Economia

Consórcio chinês desrespeita termos e obrigações no projeto do Metrô de Bogotá

Construtoras locais que trabalham na primeira linha do Metrô de Bogotá não foram remuneradas na temporada de férias devido a atrasos nos pagamentos do consórcio chinês responsável pelo projeto.

Avanço da construção da Primeira Linha do Metrô de Bogotá. Empresa Metro de Bogotá]
Avanço da construção da Primeira Linha do Metrô de Bogotá. Empresa Metro de Bogotá]

Por Edelmiro Franco V. |

BOGOTÁ -- O ainda incompleto projeto do Metrô de Bogotá é marcado por polêmicas sobre atrasos na construção e obrigações não honradas com construtoras locais.

A Colômbia concedeu o ambicioso empreendimento a um consórcio chinês em outubro de 2019.

O projeto foi inicialmente avaliado em 13,8 bilhões de pesos colombianos (cerca de US$ 4 bilhões).

A conclusão do metrô, prevista para 2028, pode ser adiada por quatro anos, alertou Ana Teresa Bernal, vice-presidente da Câmara Municipal de Bogotá.

O prefeito de Bogotá, Carlos Fernando Galán (à esquerda), o gerente geral da Empresa Metro de Bogotá (EMB), Leonidas Narváez (à direita), e o consultor sênior do Consórcio ML1 Wu Yu (centro-direita) inspecionam as obras de escavação e fundações do viaduto da Linha 1 do Metrô de Bogotá. [Empresa Metro de Bogotá]
O prefeito de Bogotá, Carlos Fernando Galán (à esquerda), o gerente geral da Empresa Metro de Bogotá (EMB), Leonidas Narváez (à direita), e o consultor sênior do Consórcio ML1 Wu Yu (centro-direita) inspecionam as obras de escavação e fundações do viaduto da Linha 1 do Metrô de Bogotá. [Empresa Metro de Bogotá]

Em 23 de dezembro, a W Radio revelou irregularidades envolvendo o consórcio chinês Metro Línea 1 S.A.S., formado pela China Harbour Engineering Company Limited (CHEC) e pela Xi'an Metro.

Várias construtoras e empreiteiras envolvidas no projeto da Linha 1 do Metro estão insatisfeitas com o “não pagamento das obrigações por parte do consórcio chinês responsável pelo projeto”, informou a W Radio.

Fontes disseram à rádio que há faturas não pagas com atrasos de até 150 dias, sem indicação clara do consórcio sobre quando os pagamentos serão feitos.

Apesar desses atrasos, o consórcio “continua exigindo o cumprimento” das obras e também solicitando novas atividades sem os respectivos contratos, agravando ainda mais a situação.

Quebras de contrato

A reportagem da rádio foi corroborada, em 23 de dezembro, por meio de um comunicado para a imprensa emitido pelo escritório de advocacia De La Espriella, que representa uma construtora local, a Proyecto Metro, em suas negociações com a Metro Línea 1 S.A.S.

O escritório de advocacia descreveu as queixas de seu cliente, citando violações no planejamento, na execução e nos pagamentos previstos nos contratos.

O comunicado destacou que o contrato da Proyecto Metro expirou em 23 de outubro, mas o cliente continuou cumprindo suas obrigações, apesar das violações no contrato e do não pagamento por parte do consórcio chinês.

Os contratos em disputa envolvem obras estimadas entre 1,5 bilhão de pesos colombianos (US$ 341.000) e 2 bilhões de pesos colombianos (US$ 454.545).

O cliente do De La Espriella pretende chegar a um acordo "sem afetar a continuação da obra”, segundo o escritório de advocacia.

Mas, alertou que, se não receber uma resposta nos prazos estabelecidos, seu cliente procederá "com a suspensão total e indefinida da mesma".

A Metrô Linha 1 S.A.S. demonstrou uma intenção clara de “desrespeitar as obrigações contratuais, particularmente em termos de pagamentos”, acrescentou o De La Espriella.

No dia 1º de fevereiro do ano passado, o gerente-geral da Empresa Metro de Bogotá, Leonidas Narváez, escreveu ao consórcio chinês expressando sérias preocupações com a execução do projeto.

Na carta, revelada pela W Radio no fim de dezembro, Narváez destacou "desvios em relação ao programado" e "ineficiências de gestão" do consórcio Metro Línea 1 S.A.S.

Ele alertou que esses problemas poderiam criar uma “situação de risco” com relação aos resultados do projeto e ao cumprimento das obrigações contratuais.

As irregularidades envolvendo a CHEC e a Xi'an Metro não se limitam à Colômbia. Queixas semelhantes surgiram em outros países pelo mundo.

A CHEC, subsidiária da China Communications Construction Company, está na lista negra do Banco Mundial desde 2009 por envolvimento em práticas fraudulentas de licitação.

A Xi'an Metro, com sede na província de Shaanxi, China, atua principalmente na China e é responsável pela construção e operação do sistema de metrô de Xi'an.

Nenhuma das empresas chinesas tem experiência anterior com projetos metroviários ou ferroviários na América Latina.

Materiais abaixo do padrão

A qualidade das obras do Metrô de Bogotá, especialmente por parte de empresas chinesas, gerou um grande debate.

Uma das principais críticas envolve dúvidas sobre se a qualidade do trabalho das empresas chinesas corresponde às expectativas de países desenvolvidos.

Além disso, atrasos na construção levantaram dúvidas sobre a eficiência e capacidade de gestão das empresas responsáveis ​​pelo projeto.

Analistas destacaram diversos incidentes e falhas durante a construção, questionando a qualidade dos materiais e da mão de obra utilizada.

Há ainda a preocupação de que a transferência tecnológica esperada dessas empresas chinesas não tenha se concretizado, dificultando o desenvolvimento das capacidades locais.

Gostou desta matéria?


Captcha *