Sociedade
Jogadores de futebol “transplantados” do Chile defendem doação de órgãos
Depois de dois transplantes de fígado, Héctor Sánchez disse que promover a doação de órgãos através do esporte é a forma de retribuir sua 'segunda chance de viver'.
![Homem com camiseta com a frase 'Doar é Dar Vida' assiste a treino de time de futebol chileno de receptores de transplante em Santiago. [Rodrigo Arangua/AFP]](/gc4/images/2024/11/22/48257-chile3-600_384.webp)
Por AFP |
SANTIAGO – Com a vitória da sua equipe sobre a Espanha por 5 a 1, Héctor Sánchez pode dizer que é um campeão internacional de futebol, mas não como sonhava quando era criança.
Diagnosticado com uma doença hepática na juventude, o vendedor de carros chileno há muito foi desaconselhado pelos médicos a entrar em campo.
Dois transplantes de fígado depois e com uma seleção de 20 outros receptores de órgãos, Sánchez foi campeão da Copa do Mundo de Futebol de Transplantados em setembro.
“Se não fosse o transplante, talvez não estivesse aqui”, disse ele à AFP após uma partida beneficente em Santiago.
![Héctor Sánchez (à direita) e Edison Flores posam com o troféu da Copa do Mundo de Futebol de Transplantados durante sessão de treino da equipe chilena de futebol de receptores de órgãos em Santiago. [Rodrigo Arangua/AFP].](/gc4/images/2024/11/22/48256-chile2-600_384.webp)
![Héctor Sánchez, que recebeu dois transplantes de fígado, durante sessão de treino da equipe chilena de futebol para transplantados em Santiago. [Rodrigo Arangua/AFP]](/gc4/images/2024/11/22/48255-chile1-600_384.webp)
Ele quer estender essa oportunidade a mais pessoas. Embora a seleção chilena tenha saído vitoriosa do Mundial, a situação no seu país é difícil para outros em sua posição.
Os índices de doação de órgãos são baixos, apesar da legislação progressiva sobre o tema.
Para Sánchez, de 31 anos, promover a doação de órgãos através do esporte é a maneira de retribuir sua "segunda chance de viver".
Reformas legais insuficientes
As reformas de 2010 destinadas a promover a doação de órgãos alteraram a lei de modo a considerar todos os adultos como presumíveis doadores, a menos que optem ativamente por não o fazer.
Mas muita gente continua se recusando. A tal ponto que a taxa de transplantes no Chile, 10 por 1 milhão de pessoas, é cerca de metade da taxa do líder regional, Uruguai, com 19,7 por 1 milhão.
A União Europeia tem uma taxa de doadores de 20,9 por 1 milhão, com a Espanha, líder mundial, atingindo 48,9.
Parte do problema é a lei: o Chile considera apenas os pacientes com morte cerebral como doadores elegíveis, diferente da Espanha, por exemplo, onde as doações de órgãos podem ser feitas por pessoas recentemente falecidas, como as que morrem subitamente de um ataque cardíaco.
Outra questão é de ordem cultural, uma vez que as famílias se recusam frequentemente a permitir que os médicos recolham órgãos viáveis para transplante de entes queridos falecidos.
"Muita gente acredita que (o cadáver) terá os olhos arrancados depois de ser doador (...) e que não conseguirão velá-lo", explica Ruth Leiva, diretora da unidade de transplantes do Hospital de San José.
'Sou uma pessoa normal'
Cerca de 2.200 candidatos estão atualmente na lista de espera para um transplante de órgão no Chile – e, durante anos, Sánchez foi um deles.
Ele teve complicações hepáticas desde o nascimento e precisou de um transplante quando chegou à adolescência – mas só conseguiu o primeiro aos 24 anos.
"Começamos a nascer de novo, é nossa segunda oportunidade. Para mim foi assim, física e emocionalmente”, disse ele.
Em campo, a única coisa que distingue sua equipe amadora de outros jogadores são as cicatrizes escondidas sob as camisetas.
Eles não utilizam qualquer proteção especial, nem necessitam de nenhuma regra diferente.
"No momento de entrar em campo, esquecemos tudo, sou uma pessoa normal, sou a pessoa mais feliz", disse Sánchez.