Direitos Humanos

Trabalhadores resgatados de 'condições análogas à escravidão' constroem fábrica chinesa no Brasil

Autoridades descobriram que trabalhadores dormiam em camas sem colchões, tinham acesso a poucos banheiros e estavam expostos à intensa radiação solar, apresentando sinais visíveis de lesões na pele.

Logomarca da BYD é vista no estande da empresa no Salão do Automóvel de Pequim, em Pequim. [Greg Baker/AFP]
Logomarca da BYD é vista no estande da empresa no Salão do Automóvel de Pequim, em Pequim. [Greg Baker/AFP]

Por AFP |

RIO DE JANEIRO – Mais de 160 trabalhadores chineses foram resgatados de “condições análogas à escravidão” no Brasil, onde construíam uma fábrica de carros elétricos para a gigante chinesa BYD, disseram autoridades em 24 de dezembro.

A subsidiária brasileira da BYD afirmou em nota, em 23 de dezembro, que "rescindiu com efeito imediato" o contrato com a Jinjiang Construction Brazil Ltda., empresa responsável pela obra.

A unidade fica em Camaçari, no nordeste da Bahia e, quando concluída, será a maior fábrica de carros elétricos da BYD fora da Ásia, com capacidade para produção de 150.000 veículos por ano.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) da Bahia determinou a suspensão das obras em parte do local.

Em cerimônia de julho de 2023, autoridades da Bahia e executivos da empresa chinesa BYD anunciando um acordo para construir uma unidade de produção de carros elétricos em Camaçari, no Brasil. [Governo do Estado da Bahia]
Em cerimônia de julho de 2023, autoridades da Bahia e executivos da empresa chinesa BYD anunciando um acordo para construir uma unidade de produção de carros elétricos em Camaçari, no Brasil. [Governo do Estado da Bahia]

Desde novembro, o MPT e outras agências governamentais fazem inspeções que, segundo o órgão, identificaram “163 trabalhadores que pareciam estar em condições análogas à escravidão na empresa Jinjiang, que presta serviços para a BYD”.

Um porta-voz do MPT disse à AFP que todos os trabalhadores identificados eram cidadãos chineses.

Danos à pele

Em nota, o MPT afirmou ter constatado um “quadro alarmante de precariedade e degradância” nos alojamentos dos trabalhadores.

Em um dos alojamentos, os trabalhadores "dormiam em camas sem colchões e não possuíam armários para guardar seus pertences pessoais, que ficavam misturados com materiais de alimentação", segundo o comunicado.

O MPT também descobriu que havia apenas um banheiro para 31 trabalhadores, "o que os forçava a acordar às 4h para formar fila e conseguir se preparar para sair ao trabalho às 5h30".

No local da obra, os "trabalhadores estavam expostos a intensa radiação solar, apresentando sinais visíveis de danos à pele".

O MPT também informou suspeitar de "trabalho forçado" recorrente, já que os trabalhadores da China "tiveram seus passaportes retidos" e a empresa confiscava "60% de seus salários", ficando os operários com "apenas 40% em moeda chinesa".

As autoridades vão agendar em breve uma audiência online para que a BYD e a Jinjiang “apresentem as providências necessárias à garantia das condições mínimas de alojamento e também para que sejam negociadas as condições para a regularização geral do que já foi detectado".

A subsidiária brasileira da BYD afirmou em seu comunicado que "não tolera o desrespeito (...) à dignidade humana", acrescentando que transferiu os 163 trabalhadores para hotéis da região.

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