Ambiente

Comunidades colombianas secas ao longo da Amazônia lutam por água

Departamento do Amazonas, na Colômbia, enfrenta sua pior crise climática, enquanto cidades peruanas relatam escassez de alimentos e o Brasil declara "situação crítica" devido a incêndios florestais.

Homem pesca no Rio Amazonas perto de Puerto Nariño, na Colômbia. A Unidade Nacional para Gestão de Riscos de Desastres (UNGRD) da Colômbia relatou que o fluxo do rio diminuiu em até 90% devido à grave falta de chuvas que afeta essa região da tríplice fronteira com o Brasil e o Peru, acessível apenas por água. [Luis Acosta/AFP]

Homem pesca no Rio Amazonas perto de Puerto Nariño, na Colômbia. A Unidade Nacional para Gestão de Riscos de Desastres (UNGRD) da Colômbia relatou que o fluxo do rio diminuiu em até 90% devido à grave falta de chuvas que afeta essa região da tríplice fronteira com o Brasil e o Peru, acessível apenas por água. [Luis Acosta/AFP]

Vista aérea de indígenas Yagua carregando água e outros produtos após o Rio Amazonas secar em grande parte na Isla de los Micos, no departamento do Amazonas, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Vista aérea de indígenas Yagua carregando água e outros produtos após o Rio Amazonas secar em grande parte na Isla de los Micos, no departamento do Amazonas, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Indígena Yagua carrega água e alguns produtos após o Rio Amazonas secar em grande parte na Isla de los Micos, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Indígena Yagua carrega água e alguns produtos após o Rio Amazonas secar em grande parte na Isla de los Micos, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Vista aérea do nível baixo do rio Amazonas na Isla de los Micos, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Vista aérea do nível baixo do rio Amazonas na Isla de los Micos, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Vista aérea de indígenas Yagua caminhando nas margens do Rio Amazonas na Isla de los Micos, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Vista aérea de indígenas Yagua caminhando nas margens do Rio Amazonas na Isla de los Micos, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Vista aérea do nível baixo do Rio Amazonas na comunidade da Macedônia, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Vista aérea do nível baixo do Rio Amazonas na comunidade da Macedônia, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Indígenas Yagua jogam futebol nas margens do Rio Amazonas na Isla de los Micos, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Indígenas Yagua jogam futebol nas margens do Rio Amazonas na Isla de los Micos, na Colômbia. [Luis Acosta/AFP]

Por AFP |

Carregando garrafas de seis litros de água nos ombros, menbros da comunidade indígena Yagua caminham ao longo do leito seco de um braço do poderoso Amazonas.

Na região das Três Fronteiras, onde a Colômbia faz fronteira com o Brasil e o Peru, o fluxo em alguns pontos do maior rio do mundo em volume diminuiu 90%, deixando um deserto de areia marrom salpicado de pequenas ondulações.

Perto da cidade fronteiriça colombiana de Leticia, os 600 habitantes de uma aldeia Yagua se viram diante de uma praia temporária de 1 km de largura.

Antes de os dois braços menores do Amazonas que passam por Letícia começarem a secar, há quase quatro meses, os moradores levavam apenas 15 minutos para chegar às margens do rio.

Barcos permanecem encalhados devido ao nível baixo do Rio Amazonas perto de Letícia, na Colômbia. [Santiago Ruiz/AFP]
Barcos permanecem encalhados devido ao nível baixo do Rio Amazonas perto de Letícia, na Colômbia. [Santiago Ruiz/AFP]

Agora, eles precisam caminhar por duas horas sob o sol escaldante para chegar ao ponto de atracação dos barcos que trazem comida, combustível e água potável na única rota de entrada e saída da selva.

"Este momento é bem difícil", disse à AFP Víctor Fracelino, um Yagua de 52 anos, enquanto carregava para casa uma lata de água doada pelo estado para ajudar a saciar a sede dos moradores da maior floresta tropical do mundo.

"A areia às vezes não nos deixa avançar, não nos deixa caminhar, nos retarda", disse ele, ofegante.

A Unidade Nacional para Gestão de Riscos de Desastres (UNGRD) da Colômbia culpa a pior seca da Amazônia em quase 20 anos pelo drástico encolhimento do rio na região das Três Fronteiras.

"Para muitas destas comunidades, o único meio de transporte é o rio; quando estes afluentes secam, ficam completamente sem comunicação", disse o diretor da UNGRD, Carlos Carrillo.

"Pior crise climática"

O governador do departamento colombiano do Amazonas, um pedaço de floresta de 109.000 km², disse que a seca foi a "pior crise climática" da região.

Ela coincide com a pior temporada de incêndios florestais na Amazônia em quase 20 anos, de acordo com o observatório climático europeu Copernicus.

No lado peruano da fronteira, várias cidades relataram escassez de alimentos.

No lado brasileiro, que está sufocado pela fumaça dos incêndios, as autoridades declararam uma "situação crítica", e os baixos níveis de água em uma usina hidrelétrica que gera 11% da energia elétrica do país causam grande preocupação.

As dificuldades logísticas fizeram disparar o preço de bens básicos, como o combustível. Os pescadores são forçados a viajar cada vez mais longe rio acima para lançar suas redes.

"Olhando toda a margem do rio, onde quer que você vá tudo está seco", disse Roel Pacaya, 50 anos, pescador da cidade de Puerto Nariño.

María Soria, uma indígena Yagua que ganha a vida vendendo artesanato na Ilha dos Macacos, uma reserva natural na Amazônia colombiana, teme que em breve "todo o rio comece a secar".

"Estamos pedindo a Deus que volte a ser como era antes, como vivíamos", disse a mulher de 55 anos, usando um cocar tradicional com penas azuis e uma cobertura no peito feita de fibra de palmeira para dançar para um pequeno grupo de turistas.

"Seguir a corrente"

Mesmo para aqueles que ainda têm acesso ao rio, as coisas não são fáceis.

Eudocia Morán, 59, disse que se sente aprisionada pelas águas agora estagnadas do Amazonas, que ficam a poucos metros de sua casa.

Viagens de compras até Leticia, cerca de 48 km rio abaixo, tornaram-se mais raras, pois os operadores de barcos temem ficar presos na areia.

Morán, uma líder da comunidade indígena Ticuna, está convencida de que a solução é o retorno à terra.

Em vez de depender de um fluxo cada vez menor de turistas, ela diz que a única maneira de sobreviver é "entrar totalmente na agricultura".

Em uma horta irrigada por uma fenda deixada pelo rio, ela cultiva mandioca, feijão, milho e frutas.

"Digo a muitas pessoas: cabe a nós (...) saber seguir a corrente dos tempos, (...) porque o que mais temos de fazer? Saber viver, saber trabalhar."

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