Sociedade
Colômbia interrompe rota de migração VIP para migrantes chineses que buscam evitar Estreito de Darién
Em meio a uma grave crise econômica e ao crescente autoritarismo na China, cidadãos chineses tentam fugir do regime de Pequim.
![O Ministério Público da Colômbia, em colaboração com a Polícia Nacional da Colômbia, desmantelou com sucesso a Los Andariegos, organização criminosa envolvida no tráfico ilegal de migrantes. [Ministério Público da Colômbia]](/gc4/images/2024/07/25/47179-human_traffick-600_384.webp)
Por Giselle Alzate |
BOGOTÁ — As autoridades colombianas capturaram oito supostos membros de uma organização envolvida no tráfico de pessoas que oferecia planos VIP a cidadãos chineses que planejavam entrar na América Central em sua rota rumo aos Estados Unidos.
As prisões ocorreram em três pontos dentro do departamento de Antioquia, perto da fronteira com o Panamá.
A operação foi possível graças à colaboração com o Serviço de Imigração e Aduanas dos EUA.
"A organização criminosa é responsável por 42 eventos ilícitos de tráfico de migrantes, nos quais 1.082 cidadãos estrangeiros foram transferidos clandestinamente", informou o Ministério Público colombiano em um comunicado em 18 de julho.
![Migrantes desafiam o Estreito de Darién cruzando o rio Tuquesa, perto da aldeia de Bajo Chiquito, o primeiro posto de controle de fronteira da província de Darién, no Panamá, em setembro passado. [Luis Acosta/AFP]](/gc4/images/2024/07/25/47180-human_traffick2-600_384.webp)
A organização criminosa conhecida como Los Andariegos oferecia dois planos aos migrantes. Na opção econômica, os estrangeiros eram transportados de ônibus da cidade colombiana de Ipiales (sudoeste) até a localidade de Necoclí (noroeste). Dali, eles cruzavam o perigoso Estreito de Darién a pé até o Panamá, de acordo com o comunicado.
"A outra rota, chamada VIP, era oferecida exclusivamente a cidadãos da China, que eram recolhidos em Tulcán (Equador) e levados por via terrestre até Medellín (Antioquia), onde recebiam passagens aéreas para voar até San Andrés Islas. De lá, eram embarcados para chegar aos países centro-americanos", disse o Ministério Público.
Os cidadãos chineses pagavam cerca de US$ 3.000 pela passagem preferencial, o que lhes permitia evitar o perigoso Estreito de Darién, onde muitos migrantes morreram tentando cruzar a fronteira entre a Colômbia e o Panamá.
"De acordo com o Instituto de Medicina Legal e Ciências Forenses do Panamá, mais de 60 migrantes morreram tentando cruzar a fronteira nos primeiros seis meses de 2023, embora autoridades digam que o número real provavelmente seja muito maior", disse o Conselho de Relações Exteriores dos EUA em um relatório publicado em julho.
Aumento dramático
Segundo o relatório, Cristian Rivera, acusado de ser líder da gangue, era responsável pela “coordenação dos assuntos relacionados à hospedagem e transferência de estrangeiros”.
O Ministério Público acusou os suspeitos de conspiração criminosa agravada e tráfico de migrantes.
Além disso, o suposto líder da gangue enfrenta acusações de fabricação, tráfico e posse de armas de fogo e munições.
Desde 2022, autoridades das Américas do Sul e Central relatam um aumento significativo na chegada de migrantes chineses que viajam do Equador para os Estados Unidos.
Devido ao grande fluxo de cidadãos chineses com destino aos Estados Unidos, o Equador passou, em 1º de julho, a exigir vistos para esses asiáticos que entram em seu território.
Alguns migrantes optam por cruzar o Estreito de Darién, enquanto outros, com mais recursos, evitam seus perigos.
O Estreito de Darién é controlado, do lado colombiano, por grupos armados que cobram taxas pela travessia.
Em 2020, foi relatada a passagem de três cidadãos chineses pelo Estreito de Darién. No ano seguinte, esse número subiu para 77 e, em 2022, aumentou drasticamente para 2005.
Cerca de 25.565 cidadãos chineses atravessaram a fronteira irregularmente no ano passado, de acordo com o Migração Panamá (serviço nacional de migração panamenho).
Até 31 de maio, 10.171 cidadãos chineses haviam chegado ao Panamá neste ano após cruzar o Estreito de Darién.
Negócios no TikTok
Uma reportagem da BBC de dezembro de 2022 descreve como usuários de várias redes sociais disseminam informações sobre a viagem. O TikTok se distingue pelo número de postagens úteis para migrantes.
Uma simples busca usando palavras-chave como "a rota" ou "zouxian", uma das hashtags mais usadas no Douyin (TikTok na China), revela milhares de postagens detalhando a jornada pelo Estreito de Darién.
Alguns imigrantes chineses optam por criar grupos em plataformas alternativas, como o Telegram, para fugir da censura imposta pelo Partido Comunista Chinês nas redes sociais nacionais.
Os curiosos podem encontrar facilmente informações que vão desde dicas sobre como viajar com pouca bagagem e locais para câmbio de moeda até estratégias para escapar da fiscalização da imigração.
A crescente popularidade da "zouxian" indica um grande interesse em escapar do regime de Pequim, observa Alexis Zhou, pesquisador independente especializado em migração chinesa para os Estados Unidos e o Canadá. Isso reflete o desespero de alguns desses migrantes chineses.
Desde o início da pandemia da COVID-19, obter um visto para o México se tornou difícil para o cidadão chinês comum.
"A zouxian pode muito bem ser a única maneira de eles chegarem aos Estados Unidos", disse Zhou à BBC em dezembro de 2022.
Autoridades de imigração, do Equador aos Estados Unidos, projetam um aumento contínuo no número de chineses que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos em 2024.
A tendência destaca a falsidade das declarações do regime chinês sobre a vitalidade econômica do país.