Ciência e Tecnologia
Lançamento espacial do Peru: potencial parceria estratégica com os EUA
Construção de base espacial no deserto de Talara marca momento decisivo na história científica da América Latina.
![Foguete Vega lançado da base da Agência Espacial Europeia em Kourou, na Guiana Francesa, em fevereiro de 2015. [Jody Amiet/AFP]](/gc4/images/2024/11/14/48157-rocket-600_384.webp)
Por John Caicedo |
LIMA -- O Peru abrigará a maior base espacial da América Latina, uma iniciativa ainda em fase de planejamento que envolverá uma potencial colaboração com o Comando Espacial dos EUA.
A antes pequena base de El Pato da Força Aérea Peruana (FAP), situada na região desértica e rica em petróleo de Piura, no norte do Peru, vai transformar-se em uma importante plataforma de lançamento de foguetes orbitais e suborbitais.
O projeto ainda está em fase preliminar, sem data oficial de lançamento.
O projeto "está avançando muito rapidamente" e espera-se que o Peru possa "lançar seu primeiro veículo ao espaço" dentro de três a cinco anos, disse o comandante da FAP, general Carlos Chávez, conforme divulgado pela Radio Programas del Perú em 13 de novembro.
![Avião sobrevoa base aérea de El Pato, na região de Piura, no norte do Peru, durante exercícios militares do Grupo Aéreo nº 11, sediado em Talara. El Pato é o local proposto para a maior base espacial da América Latina. [Revista Peru Defesa&Segurança]](/gc4/images/2024/11/14/48158-pato-600_384.webp)
Segundo Chávez, foi conduzida uma extensa avaliação com a equipe dos EUA e a conclusão foi que a base aérea de El Pato, perto de Talara, é o local ideal para o porto espacial.
"A base de Talara fica a apenas quatro graus ao sul da linha do Equador, o que nos dá uma grande vantagem para estabelecer e expandir uma estação de lançamento para veículos espaciais e suborbitais", explicou ele à TV Perú.
"Temos terrenos muito próximos da linha do Equador (...) e temos as melhores condições. Nossas terras estão em altitude. Isso criou muito interesse no Comando Espacial dos Estados Unidos em nos ver como uma possível plataforma de lançamento para veículos espaciais", afirmou o general da FAP José García no início deste ano em entrevista à agência de notícias estatal peruana Andina.
No momento, a Agência Peruana para a Promoção do Investimento Privado convidou as partes interessadas a apresentar propostas para o planejamento e a execução do projeto. O governo pretende gerir a iniciativa como uma parceria público-privada para incentivar o investimento no Peru.
As estimativas de investimento inicial para modernizar a base de El Pato são de cerca de um bilhão de novos sóis peruanos (mais de US$ 270 milhões), embora os custos totais possam chegar a três vezes esse valor até o início das operações.
Motor essencial do desenvolvimento
A Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço (NASA) dos Estados Unidos propôs uma concessão para a base de operações por um período determinado, potencialmente de 20 anos, divulgou a imprensa peruana no final de outubro.
No entanto, não há confirmação oficial.
El Pato, situado nas coordenadas 4° 32' 59" S e 81° 13' 26" W em Talara, em Piura, fica cerca de 1.100 km a norte de Lima, perto da fronteira com o Equador.
Situada perto do Oceano Pacífico, dispõe de infraestruturas próximas, incluindo um aeroporto internacional e o terceiro maior porto marítimo do país, o que lhe confere uma vantagem competitiva em relação a outras potenciais localizações nos departamentos peruanos de Arequipa e Lambayeque.
A proximidade com a linha do Equador é também uma vantagem.
O lançamento de foguetes mais perto da linha do Equador é vantajoso porque a velocidade de rotação da Terra é maior neste ponto, o que proporciona um aumento da velocidade inicial e permite que os foguetes atinjam a velocidade orbital necessária de forma mais eficiente.
A base espacial será um importante motor de desenvolvimento para Piura, um dos maiores departamentos do Peru, e para o país como um todo, diz Lima.
Uma base tão próxima da linha do Equador poderá impulsionar avanços significativos nos futuros sistemas de transporte internacional, conforme relatado pela Bio Bio.
O porto espacial também serviria como um centro para voos suborbitais, reduzindo potencialmente os tempos de viagem - como de Piura a Pequim - de mais de um dia para apenas duas horas. Além disso, a base poderia desempenhar um papel no turismo espacial, oferecendo voos a partir do local no futuro.
Atualmente, há 53 estações de lançamento espacial em operação em todo o mundo, sendo apenas duas na América do Sul: Punta Indio, na Argentina, e Kourou, na Guiana Francesa. Esta última, operada pela Agência Espacial Europeia, foi local de lançamento dos foguetes Ariane e Vega.
No entanto, a base de El Pato deverá ser maior e mais avançada.
Após a conclusão dos procedimentos burocráticos e a seleção de uma empresa para supervisionar o projeto, terá início a instalação das infraestruturas essenciais em El Pato. Estas incluem plataformas de lançamento e aterrissagem, tapetes de transporte, túneis de evacuação de gases, hangares e pistas de decolagem e taxiamento, entre outras instalações.
No entanto, ainda não foi divulgado nenhum cronograma para o projeto.
Outros projetos
Enquanto os planos para a grande base ainda estão sendo preparados, o Peru trabalha com a NASA em um projeto de curto prazo: o lançamento de foguetes para pesquisa científica, previsto para 2028.
Roberto Melgar, diretor da Comissão Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Aeroespacial (Conida), que supervisiona as políticas do setor no Peru, disse à Andina em 5 de abril que uma missão da NASA visitou o Peru naquele mês para finalizar os detalhes do lançamento de foguetes.
Esses lançamentos deverão ser realizados a partir de Pucusana, um distrito nos arredores de Lima.
Além disso, no próximo ano, o Peru planeja lançar o foguete de sondagem Paulet para fins de pesquisa, com uma altitude esperada de 40 km - 30 km a mais do que seu primeiro voo, em 2021.
O interesse do Peru na pesquisa espacial cresceu significativamente após o sucesso do seu satélite Perusat 1, lançado em 2016, disse Melgar.
Segundo ele, desde então, já forneceu quase 120 mil imagens óticas, tanto métricas como submétricas, “contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico e para a segurança nacional”.