Sociedade

Costa Rica enfrenta as consequências do aumento da migração através da selva de Darién

Viagem perigosa através do estreito de Darién força os imigrantes a cenários de sobrevivência em que enfrentam doenças, fome, violência e outras situações dramáticas.

Migrantes descansam no campo de refugiados de Paso Canoas, em Puntarenas, Costa Rica. Quem tem dinheiro fica apenas algumas horas no local, e os que não têm veem seu “sonho americano” se transformar em “pesadelo”. [Ezequiel Becerra/AFP]

Migrantes descansam no campo de refugiados de Paso Canoas, em Puntarenas, Costa Rica. Quem tem dinheiro fica apenas algumas horas no local, e os que não têm veem seu “sonho americano” se transformar em “pesadelo”. [Ezequiel Becerra/AFP]

Migrantes venezuelanos esperam para embarcar em um ônibus que os levará até a fronteira com a Nicarágua, no campo de refugiados de Paso Canoas, em Puntarenas, Costa Rica. [Ezequiel Becerra/AFP]

Migrantes venezuelanos esperam para embarcar em um ônibus que os levará até a fronteira com a Nicarágua, no campo de refugiados de Paso Canoas, em Puntarenas, Costa Rica. [Ezequiel Becerra/AFP]

Menina migrante venezuelana toma banho na chuva em um abrigo improvisado em Paso Canoas, cerca de 300 km ao sul de San José. Um fluxo cada vez maior de migrantes chega todos os dias à cidade de Paso Canoas – principal passagem de fronteira entre o Panamá e a Costa Rica –, exausto após cruzar a selva de Darién a caminho dos Estados Unidos. [Ezequiel Becerra/AFP]

Menina migrante venezuelana toma banho na chuva em um abrigo improvisado em Paso Canoas, cerca de 300 km ao sul de San José. Um fluxo cada vez maior de migrantes chega todos os dias à cidade de Paso Canoas – principal passagem de fronteira entre o Panamá e a Costa Rica –, exausto após cruzar a selva de Darién a caminho dos Estados Unidos. [Ezequiel Becerra/AFP]

Família de migrantes dorme em um abrigo improvisado em Paso Canoas, cerca de 300 km ao sul de San José, na Costa Rica. [Ezequiel Becerra/AFP]

Família de migrantes dorme em um abrigo improvisado em Paso Canoas, cerca de 300 km ao sul de San José, na Costa Rica. [Ezequiel Becerra/AFP]

Família de migrantes venezuelanos dorme em um abrigo improvisado em Paso Canoas, cerca de 300 km ao sul de San José, na Costa Rica. [Ezequiel Becerra/AFP]

Família de migrantes venezuelanos dorme em um abrigo improvisado em Paso Canoas, cerca de 300 km ao sul de San José, na Costa Rica. [Ezequiel Becerra/AFP]

AFP |

PASO CANOAS, Costa Rica – Um número crescente de migrantes, muitas vezes sofrendo de sintomas como febre, vômitos e diarreia, chega todos os dias a Paso Canoas, na fronteira entre a Costa Rica e o Panamá.

Eles cruzam a selva desafiadora de Darien, enfrentando adversidades na jornada rumo aos Estados Unidos.

Famílias inteiras atravessam a pé a fronteira com o Panamá, chegando ao acampamento improvisado em um antigo campo de aviação em Paso Canoas, situado 300 km ao sul de San José. Eles chegam fisicamente esgotados da cansativa jornada agravada pelo calor intenso e pela alta umidade.

No local, embarcam em um dos 50 ônibus disponíveis, cada passageiro pagando US$ 30 para seguir em direção à fronteira com a Nicarágua.

Uma menina migrante toca a cabeça dolorida de seu pai no campo de refugiados de Paso Canoas, em Puntarenas, Costa Rica. Principal passagem fronteiriça entre o Panamá e a Costa Rica, Paso Canoas se tornou uma encruzilhada para os migrantes. [Ezequiel Becerra/AFP]
Uma menina migrante toca a cabeça dolorida de seu pai no campo de refugiados de Paso Canoas, em Puntarenas, Costa Rica. Principal passagem fronteiriça entre o Panamá e a Costa Rica, Paso Canoas se tornou uma encruzilhada para os migrantes. [Ezequiel Becerra/AFP]

Quem não tem recursos fica preso em uma área que, com a chegada das chuvas sazonais, se transforma diariamente em um terreno lamacento, enquanto espera por um traslado.

