Segurança
Grupos armados colombianos exploram política de paz e civis para expandir seus territórios
Grupos armados colombianos estão tirando proveito da busca do governo pela paz para reforçar seu poder militar e econômico, principalmente nas regiões de fronteira com a Venezuela e o Equador.
![Membro da frente Carlos Patino, grupo ex-FARC renegado, faz patrulha perto de plantações de coca em Micay Canyon, no departamento de Cauca, Colômbia, em março. [Raul Arboleda/AFP]](/gc4/images/2025/01/03/48654-cubides2-600_384.webp)
Por Andrés Pachón |
BOGOTÁ — Grupos armados ilegais na Colômbia exploraram a busca do governo pela paz para consolidar o poder e expandir sua presença em territórios importantes.
Para piorar a situação, eles estão usando civis como escudos e, assim, complicando as operações de contrainsurgência.
Historicamente, organizações criminosas veem o anseio do povo colombiano por paz como "uma oportunidade para se fortalecer", disse o almirante Francisco Cubides, comandante das Forças Militares Colombianas, ao Entorno em entrevista.
Eles têm aproveitado repetidamente os cessar-fogos estabelecidos durante as negociações de paz nas décadas de 1980 e 1990 e esforços mais recentes, disse ele.
![O almirante Francisco Cubides, comandante das forças armadas colombianas, faz saudação após assumir o comando das tropas em Bogotá em julho. [Luis Acosta/AFP]](/gc4/images/2025/01/03/48653-cubides-600_384.webp)
![Bandeira branca é vista perto de plantações de coca em Micay Canyon, área montanhosa e reduto de ex-renegados das FARC no departamento de Cauca, em março. [Raul Arboleda/AFP]](/gc4/images/2025/01/03/48655-cubides3-600_384.webp)
"Hoje, essa dinâmica não mudou", acrescentou. "Regiões como Arauca, Catatumbo (na fronteira com a Venezuela), Cauca, Nariño (na fronteira com o Equador) e o sul de Bolívar testemunharam o fortalecimento desses grupos."
"Eles continuam a se financiar através de atividades ilícitas como o narcotráfico, a mineração ilegal, a extorsão e o recrutamento forçado de menores."
Conversações de paz
Desde que assumiu o cargo, em 2022, o presidente Gustavo Petro tem promovido uma política de paz que visa negociar com o grupo insurgente de extrema esquerda Exército de Libertação Nacional (ELN), além de duas facções das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) — o Estado-Maior Central (EMC) e a Segunda Marquetalia — e do grupo paramilitar Clã do Golfo, todos designados como organizações terroristas.
A iniciativa do governo busca acabar com décadas de conflito armado interno, que já custou cerca de 450.000 vidas, fazendo com que ex-insurgentes se entreguem, desarmem e se reintegrem à sociedade.
Mas a atual restrição ao avanço de operações ofensivas permitiu que grupos armados ilegais explorassem a situação para "se reorganizar, fortalecer suas estruturas e expandir sua influência criminosa em zonas estratégicas", disse Cubides.
Vários grupos armados ilegais conquistaram um território de 324.736 km² e agora contam, juntos, com 16.770 membros, de acordo com um relatório das Forças Militares Colombianas publicado pelo Noticias Caracol no fim de 2023.
Esses números representam um crescimento de 4% em território e de 11% em número de membros em relação ao ano anterior, de acordo com os militares.
A situação das forças colombianas se tornou ainda mais complexa, pois "as dinâmicas criminosas mudaram significativamente nos últimos anos", disse Cubides.
“Estes grupos agora recorrem a estratégias como camuflar-se entre a população civil, coagir as comunidades a fornecer-lhes apoio logístico ou informações sobre as tropas e instrumentalizar os civis como escudos humanos – particularmente levando crianças para esse fim e recrutando menores para as suas fileiras.”
"Essas formas de crime não apenas complicam as operações militares, mas também buscam deslegitimar a ação estatal e gerar tensões nas comunidades afetadas", acrescentou.
Cooperação internacional
As forças armadas colombianas continuarão usando todos os recursos disponíveis "para neutralizar as ameaças representadas por esses grupos", disse Cubides.
Ele expressou confiança no fortalecimento dos laços estratégicos com os colegas latino-americanos e norte-americanos para "combater ameaças e crimes transnacionais que afetam a estabilidade regional, alcançando uma melhor unidade de esforços na luta contra grupos armados ilegais e outros desafios comuns".
Cubides também destacou o avanço no "planejamento e alocação de recursos para iniciativas conjuntas que transcendem os pilares de segurança tradicionais", o que inclui “um trabalho notável em segurança cibernética, defesa regional e luta contra ameaças emergentes”.