Economia

Brasil se destaca na corrida global por terras raras com apoio de países do Ocidente

Brasil se posiciona como uma alternativa à China em terras raras. País oferece métodos de extração mais limpos e atrai o interesse ocidental, apesar dos custos mais altos e do financiamento limitado para aumentar a produção.

Mina Morro do Ouro, em Minas Gerais, Brasil. Com o objetivo de se tornar um fornecedor global de elementos de terras raras (ETRs), o país utiliza técnicas de extração mais rasas e limpas, diferentemente dos métodos químicos poluentes da China. [Agência Brasil]
Mina Morro do Ouro, em Minas Gerais, Brasil. Com o objetivo de se tornar um fornecedor global de elementos de terras raras (ETRs), o país utiliza técnicas de extração mais rasas e limpas, diferentemente dos métodos químicos poluentes da China. [Agência Brasil]

Por Waldaniel Amadis |

SÃO PAULO – O Brasil surgiu como um novo concorrente na corrida por elementos de terras raras (ETRs), os minerais estratégicos essenciais para veículos elétricos, turbinas eólicas, smartphones e tecnologia militar avançada.

Segundo maior detentor de reservas de terras raras do mundo, atrás apenas da China, o Brasil agora atrai cada vez mais atenção dos Estados Unidos, da Alemanha e de outros países que buscam reduzir a dependência de Pequim.

A empresa canadense Aclara Resources lidera um dos novos empreendimentos mais promissores. Ela está desenvolvendo uma mina em Nova Roma, no estado de Goiás, com uma planta-piloto de processamento perto de Goiânia. Apoiado por investimento privado dos EUA, o projeto da Aclara coloca o Brasil no centro de uma cadeia de suprimentos global reconfigurada.

As recentes restrições à exportação de minerais essenciais pela China apenas aumentaram o interesse em fontes alternativas.

Em resposta, o Brasil está mapeando novos depósitos e explorando maneiras de extrair ETRs de rejeitos de mineração, particularmente elementos valiosos como neodímio, disprósio e térbio, usados ​​em ímãs de alto desempenho.

Métodos mais limpos, custos mais elevados

O modelo de extração brasileiro difere muito dos métodos químicos altamente poluentes da China.

A Aclara planeja escavações rasas, seguidas de transporte de argila e restauração do solo sem o uso de barragens de rejeitos, uma distinção fundamental em um país com um histórico trágico de desastres ambientais relacionados à mineração. Os custos, no entanto, ainda são um obstáculo.

A extração de ETRs no Brasil pode custar até três vezes mais do que na China, e poucas empresas no mundo possuem a tecnologia de refino necessária.

Apesar de deter mais de 20% das reservas mundiais conhecidas, cerca de 21 milhões de toneladas, o Brasil produziu apenas 80 toneladas em 2023. A China, em contrapartida, extraiu mais de 200.000.

As autoridades esperam aumentar a produção nacional na próxima década com novas parcerias público-privadas e investimentos em tecnologia.

O governo brasileiro, por meio de sua empresa de pesquisa industrial, a Embrapii, lançou uma rede nacional de inovação que reúne universidades, o Serviço Geológico Brasileiro (CPRM) e empresas privadas para fortalecer a expertise técnica do país em exploração e processamento de terras raras.

'Um centro importante'

Embora o financiamento estatal limitado possa não cobrir totalmente os custos de conclusão dos projetos de ETRs, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil continua aberto a parcerias com instituições internacionais.

"O mundo percebeu que não pode depender de um só país", disse José Gordon, diretor de desenvolvimento, comércio exterior e inovação, ao site Bloomberg Línea em 11 de junho.

Entre os projetos em andamento, há um liderado pela empresa australiana Viridis Mining & Minerals.

O primeiro ano de estudos produziu "resultados excelentes" e destacou o potencial da região como um importante polo de produção de ETRs, de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho de Poços de Caldas.

Poços de Caldas é um município do estado de Minas Gerais, no sudeste brasileiro, onde o projeto é desenvolvido.

Para se tornar um verdadeiro player global, o Brasil precisa ir além da extração de matérias-primas e construir uma cadeia de suprimentos completa internamente. O desafio está em desenvolver a força industrial necessária para processar ETRs internamente e se posicionar como um fornecedor estável e sustentável.

Para um país que busca influência econômica e geopolítica, os ETRs podem oferecer uma oportunidade rara.

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