Impacto do Darién

Paso Canoas, um assentamento improvisado estabelecido pelo governo da Costa Rica em maio, é um purgatório para migrantes retidos após cruzarem a perigosa selva panamenha.

"A parte mais desafiadora de toda a minha jornada foi a selva do estreito de Darién. Foi incrivelmente difícil; enfrentamos a fome, trabalhamos duro e testemunhamos coisas que nunca imaginei que veria na vida", conta o venezuelano David Josué Díaz, de 18 anos, em entrevista à AFP.

Encontrar abrigo sob um telhado ou barraca de metal é considerado um luxo. É um refúgio contra o sol escaldante da manhã e a chuva torrencial à tarde.

A fome e as doenças digestivas e respiratórias afligem muitas pessoas. Um médico da ONG Cadena atende incansavelmente todos os dias.

“Minha barriga dói”, diz Ángel, um menino venezuelano de sete anos, à AFP, curvado sobre um pedaço de papelão no chão lamacento. Sua mãe, preocupada, espera que os remédios façam o mesmo efeito que em Samuel, que brinca ao lado dele com um boneco enquanto se recupera de febre, vômito e diarreia.

Apesar da tosse contínua, Ángel encontra forças para fazer piadas sobre sua jornada.

Outras crianças em melhores condições brincam inocentemente em um balanço, aparentemente alheias às terríveis circunstâncias que as rodeiam.

A venezuelana Esmeralda Cuica compartilhou com a AFP a sua experiência em Paso Canoas, onde permaneceu vários dias. “É um lugar muito difícil, um cenário de sobrevivência de todos contra todos”, diz a professora da educação infantil de 53 anos.

Todas as manhãs, os migrantes retidos desmontam suas tendas e limpam a área, abrindo espaço para os recém-chegados.

Aqueles que têm comida cozinham em panelas herdadas dos que vieram antes deles.

Na cidade, os adultos enfrentam longas filas no escritório da Western Union, esperando ansiosamente pelos recursos necessários para a compra das passagens que os ajudarão a deixar o lugar.

Mais de 400.000 migrantes entraram no Panamá através do Darién em 2023, um aumento acentuado em comparação com os 248.000 registrados em todo o ano passado, de acordo com dados oficiais panamenhos.

Dias depois, chegam à Costa Rica em grupos de cerca de 3.000 migrantes por dia, de acordo com a Agência de Migração do país.

Cerca de 320.110 migrantes entraram na Costa Rica em 2023, sendo a grande maioria formada por venezuelanos.

Uma “emergência nacional” está sendo declarada na Costa Rica devido ao esmagador “número de pessoas que passam pelo nosso território”, diz um decreto recente emitido pelo presidente do país, Rodrigo Chaves.

Caminho legal

Em julho, oDepartamento de Segurança Interna dos EUA lançou um novo programa com o objetivo de proporcionar uma via legal para centro-americanos e colombianos entrarem nos Estados Unidos, desestimulando, dessa forma, que potenciais migrantes embarquem em uma viagem perigosa para cruzar a fronteira sul dos EUA através de meios não autorizados.

A iniciativa possibilita que migrantes qualificados de Colômbia, El Salvador, Guatemala e Honduras viajem para os Estados Unidos por via aérea e, após o cumprimento de critérios específicos -- como ter familiares que sejam cidadãos dos EUA ou residentes legais com pedidos de visto apresentados em seu nome --, possam obter autorizações de trabalho do governo.

Autoridades usam a política de liberdade condicional para admitir uma quota mensal de até 30.000 indivíduos de Cuba, Haiti, Nicarágua e Venezuela que comprovarem apoio financeiro de norte-americanos.

Também foi implementado um sistema para processar dezenas de milhares de pedidos de asilo para pessoas que estão no México. Isso é facilitado através de umaplicativo de celular do governo chamado CBP One, permitindo que indivíduos consigam entrevistas para entrar nos Estados Unidos.

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