Economia
Morte de trabalhador no Uruguai expõe práticas trabalhistas polêmicas na China
Ministério do Trabalho encontrou 500 trabalhadores chineses não pagos e fechou três instalações que abrigavam 80 trabalhadores chineses e equatorianos em condições de superlotação e insegurança. Os trabalhadores trabalhavam 12 horas por dia, 7 dias por semana.
![Representantes chineses e uruguaios aplaudem a assinatura do contrato do projeto de energia da CMEC em Pequim em maio de 2021. [CMEC]](/gc4/images/2025/03/17/49555-sinomach-600_384.webp)
Por Analía Rojas |
MONTEVIDÉU — A morte de um trabalhador da China Machinery Engineering Corporation (CMEC) no Uruguai mais uma vez expôs as práticas de trabalho forçado e violações da lei trabalhista por empresas chinesas que operam na América Latina.
Jun Sheng, trabalhador chinês de 53 anos, morreu em 7 de fevereiro em um acidente envolvendo um caminhão da CMEC durante trabalhos de conectividade elétrica na linha de transmissão que liga Tacuarembo e Salto, no noroeste do Uruguai.
O caminhão transportava sete funcionários do projeto, que emprega 700 trabalhadores, incluindo 200 uruguaios. O restante são chineses e equatorianos.
Citando diversas irregularidades, o Sindicato Único Nacional da Construção Civil e Afins (SUNCA) entrou com uma denúncia criminal contra a empresa.
Condições desumanas
Em meados de fevereiro, o SUNCA apresentou a denúncia após 20 sessões de negociação e 55 casos não resolvidos no Ministério do Trabalho.
A denúncia cita alegações de trabalho forçado e violações da Lei de Responsabilidade Penal Empresarial.
Os trabalhadores da CMEC atuam sob condições desumanas, como superlotação, falta de água potável, refrigeração insuficiente e medidas de segurança inadequadas, de acordo com o presidente do SUNCA, Mathias Machuca, que falou à imprensa em abril passado.
A CMEC retém os salários de seus funcionários chineses e equatorianos e, para evitar a sindicalização, os impede de manter contato com seus colegas uruguaios, disse o sindicato.
Retenção de salário
Gonzalo Castelgrande, presidente do Sindicato da Administração Nacional de Usinas e Transmissões Elétricas (UTE), que representa os funcionários da estatal UTE, condenou repetidamente as péssimas condições de trabalho enfrentadas por 500 trabalhadores chineses.
Em uma entrevista ao La Mañana em novembro, ele destacou "muitas irregularidades" em obras de uma estação UTE próximo a uma usina de energia de biomassa, envolvendo principalmente trabalhadores chineses.
"Há muitos trabalhadores sem documentos. Ou seja, eles vêm ao país apenas com passaporte", afirmou Castelgrande.
Essa falta de documentação adequada os impede de acessar assistência médica e outros direitos trabalhistas garantidos aos trabalhadores no Uruguai.
A CMEC desafia inúmeras denúncias apresentadas ao Ministério do Trabalho ao não corrigir as irregularidades relatadas, disse Castelgrande.
"Os trabalhadores chineses trabalham de segunda a segunda sem descanso, não recebem horas extras e trabalham 12 horas por dia", afirmou.
Após uma inspeção em outubro, o Ministério do Trabalho descobriu que todos os 500 funcionários chineses estavam sem receber salários havia cinco meses.
A CMEC é uma subsidiária da Sinomach (China National Machinery Industry Corp.), um conglomerado estatal chinês.
Esta não é a primeira vez que a empresa se envolve em um processo judicial.
Em agosto passado, a Inspeção Geral do Trabalho fechou três instalações após verificar que 80 cidadãos chineses e equatorianos dormiam em condições que "violavam a dignidade humana".