Economia

Pujante setor agrícola brasileiro atrai dinheiro, mas também polêmicas

Impulsionado pela demanda chinesa, Brasil deve dominar a produção de soja, mas o governo deve enfrentar o poderoso lobby do agronegócio se quiser conter o desmatamento da Amazônia até 2030.

Trabalhador peneira grãos de café na Fazenda Camocim, em Domingos Martins, no Espírito Santo. [Carl De Souza/AFP]
Trabalhador peneira grãos de café na Fazenda Camocim, em Domingos Martins, no Espírito Santo. [Carl De Souza/AFP]

Por AFP |

RIO DE JANEIRO -- Com sua grande produção de soja, carne, algodão e milho, o Brasil se tornou uma das maiores potências agrícolas do mundo. Mas seu agronegócio também enfrenta críticas, especialmente em razão da destruição da Floresta Amazônica.

A seguir, um panorama do gigante agrícola sul-americano, que, mais de uma década depois de ultrapassar os Estados Unidos como o maior exportador mundial de soja e carne, deve também superar aquele país como exportador de milho neste ano e visa dominar o mercado de algodão.

Grande e crescendo

O Ministério da Agricultura do Brasil anunciou orgulhosamente que o valor da produção do setor atingirá um recorde de R$ 1,15 trilhão neste ano.

O país -- o quinto maior em superfície do mundo -- é o maior produtor e exportador de açúcar, café e soja.

Vista aérea de colheitadeiras utilizadas para colher soja no Rio Grande do Sul. [Silvio Avila/AFP]
Vista aérea de colheitadeiras utilizadas para colher soja no Rio Grande do Sul. [Silvio Avila/AFP]

É também o maior fornecedor mundial de carnes bovinas e de frango e o segundo maior produtor de algodão, atrás apenas dos EUA.

O agronegócio representa quase um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e respondeu por metade das exportações do país no primeiro semestre do ano.

A origem da expansão

A ascensão do Brasil como uma potência agrícola remonta ao período colonial português. O país prosperou com uma sucessão de culturas: a cana-de-açúcar, depois o algodão, a borracha e, por fim, o ciclo do café, que durou mais de um século.

Mas o ponto de virada aconteceu nos anos 60 e 70, quando o Brasil, então sob a ditadura militar, colocou em prática a chamada "revolução verde" e estimulou a expansão da agricultura na Amazônia e no Cerrado.

Fortemente impulsionado pela demanda chinesa, o Brasil se tornou o maior produtor de soja, ingrediente utilizado na alimentação animal em todo o mundo.

"Os trabalhos de melhoramento genético, as técnicas que aprimoraram os solos, corrigindo a acidez e aumentando a fertilidade", além do desenvolvimento de pesticidas, permitiram que o Brasil expandisse a produção de soja, milho e algodão em regiões tropicais do país, disse a Embrapa, a empresa estatal de pesquisa agrícola, à AFP.

Graças ao seu clima e ao desenvolvimento do cultivo sem a necessidade de remoção da terra e de variedades transgênicas -- que ocupam hoje entre 80% e 90% das superfícies dedicadas à soja, ao milho e ao algodão --, o Brasil pode realizar duas colheitas e até três em um ano.

A produção das três culturas triplicou nas duas últimas décadas.

Mas esse sucesso teve um custo.

O setor do agronegócio ajudou a estimular o desmatamento da Amazônia, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu erradicar.

Polêmicas relacionadas aos altos índices de desmatamento, ao uso de pesticidas e transgênicos arranharam a "marca Brasil" em alguns mercados, como a União Europeia, que condiciona a conclusão do acordo de livre-comércio com o Mercosul a questões ambientais.

Sob pressão

Para cumprir sua promessa de parar o desmatamento na Amazônia até 2030, Lula terá chegar a um acordo com o agronegócio, que é apoiado por um poderoso lobby no Congresso.

Lula, que precisa da ajuda do setor para alavancar o crescimento econômico, busca abrir novos mercados para os produtores brasileiros por meio de acordos comerciais, especialmente com a China, seu maior comprador.

O setor agrícola, por outro lado, tenta melhorar sua imagem frente aos clientes internacionais, que buscam cada vez mais produtos não relacionados ao desmatamento.

"As empresas da área da pecuária trabalham duro, buscando efetivamente a rastreabilidade; é fundamental para poder valorizar sua carne nas exportações", diz Luiz Carlos Correa Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio.

Enquanto isso, os produtores de grãos concluíram um acordo da agricultura sustentável para proteção do Cerrado.

Mas os ambientalistas afirmam que não é suficiente.

"O passo mais relevante seria o desmatamento zero", diz Cristiane Mazzetti, porta-voz do Greenpeace Brazil, que defende novos modelos de produção que protejam a biodiversidade.

A questão é urgente, pois as mudanças climáticas já têm impacto nos rendimentos agrícolas.

"É preciso avançar para um modelo sustentável", diz Britaldo Soares Filho, especialista em modelagem de sistemas ambientais da Universidade de Minas Gerais.

"À medida que o agronegócio impulsiona a degradação ambiental, é um tiro no pé."

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