Ambiente
O lado obscuro da energia eólica: o papel da China no desmatamento na Amazônia
Demanda chinesa por turbinas eólicas poderá ter efeitos devastadores nos delicados ecossistemas da Amazônia Equatoriana.
![Linhas de transmissão de energia e turbinas eólicas no deserto de Gobi, em Lingwu, na China, em dezembro. [AFP]](/gc4/images/2024/12/13/48493-balsa3-600_384.webp)
Por Catalino Hoyos |
QUITO – A demanda chinesa por madeira de balsa para a produção de pás de turbinas eólicas continua sendo uma ameaça significativa às florestas protegidas e às comunidades indígenas no Peru e no Equador.
A Agência de Investigação Ambiental (EIA), organização sem fins lucrativos dos EUA, divulgou um relatório intitulado "Vento ruim: dos crimes na selva amazônica no Equador às turbinas eólicas nos EUA e na China", que revela como indústrias internacionais estão adquirindo ochroma de florestas amazônicas protegidas, participando de atividades madeireiras ilegais.
Publicado no final de outubro, o estudo destaca como essa exploração é impulsionada pela demanda insaciável da China pela madeira tropical, usada principalmente na produção de turbinas eólicas.
Após anos de investigação, o relatório revela preocupações adicionais, como violações dos direitos indígenas, corrupção e danos ambientais significativos, tanto imediatos como em longo prazo, a esse ecossistema global vital.
![Militares equatorianos confiscam madeira processada ilegalmente em duas serrarias clandestinas na província de Pastaza, no Equador, em junho de 2020. [Forças Armadas do Equador/X]](/gc4/images/2024/12/13/48491-balsa222-600_384.webp)
![Madeireiros fazem pausa para descansar durante árduo dia de trabalho na Floresta Amazônica no Equador. [Compra de Balsa]](/gc4/images/2024/12/13/48490-balsa-600_384.webp)
A balsa (Ochroma pyramidale), espécie tropical nativa da Amazônia, é conhecida por seu “rápido crescimento e madeira leve”, explica Belén Páez, presidente da Fundação Pachamama, em artigo publicado em 29 de outubro pelo site ambiental Mongabay.
O pau-de-balsa emergiu como um recurso fundamental para o setor das energias renováveis, particularmente na produção de pás de turbinas eólicas.
Além de ser leve, destaca-se pela resistência excepcional, o que o torna ideal para suportar as rigorosas exigências das turbinas eólicas.
O Equador fornece 90% da madeira de balsa mundial, e 79% das suas exportações entre 2019 e agosto de 2024 foram destinadas à China, segundo estimativas do Banco Central do Equador (BCE) citadas pela EIA.
'Febre do pau-de-balsa'
Em 2021, um relatório especial do Mongabay, elaborado em parceria com organizações locais no Equador, na Colômbia e na Bolívia, expôs o que ficou conhecido como “a febre da madeira de balsa no Equador”.
Entre março de 2020 e junho de 2021, as autoridades registraram 8.139 alertas de desmatamento em áreas ligadas à extração de ochroma em grande escala, revela o estudo.
A demanda global por pau-de-balsa quadruplicou entre 2018 e 2020, afirma a EIA no estudo "Vento Ruim".
Nesse período, a China acelerou os esforços para cumprir suas metas de energias renováveis para 2016-2020, delineadas pela sua Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, com ênfase na expansão da capacidade de energia eólica.
Para atender ao aumento inesperado da demanda por parte da China, o relatório da EIA confirmou que os madeireiros invadiram parques nacionais e territórios indígenas protegidos na Amazônia Equatoriana, entre os quais a Reserva da Biosfera Yasuní, listada pela UNESCO, com 2,7 milhões de hectares de extensão.
A investigação também revelou incursões de madeireiros ilegais nas florestas peruanas vizinhas, onde contrabandeavam toras de balsa para o Equador e as comercializavam falsamente como produtos de exportação equatorianos.
A EIA solicitou comentários das principais empresas do setor, como Plantabal S.A., Ecuabal, Mamba Wood e Fadelma, que reconheceram a exploração madeireira ilegal.
As empresas admitiram abertamente o uso de métodos ilegais para extrair a madeira, a fim de satisfazer à enorme demanda por ochroma.
Com base nessas conclusões, as flutuações na demanda por turbinas na China poderão ter consequências catastróficas para os frágeis ecossistemas da Amazônia Equatoriana, afirma a EIA.
Comunidades impactadas
Outro relatório, “Energias Renováveis, Florestas Esvaziadas”, publicado em setembro de 2023 pela ONG Acción Ecológica, destaca o impacto devastador da exploração da madeira de balsa nas comunidades indígenas em toda a Amazônia Equatoriana.
Dos povos Siekopai e A'i Cofán, no norte, até os Shuar e Achuar, no sul, esses grupos enfrentaram perturbações significativas no seu modo de vida.
Em abril de 2021, a Fundação Pachamama revelou que 80 comunidades indígenas foram exploradas por negociações desiguais. Enquanto os exportadores lucraram com a venda da balsa a US$ 722 por metro cúbico, as comunidades receberam apenas US$ 0,22 por árvore.
“Muitos dos principais importadores da China são também os principais exportadores do Equador”, afirma o documento. Empresas como 3A Composites Core Materials, Gurit e Diab, que têm subsidiárias no país asiático, são fundamentais para essa cadeia de abastecimento.
A EIA descobriu que os principais fabricantes chineses de turbinas eólicas – incluindo Goldwind, Mingyang e CSSC – utilizaram balsa proveniente de comerciantes equatorianos envolvidos em práticas de exploração abusiva.
“Esta transição energética necessária não pode ser alcançada à custa das florestas e das pessoas que delas dependem”, aponta Lisa Handy, diretora de Campanhas Florestais da EIA nos EUA, em um comunicado de outubro.
Ela enfatizou a necessidade urgente de “devida diligência robusta, maior transparência e implementação de um sistema nacional de rastreabilidade” para melhorar a governança florestal e resolver esse “conflito energia-floresta” de forma eficaz.