Sociedade
Artista colombiano de plastilina captura migração "complexa" nas Américas
Obras em miniatura retratam vividamente uma cena comum na "Loma de las Banderas", ponto importante que simboliza o início da jornada perigosa pela selva traiçoeira de Darién.
AFP |
BOGOTÁ – Uma mulher grávida, outra mulher sem vida deitada na lama, caminhantes cujos rostos refletem a dor e bandeiras desgastadas de vários países são cuidadosamente moldados por Edgar Alvarez, artista colombiano que reflete sobre o sofrimento da migração nas Américas usando plastilina.
Uma de suas obras em miniatura retrata vividamente uma cena comum na "Loma de las Banderas", um ponto importante que simboliza o início da perigosa jornada para aqueles que seguem da Colômbia ao Panamá através da selva traiçoeira de Darién.
Inspirado pelas fotografias feitas por ele próprio e pelo impacto emocional de visitar o corredor migratório, Alvarez deu forma à montanha e aos migrantes que tentam superá-la.
No cume, um homem sorridente capta o momento em uma fotografia, enquanto, ao lado dele, uma grávida visivelmente ansiosa expõe sua angústia. Perto dali, uma jovem abraça um ursinho de pelúcia, com lágrimas escorrendo pelo rosto, em meio a um grupo de indivíduos sobrecarregados pelo peso de malas.

Como pano de fundo, os tons vibrantes das bandeiras nacionais de Venezuela, Bangladesh, Afeganistão, China e várias outras nações asiáticas e latino-americanas são um lembrete comovente dos cidadãos que fogem dos seus países de origem, em razão de dificuldades econômicas ou de conflitos armados.
"[A 'loma' (colina)] parecia um cemitério de sapatos - nada além de barro e sapatos cravados na terra, botas e chinelos", recorda Alvarez, sobre sua visita ao local em setembro de 2022.
“É justamente o primeiro ponto onde as pessoas dizem: ‘Aqui me dou conta do inferno em que me meti’”, conta ele à AFP.
Com cabelos longos, barba e pulseiras multicoloridas, o artista de 49 anos enfatiza que sua arte apela à sensibilidade social e à defesa dos direitos humanos dos milhares de migrantes que cruzam a perigosa selva de Darién.
Entre janeiro e setembro deste ano, 409.000 migrantes fizeram essa árdua viagem, de acordo com dados oficiais do Panamá.
Indiferença
Alvarez batizou seu projeto de “Explico com plastilina”, inspirado em uma expressão colombiana popular e irônica que critica a indiferença.
Prateleiras com gavetas repletas de figuras de plastilina preenchem seu ateliê em Bogotá. Também há réplicas de papelão em pequena escala mostrando as rotas de migração no continente.
Várias rotas passam pela América Central e pela fronteira entre o México e os Estados Unidos, a última etapa da jornada dos migrantes. No entanto, este é o ponto onde frequentemente suas ilusões se despedaçam. Em setembro de 2023, 200.000 migrantes foram detidos pela patrulha de fronteira dos EUA, um sinistro recorde histórico.
Uma exposição recente em Bogotá, intitulada “Refugiados e Migrantes na América”, reuniu a extensa obra de Alvarez, retratando experiências em vários corredores migratórios em toda a América Latina. No entanto, sua arte nem sempre foi bem recebida.
“Tive muitos problemas quando estudei artes plásticas”, recorda. “Muitos dos meus professores questionaram minha escolha, sugerindo que eu buscasse algo que eles considerassem menos ‘infantil’”, conta.
Apesar do ceticismo, ele persistiu em seu ofício e acabou ganhando destaque nas redes sociais, ao explicar assuntos complexos de forma simples e acessível.
Atualmente, ele trabalha em um curta-metragem que apresentará suas criações inspiradas em Darién, utilizando técnicas de stop-motion, ou animação quadro a quadro.
“Se as pessoas não entendem, então, cara, você tem de explicar da maneira mais simples”, afirma. Nesse caso, com plastilina.