Economia

Restrições da China às exportações brasileiras de carne cobraram seu preço no primeiro semestre de 2023

Disparada do crescimento econômico chinês desencadeou um padrão preocupante de penalização das exportações e um subsequente declínio da atividade industrial em vários países da América Latina.

Açougueiros ao ar livre trabalham em suas barracas em Hong Kong. As exportações do Brasil, maior exportador mundial de carne bovina e de aves, caíram no primeiro semestre de 2023, quando a China impôs restrições ao país. [Jayne Russel/AFP]
Açougueiros ao ar livre trabalham em suas barracas em Hong Kong. As exportações do Brasil, maior exportador mundial de carne bovina e de aves, caíram no primeiro semestre de 2023, quando a China impôs restrições ao país. [Jayne Russel/AFP]

Por Waldaniel Amadis |

SÃO PAULO -- As exportações de carne do Brasil caíram no primeiro semestre de 2023, com as restrições impostas pela China ao país.

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), que reúne os maiores empregadores do setor exportador de carnes, informou em 10 de julho que as exportações totalizaram US$ 4,87 bilhões de janeiro a junho deste ano, uma queda de 21,4% em relação ao primeiro semestre de 2022.

O volume exportado caiu 3,8% na mesma base de comparação, para 1,02 milhão de toneladas.

A queda nas exportações resultou da decisão da China, no início deste ano, de reter as cargas de carne brasileira após a ocorrência de um caso de encefalopatia espongiforme bovina (EEB), ou "mal da vaca louca", no estado amazônico do Pará, no norte do país.

As autoridades brasileiras, em resposta às preocupações chinesas, suspenderam voluntariamente os embarques de carne bovina para a China em 23 de fevereiro. No entanto, o impasse se arrastou por semanas, pois o país apreendeu contêineres que já haviam chegado aos seus portos e os reteve por um mês ou mais.

Os protocolos de saúde chineses bloqueiam imediatamente esses produtos, mesmo antes de as autoridades do país de origem concluírem as investigações internas.

Enquanto o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil conduzia investigações internas, 70.000 toneladas de carne brasileira ficaram retidas em portos chineses.

A China foi o principal destino das exportações brasileiras de carnes no primeiro semestre de 2023, respondendo por 53% da receita total dos embarques e 50% do volume total enviado.

Ainda assim, as compras do país caíram 29% em receita e 5% em volume no primeiro semestre de 2023.

Demora na retirada da suspensão

Um membro da ABIEC disse ao Entorno que os representantes da indústria brasileira de carnes estão preocupados com o fato de o "bloqueio sanitário" da China não ter terminado com a mesma rapidez com que foi imposto.

"Neste caso específico, ficou claro que o embarque ocorreu em datas que não coincidiram com o surto. No entanto, as autoridades bloquearam a carga e atrasaram a liberação, prejudicando toda uma cadeia produtiva e logística", disse a fonte anônima.

A Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH) confirmou o diagnóstico de um "caso isolado e atípico" de mal da vaca louca no Brasil em março, um mês após sua detecção.

A China não teve pressa em normalizar suas importações de carne brasileira, embora o WOAH tenha confirmado que o caso não representava risco para a cadeia produtiva brasileira.

Em 23 de março, a China decidiu retomar as compras de carne do Brasil, conforme noticiado pelo jornal brasileiro Folha de S. Paulo.

O impacto da situação com a China afetou negativamente o desempenho do setor exportador nos primeiros seis meses de 2023. Em contrapartida, vários importadores importantes, como Europa, México, Canadá e Chile, aumentaram suas compras de carne brasileira.

Em 2022, o Brasil manteve sua posição de maior produtor mundial de carne, enquanto a China continuou sendo seu principal parceiro comercial.

No ano passado, o Brasil respondeu por aproximadamente 20% da produção mundial de carne.

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