Energia
Projeto hidrelétrico chinês falha enquanto seca assola Equador
Apagões de oito horas em todo o país são o mais recente indicador da crise energética do Equador, impulsionada pela seca e pela corrupção relacionada ao mau funcionamento das usinas hidrelétricas chinesas.
![Trechos do projeto hidrelétrico abandonado de Quijos. [Primícias]](/gc4/images/2024/09/19/47661-quijos22-600_384.webp)
Por Catalino Hoyos |
QUITO – O Equador enfrenta apagões programados à medida que uma crise de energia elétrica se intensifica, impulsionada por uma forte seca e pelo fracasso de projetos hidrelétricos concedidos a empresas chinesas.
Às 22h do dia 18 de setembro, ocorreu o primeiro apagão programado de oito horas para estabilizar o sistema de transmissão.
Mais cortes de fornecimento estão previstos.
Em 17 de setembro, o governo equatoriano anunciou novos apagões em todo o país para as noites de 23 a 26 de setembro. Segundo comunicado divulgado na conta do X da presidência, as interrupções ocorrerão das 22h às 6h.
![Túnel na usina hidrelétrica de Quijos contém água estagnada e suja. [Primícias]](/gc4/images/2024/09/19/47660-quijos11-600_384.webp)
Os hospitais e o serviço de segurança ECU911 estão fora do racionamento de energia.
Projetos hidrelétricos chineses
Em meio à pior crise energética do Equador, vieram à tona relatos sobre projetos hidrelétricos assinados com a China durante a presidência de Rafael Correa (2007-2017), os quais hoje revelam sinais de corrupção, deterioração e abandono.
A construção do projeto hidrelétrico de Quijos, iniciado no Equador em 2011, permanece inacabada e o pouco que já foi concluído está se deteriorando diante do abandono.
As obras foram interrompidas em 2016 e, desde então, a hidrelétrica sofreu significativa deterioração, segundo relatório da Controladoria publicado em agosto.
O contrato com a China National Electric Engineering Corporation (CNEEC) foi rescindido em 2015 devido a problemas de construção, como má colocação de concreto e atrasos significativos.
Após sete anos de negociações, a mediação entre a estatal Corporación Eléctrica de Ecuador (CELEC) e a empresa chinesa não obteve resultados.
O projeto está visivelmente deteriorado, com infraestruturas colapsadas e um túnel de condução de água infestado de morcegos, segundo a Controladoria.
Além disso, a gestão ambiental inadequada agravou o estado de abandono.
Apesar disso, a hidrelétrica deverá entrar em operação em 2028, quase 17 anos após o início da obra, com capacidade projetada de 50MW.
A empresa chinesa abandonou o projeto, deixando para trás uma enorme dívida com a CELEC.
Outros problemas
Em 2023, o governo equatoriano e a estatal chinesa Sinohydro iniciaram negociações para solucionar problemas que impediam a entrega oficial da usina hidrelétrica Coca Codo Sinclair, que iniciou operações em 2016.
O governo equatoriano recusou-se a formalizar a aceitação da usina devido à existência de inúmeras fissuras estruturais.
A Sinohydro concluiu a construção da maior usina hidrelétrica do Equador a um custo de cerca de US$ 3,44 bilhões, enquanto o país investiu US$ 600 milhões em linhas de transmissão.
Em 2018, a Controladoria equatoriana concluiu que a usina não atendia aos critérios de obras públicas, embora a empresa chinesa afirmasse que as rachaduras eram "normais" pelo fato de a usina já estar operando.
O Ministério de Minas e Energia contestou essa alegação, citando como exemplo a central hidrelétrica de Paute, no sul do Equador. A planta, que opera há mais de 40 anos sem rachaduras, demonstra que esses problemas não são inevitáveis.
Embora tenha sido projetada com capacidade prevista de 1.500 MW, a Coca Codo Sinclair gera atualmente apenas 800 MW, segundo o Ministério de Energia e Minas.
O Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA visitou o local e aconselhou as autoridades locais a implementarem medidas de emergência em áreas de alto risco e reforçarem o monitoramento da bacia do rio Coca para prever e minimizar cortes de energia.
Em um evento em Jipijapa, no dia 17 de setembro, o presidente do Equador, Daniel Noboa, disse que grande parte da crise elétrica no país pode ser atribuída a "canalhas de governos passados que prometeram muito, não entregaram nada e nos deixaram ferrados".
O legado da cumplicidade dos governos anteriores com empresas chinesas é evidente todos os dias, na opinião de críticos de longa data.