Segurança

Guerrilheiros colombianos ameaçam ‘guerra total’ frente ao fracasso do plano de paz

Desde janeiro, o Exército de Libertação Nacional (ELN), agente importante no comércio global de cocaína, entrou em confronto com um grupo guerrilheiro rival do narcotráfico na fronteira com a Venezuela, deslocando quase 56 mil pessoas e causando pelo menos 76 mortes.

Rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) da Frente de Guerra Nordeste de Manuel Vázquez Castano montam guarda na região de Catatumbo, Colômbia. [AFP]
Rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) da Frente de Guerra Nordeste de Manuel Vázquez Castano montam guarda na região de Catatumbo, Colômbia. [AFP]

Por AFP |

MONTANHAS DO CATATUMBO, Colômbia - Anos de "paz total" podem se transformar em "guerra total", ameaçam comandantes do grupo guerrilheiro Exército de Libertação Nacional (ELN).

Em uma rara entrevista, realizada em um local secreto nas montanhas perto da fronteira com a Venezuela, dois comandantes da guerrilha disseram à AFP que estão abertos ao diálogo, mas prontos para a guerra.

Composto por milhares de membros, o grupo guerrilheiro trava há 60 anos uma insurreição de esquerda contra o Estado colombiano, tendo se apoderado de diversos territórios e se tornado um importante operador no comércio global de cocaína.

Desde janeiro, batalhas entre o ELN e um grupo guerrilheiro rival na região fronteiriça do Catatumbo obrigaram o deslocamento de quase 56 mil pessoas e deixaram pelo menos 76 mortos, segundo estimativas do governo.

Pessoas deslocadas que fogem dos recentes confrontos entre grupos armados atravessam o rio Tarra, entre a Colômbia e a Venezuela, para chegar a Três Bocas, no estado de Zulia, Venezuela. [Schneyder Mendoza/AFP]
Pessoas deslocadas que fogem dos recentes confrontos entre grupos armados atravessam o rio Tarra, entre a Colômbia e a Venezuela, para chegar a Três Bocas, no estado de Zulia, Venezuela. [Schneyder Mendoza/AFP]

É uma das piores ondas de violência já registradas na Colômbia desde a assinatura dos acordos de paz em 2016.

Em resposta, o governo declarou estado de emergência e enviou milhares de soldados para a região.

O presidente Gustavo Petro prometeu restabelecer o controle estatal pela força, se necessário. “O ELN escolheu o caminho da guerra e terá guerra”, garantiu.

Vigiados por cerca de 30 combatentes fortemente armados, os comandantes do ELN “Ricardo” e “Silvana Guerrero” – sentados com fuzis em mãos – indicaram que estão abertos ao diálogo, mas prontos para a guerra.

"Petro declarou guerra. Não temos medo disso", ressaltou Ricardo, líder da Frente de Guerra Nordeste do ELN.

“Essa paz total de que Petro tem falado, no final das contas, está se tornando uma guerra total.”

Guerra territorial

Segundo analistas, os recentes confrontos entre o ELN e a 33ª Frente, outro grupo armado de esquerda, foram motivados por uma guerra territorial pelo controle de áreas e rotas lucrativas de tráfico de cocaína para a Venezuela.

O território do ELN é uma importante fonte de coca e uma porta de entrada para a costa caribenha – onde a droga colombiana inicia sua viagem para o resto do mundo.

O ELN tem laços estreitos com o poderoso Cartel de Sinaloa do México, alega o governo.

A comandante Silvana negou envolvimento direto no narcotráfico, mas admitiu que o grupo cobra impostos sobre a cocaína produzida na região.

Silvana, cujo nome verdadeiro é Luz Amanda Payares, é procurada pelo governo da Colômbia e há uma recompensa de US$ 25 mil por sua captura.

'A luta continua'

O governo de Petro apostou sua sorte política em uma estratégia de “paz total”.

Grupos dissidentes aproveitam a trégua quase unilateral do governo para se reagrupar e ganhar força, dizem os críticos.

Uma sopa de letrinhas de grupos armados agora disputa o controle de territórios, esquemas de extorsão, mineração ilegal e rotas comerciais ilícitas em todo o país.

Como resultado, a quantidade de terras utilizadas na produção de cocaína aumentou 420% desde 2012, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas.

Muitos colombianos temem que grupos armados cada vez mais fortes possam fazer o país retornar às décadas de um conflito interno que matou 1,1 milhão de pessoas desde os anos 1960, segundo estimativa do governo.

Embora o ELN insista que está aberto a uma “solução política”, parece provável que haja mais violência.

“Em pouco tempo”, a região do Catatumbo verá “uma contraofensiva de outra dimensão”, prevê a comandante Silvana.

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