Economia
China investiga importações de carne do Mercosul, gerando incerteza no mercado
Temores de potenciais restrições às compras chinesas de carne bovina persistem nos estados-membros do Mercosul, Brasil, Argentina e Uruguai.
![Homem toma mate próximo de vacas na feira agrícola Expointer, em Esteio, Brasil. A Expointer é uma das maiores feiras agrícolas ao ar livre da América Latina. [Sílvio Ávila/AFP]](/gc4/images/2025/01/14/48780-mercosur2-600_384.webp)
Por Analía Rojas |
BUENOS AIRES – Argentina, Brasil e Uruguai, os principais exportadores de carne bovina do bloco Mercosul, iniciaram 2025 sob tensão após a China — um dos seus maiores mercados — anunciar uma investigação abrangente sobre o impacto da carne bovina importada em sua indústria doméstica.
A investigação gera preocupações entre os produtores em um setor fortemente dependente da demanda chinesa.
Em 27 de dezembro, o Ministério do Comércio da China anunciou uma investigação sobre a carne bovina importada, visando grandes fornecedores como Brasil, Argentina e Austrália. Pequim iniciou a investigação a pedido dos produtores chineses de carne bovina, que estavam sob forte pressão.
Os preços da carne bovina na China mostraram uma tendência constante de queda nos últimos anos, um reflexo do excesso de oferta e da redução da demanda, em meio à desaceleração enfrentada pela segunda maior economia do mundo, segundo a AFP.
![Trabalhadores embalam carne congelada para exportação em uma fábrica de processamento de carne bovina em Binzhou, na província de Shandong, China. [AFP]](/gc4/images/2025/01/14/48779-mercosur-600_384.webp)
A investigação impacta um total de 22 empresas, entre as quais quatro da Argentina, quatro do Brasil e três do Uruguai, além de exportadores do Chile, Costa Rica, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e França.
Para os gigantes exportadores de carne do Mercosul, a medida causa preocupações com potenciais restrições em um dos seus mercados mais importantes.
Tensão
O Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, anunciou no fim de dezembro que não adotaria "nenhuma medida preliminar" após a decisão da China.
Brasília pretende provar, nos próximos meses, que as exportações brasileiras de carne não prejudicam a indústria doméstica da China, disse o Itamaraty no fim de dezembro. Em vez disso, o órgão as descreveu como um complemento valioso à produção chinesa.
A investigação já causou repercussões no mercado brasileiro. As ações dos principais produtores de carne, como Marfrig Global Foods, JBS e Minerva, sofreram quedas sucessivas no índice Ibovespa desde o início do ano, refletindo preocupações com potenciais restrições no seu mercado mais importante de exportação.
Mas o Ministério da Economia e a Secretaria da Agricultura da Argentina manifestaram apreensão em um comunicado no fim de dezembro. A pasta está “acompanhando com atenção máxima e analisando os detalhes” da investigação da China sobre a carne bovina importada, segundo o comunicado.
Embora o fluxo comercial ainda não tenha sofrido mudanças, a investigação também gerou desconforto na indústria argentina de carne bovina.
"Os primeiros passos acabaram de ser dados, mas a preocupação vai além do fato de a dinâmica dos envios para aquele destino não ter sido afetada até o momento", disse Martín Costantini, CEO do Frigorífico Rioplatense, em entrevista ao Infocampo em 9 de janeiro.
Por sua vez, o Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai expressou ceticismo com relação à investigação da China sobre a carne bovina importada, apontando contradições entre as alegações e as recentes aprovações chinesas para importações de carne.
O ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca, Fernando Mattos, rejeitou as acusações das associações de produtores chineses. "[O Uruguai] não é a causa dos problemas apontados pelas associações de pecuária chinesas”, disse ele em 30 de dezembro.
Embora a China continue a ser o principal destino das exportações de carne do Uruguai, os embarques uruguaios diminuíram significativamente. Em 2024, a participação de mercado do Uruguai na China caiu para 6%, frente aos 15% registrados em anos recordes como 2022.
Promessa chinesa
Números dos governos brasileiro, argentino e uruguaio mostram o tamanho da demanda chinesa pela carne bovina do Mercosul.
Em 2023, o Brasil embarcou US$ 6 bilhões em carne bovina para a China, consolidando sua liderança de mercado. A Argentina exportou o equivalente a US$ 2,1 bilhões, uma parte significativa do seu comércio agrícola. O Uruguai fez embarques de US$ 710 milhões.
Pequim garantiu aos exportadores que o comércio não será afetado durante os oito meses de investigação, comprometendo-se a manter em vigor a tarifa ad valorem de 12% que aplica às importações de carne bovina.
No entanto, essa garantia pouco aliviou as preocupações nos setores da carne do Brasil, Argentina e Uruguai, onde os temores de potenciais restrições são grandes.