro e ameaçando a viabilidade das montadoras nacionais.

Foto aérea mostra carros alinhados para exportação no porto de Yantai, na província de Shandong, China, aguardando carregamento no 'SAIC Anji Eternity', um navio construído no país destinado à exportação de automóveis chineses. [AFP]
Foto aérea mostra carros alinhados para exportação no porto de Yantai, na província de Shandong, China, aguardando carregamento no 'SAIC Anji Eternity', um navio construído no país destinado à exportação de automóveis chineses. [AFP]

Por Waldaniel Amadis |

SÃO PAULO, Brasil -- A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) avalia solicitar uma investigação ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior sobre suposto "dumping" pelas montadoras de carros elétricos chinesas.

A medida proposta visa impor uma tarifa imediata de 35% sobre os carros chineses para conter seu crescente domínio no mercado brasileiro de veículos elétricos. As montadoras chinesas respondem por metade de todos os carros importados, enquanto o Brasil enfrenta dificuldades com o declínio das exportações.

“O Brasil se tornou um 'lixão' para carros chineses”, disse o presidente da Anfavea, Marcio Leite, à Bloomberg Linea no fim de janeiro.

A medida proposta visa principalmente as indústrias chinesas BYD e GWM, que ganharam participação de mercado desde que entraram no Brasil e agora estão construindo unidades locais.

Vista aérea de carros novos no porto do Rio de Janeiro. [Yasuyoshi Chiba/AFP]
Vista aérea de carros novos no porto do Rio de Janeiro. [Yasuyoshi Chiba/AFP]

Segundo o anuário da Anfavea, essas duas empresas foram responsáveis ​​por 60% de todas as importações de veículos elétricos do Brasil no ano passado. Elas se valeram de isenção de tarifas de exportação até ao fim de 2024, inundando o mercado com veículos antes da entrada em vigor de uma tarifa de 10% em 1o de janeiro.

Essa tarifa subirá gradualmente para 35% até 2026.

Antecipando o aumento, as montadoras chinesas – especialmente a BYD – aceleraram as exportações em dois anos, o que levou a uma estoque de mais de 70.000 veículos não vendidos nos portos brasileiros. A Bloomberg agora estima esse volume em cerca de 50.000 unidades.

A BYD nega as alegações de dumping, acusando a indústria automobilística brasileira de “tentar mascarar sua falta de competitividade”. Enquanto isso, a Anfavea diz que defende “a livre concorrência e a prevenção de práticas que prejudiquem o mercado automotivo brasileiro”.

Alarme na indústria siderúrgica

Em 2024, o Brasil registrou 466.500 veículos importados – um salto de 33%, o maior em uma década –, dos quais 200.000 eram chineses, segundo a Bloomberg Linea.

Já as exportações caíram 1,3%, para 398.000 unidades, e a participação do Brasil no mercado latino-americano recuou de 24% para 17%.

Apesar do declínio nas exportações, o Brasil reforçou a sua posição como o sexto maior mercado automotivo do mundo, contabilizando 2,6 milhões de emplacamentos de veículos – nacionais e importados –, o que representa um crescimento de 14,1%.

A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), um dos maiores produtores de aço do Brasil, alertou em 13 de março que o fluxo “injusto” das importações chinesas de aço barato está prejudicando gravemente a economia.

“O Brasil ainda é o quintal do mundo para a China enviar materiais”, disse o executivo da CSN Luiz Martinez.

Em resposta a uma enxurrada de importações lideradas pela China, o Brasil introduziu um sistema de cotas de importações em 2024. Mas Martinez classificou a medida como "inócua" para a proteção da competitividade da indústria.

Ele defende que o Brasil siga o exemplo de outros países, aumentando as tarifas sobre o aço chinês.

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