Economia

Ameaça de 'armadilha da dívida' paira sob Colômbia enquanto país corteja a Iniciativa Cinturão e Rota da China

Venezuela sob o chavismo e Equador durante a presidência de Rafael Correa acabaram com dívidas incapacitantes com a China. Agora, Colômbia pode cometer o mesmo erro.

O presidente chinês, Xi Jinping (D), aperta a mão do presidente colombiano, Gustavo Petro, durante uma cerimônia em Pequim em outubro de 2023. [Ken Ishii/Pool/AFP]
O presidente chinês, Xi Jinping (D), aperta a mão do presidente colombiano, Gustavo Petro, durante uma cerimônia em Pequim em outubro de 2023. [Ken Ishii/Pool/AFP]

Por Giselle Alzate |

BOGOTÁ – A possível inclusão da Colômbia na Iniciativa do Cinturão e Rota da China (BRI) — também conhecida como Nova Rota da Seda — representa uma potencial faca de dois gumes para a nação sul-americana.

Promovida como uma plataforma para o desenvolvimento de infraestrutura e cooperação comercial, a iniciativa chinesa conquistou o interesse do governo colombiano, que negocia sua adesão.

Em outubro, o vice-ministro de Relações Exteriores da Colômbia, Jorge Rojas, anunciou que o país estava negociando o ingresso formal na iniciativa (BRI, na sigla em inglês), com o objetivo de alavancar o financiamento de megaprojetos de Pequim.

"A Colômbia entrará no Cinturão e Rota da China após uma negociação na qual reconhecemos as prioridades e necessidades de ambos os países", divulgou Rojas nas redes sociais no início daquele mês.

Três trabalhadores durante a instalação de estacas para a construção da primeira linha de metrô em Bogotá. O projeto está sob a gestão do Metro Linea 1, um consórcio de duas empresas chinesas. [Metro de Bogota]
Três trabalhadores durante a instalação de estacas para a construção da primeira linha de metrô em Bogotá. O projeto está sob a gestão do Metro Linea 1, um consórcio de duas empresas chinesas. [Metro de Bogota]

Reportagens da mídia local indicam que a entrada formal da Colômbia na iniciativa pode ser anunciada já em fevereiro, coincidindo com o 45º aniversário das relações diplomáticas entre Bogotá e Pequim.

Armadilha da dívida

Observadores têm levantado preocupações sobre o risco latente de a Colômbia cair em uma “armadilha da dívida” com a China, um cenário que afetou países como a Venezuela durante 25 anos de chavismo e o Equador sob o governo do ex-presidente Rafael Correa (2007–2017).

Desde julho passado, a Venezuela devia à China cerca de US$ 10 bilhões.

O Equador, mesmo após uma reestruturação da dívida em 2022, ainda deve à China quase US$ 3 bilhões.

Várias negociações ocorrerão até que a iniciativa chinesa entre em vigor no início deste ano, disse Daniela Rueda, analista da Colombia Risk Analysis, ao Entorno.

Mas uma má negociação por parte do governo colombiano pode levar a consequências "nefastas", potencialmente mergulhando o país em uma crise de dívida insustentável, afirmou ela.

"Como qualquer integração, representa oportunidades e envolve certos riscos. Penso que para a Colômbia a questão da dívida é um aspecto muito relevante que deve ser ponderado", observou a analista.

"Vimos como a América Latina e a África foram afetadas pela questão da dívida."

Os bancos estatais chineses frequentemente impõem condições específicas em seus empréstimos de infraestrutura, segundo Rueda. "Se a Colômbia não for cuidadosa, corre o risco de entrar em condições menos favoráveis ​​frente à China", destacou.

"Isto afetaria a dívida e também a capacidade da Colômbia de pedir financiamento no futuro", acrescentou.

Vigilância

A China propôs medidas de financiamento bilateral sob a estrutura da BRI, destacou Sergio Guzmán, diretor da Colombia Risk Analysis. Mas os detalhes dessas medidas "são desconhecidos e não sabemos quais são os seus termos, quais são os prazos ou condições", disse ele.

"É preciso exercer vigilância, é preciso ver para onde vai e quais são os riscos", enfatizou. "Deve haver um monitoramento constante e consistente das implicações que isso pode ter."

A decisão da Colômbia de aderir à iniciativa chinesa pode levar à dependência financeira de Pequim, disse Rueda.

"Ao insistir e ampliar estas relações [com a China] e se não tivermos cuidado com a forma como esta adesão ao Cinturão e Rota é proposta, corremos um risco bastante significativo em termos de dívida e possível dependência da China", alertou ela.

As duas maiores economias da América Latina, Brasil e México, ainda não aderiram à BRI, o que reflete cautela ou ceticismo em relação à iniciativa.

A China já tem tratados de livre comércio com o Chile, a Costa Rica, o Equador, a Nicarágua e o Peru e investiu bilhões de dólares em projetos de infraestrutura na América Latina.

No entanto, grande parte desse investimento vem na forma de empréstimos que muitas vezes incluem condições de pagamento desfavoráveis.

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