Energia

Usina hidrelétrica do Equador entra em operação após 17 anos de atrasos e suposta corrupção

Unidade de Toachi-Pilatón custou mais que o triplo do orçamento original. Construído pela CWE da China, que é acusada de problemas no Peru e no Chile, o projeto enfrenta agora denúncias de falhas estruturais.

Engenheiros e técnicos da estatal de energia equatoriana Celec inspecionam reparos no túnel de carregamento da usina hidrelétrica Toachi-Pilatón, onde trabalhadores tiveram de consertar falhas de construção deixadas pela China International Water & Electric Corp (CWE). [Celec]
Engenheiros e técnicos da estatal de energia equatoriana Celec inspecionam reparos no túnel de carregamento da usina hidrelétrica Toachi-Pilatón, onde trabalhadores tiveram de consertar falhas de construção deixadas pela China International Water & Electric Corp (CWE). [Celec]

Por Catalino Hoyos |

QUITO – Após quase duas décadas de custos excessivos, atrasos na construção e suspeitas de corrupção, o complexo hidrelétrico Toachi-Pilatón, no Equador, iniciou operações comerciais em 10 de abril, em meio à crise energética cada vez mais profunda enfrentada pelo país.

O Ministério de Energia e Minas e a estatal Corporação de Energia Elétrica (Celec) confirmaram o início das operações da usina Alluriquín, que explora o potencial dos rios Toachi e Pilatón e soma cerca de 254,4 MW à rede nacional do Equador.

A obra começou em 2008, no governo do ex-presidente Rafael Correa. Situadas a sudoeste de Quito, as instalações abrangem as províncias de Santo Domingo de los Tsáchilas, Pichincha e Cotopaxi.

Liderado pela China International Water & Electric Corp (CWE), o projeto sofreu irregularidades que triplicaram seu custo inicial. A CWE acabou por abandoná-lo, deixando ao governo equatoriano a tarefa de solucionar o impasse.

Foto de arquivo de 2018 mostra a entrada do túnel durante a construção do complexo hidrelétrico da China International Water & Electric Corp (CWE). [Ministério de Coordenação de Setores Estratégicos do Equador]
Foto de arquivo de 2018 mostra a entrada do túnel durante a construção do complexo hidrelétrico da China International Water & Electric Corp (CWE). [Ministério de Coordenação de Setores Estratégicos do Equador]

Posteriormente, a Celec chegou a um acordo parcial com as empresas russas Inter RAO e Tyazhmash para a retomada da obra. Mas a solução significou um custo elevado: o Equador foi forçado a pagar mais US$ 45 milhões à Inter RAO e US$ 20 milhões à Tyazhmash, após ambas as empresas alegarem despesas extras e imprevistas.

Apesar da polêmica e dos custos inflacionados, o governo promoveu o lançamento do projeto como uma medida fundamental para estabilizar o frágil abastecimento de energia no Equador.

Esperança encontra concreto deteriorado

Os equatorianos saudaram o lançamento do complexo hidrelétrico Toachi-Pilatón com um otimismo cauteloso, depois de suportarem até 14 horas de apagões diários entre 23 de setembro e 20 de dezembro de 2024.

Mas aumentam as preocupações com a integridade estrutural da usina e o histórico da CWE.

Já em 2021, a Controladoria-Geral do Equador indicou um sinal de alerta, apontando falhas graves na construção. Os inspetores encontraram fraturas, fissuras e vazamentos extensos no túnel de carga principal, problemas que ameaçam a integridade da instalação em longo prazo.

A CWE, subsidiária da estatal China Three Gorges Corporation, ignorou protocolos essenciais de engenharia, decisões que podem ter acelerado a deterioração da infraestrutura, segundo as autoridades.

A situação remete aos problemas de longa data na Coca Codo Sinclair, a maior usina hidrelétrica do Equador, também construída por uma empresa chinesa. Na obra, foram descobertas mais de 7.600 rachaduras em componentes críticos e mais de 20.000 nos distribuidores, que canalizam água para as turbinas.

Enquanto o país depende fortemente de Toachi-Pilatón para aliviar sua crise energética, crescem os temores de que o Equador possa estar repetindo erros custosos, desta vez com mais ainda a perder.

Bilhões sem um projeto

O projeto hidrelétrico Toachi-Pilatón se tornou um caso clássico de má gestão, custos inflacionados e contabilidade obscura. Durante sua conturbada construção, a CWE, contratada para obras civis em 2010, criou uma rede de problemas técnicos, jurídicos e contratuais que drenaram as finanças públicas do Equador.

Estimado em US$ 336 milhões em 2008, o custo do projeto disparou para US$ 1,02 bilhão no fim de 2023, segundo a estatal de energia elétrica Celec. Isso representa um salto de 204%, atribuído em grande parte a atrasos, falhas estruturais e modificações contratuais questionáveis.

Conforme relatado pela revista Vistazo em novembro passado, o financiamento para a usina veio de várias fontes: US$ 246 milhões em recursos fiscais, US$ 250 milhões do Banco Equatoriano de Seguridade Social (BIESS), US$ 52 milhões do Eximbank da Rússia e US$ 475 milhões em recursos próprios da Celec.

A previsão era que a CWE concluísse o projeto até 2014, mas a obra foi interrompida repetidamente. Entre março de 2017 e julho de 2019, a CWE paralisou a construção. Em 2022, a Celec finalmente rescindiu o contrato com a CWE após detectar defeitos estruturais críticos.

Mais de 17 anos depois do início das obras, o verdadeiro custo de Toachi-Pilatón pode nunca ser totalmente contabilizado, mas os danos à infraestrutura e à confiança pública no Equador já são claros.

CWE no foco global

A CWE continua enfrentando cada vez mais críticas por falhas de engenharia e violações regulatórias na América Latina.

No Peru, o governo local de Loreto processou a empresa em 2020, acusando-a de irregularidades nos custos e falhas técnicas em um projeto de obras públicas que causou inundações generalizadas, odores desagradáveis ​​e doenças transmitidas pela água em comunidades vizinhas.

Enquanto isso, no Chile, a Rucalhue Energía, controlada pela CWE, desenvolve o Projeto Hidrelétrico de Rucalhue desde 2018, apesar das crescentes preocupações jurídicas e ambientais.

Críticos alertam que o projeto ameaça ecossistemas protegidos e espécies ancestrais na região de Bío-Bío, gerando temores com relação ao impacto ambiental e à transparência regulatória.

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